São Paulo – O Brasil terá um adido agrícola em Rabat, no Marrocos, a partir do final deste mês. O escolhido para a função é o engenheiro agrônomo Nilson César Castanheira Guimarães, que visitou a sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, nesta quinta-feira (06). Em entrevista à ANBA, ele contou sobre os planos de ajudar a desenvolver o potencial de comércio e de cooperação entre o Brasil e o país árabe. Guimarães também acumulará o cargo para Tunísia e Nigéria.
“Há um potencial de intensificação do fluxo comercial com o Marrocos. Temos relações diplomáticas especialmente saudáveis, mas o tamanho do fluxo, apesar de ser razoável, é bem aquém do potencial, tanto para importar quanto para exportar”, disse Guimarães. Os adidos agrícolas trabalham nas embaixadas brasileiras com a função de estreitar as relações do setor agropecuário nacional com as regiões onde atuam. Fazem uma espécie de assessoria agrícola para o Brasil nos países.
Para ocupar o cargo é preciso ser funcionário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e estar habitado a se candidatar ao processo seletivo. A vontade de Guimarães mesmo era atuar no Marrocos, para onde foi designado. Além da possibilidade de fazer um bom trabalho na área de comércio de produtos, Guimarães também percebe o potencial que há de intercâmbio de informações e de cooperação agrícola em assuntos técnicos e tecnologia.
No comércio exterior, o novo adido acredita que é preciso manter o fluxo alto de comercialização de alguns produtos, como as vendas de açúcar do Brasil aos marroquinos e de fertilizantes do Marrocos para o Brasil, mas a pauta pode ser diversificada, segundo ele, com exportações pelo Brasil de produtos como carnes bovinas e de frango, grãos, milho, derivados de soja, sementes de algodão, celulose, café solúvel e em grãos, mel, material genético bovino. Alguns destes produtos já são vendidos, mas os volumes podem aumentar.
Na outra mão, Guimarães vê possibilidades de o Brasil diversificar e intensificar a pauta de importações do Marrocos com azeite e azeitonas, pescados, frutos, hortaliças e lácteos. Ele afirma que os marroquinos têm vontade de exportar lácteos ao Brasil, mas que há entraves sanitários e o governo já está ajudando a resolver. “Temos a tarefa e o objetivo de viabilizar, é importante esse caminho de importação existir”, afirmou ele sobre os lácteos.
O adido também percebe o interesse do Marrocos pela cooperação técnica com o Brasil. “Temos a Embrapa que é um grande player mundial em pesquisa agropecuária, o Ministério da Agricultura é muito organizado na parte de inspeção e fiscalização de produtos agropecuários, temos hoje não só legislação, mas um arcabouço tecnológico muito adequado para lidar com problemas de segurança alimentar, o Brasil é hoje um país que trabalha na fronteira do conhecimento em segurança alimentar”, afirmou Guimarães.
Ele vê ainda a possibilidade de cooperação em outras áreas, como em criação de caprinos. “A criação de caprinos no Marrocos é bem desenvolvida, temos que identificar os pontos onde o Brasil pode se beneficiar e fazer esse intercâmbio”, afirmou. Na outra mão, ele vê ainda a possibilidade de cooperação em produção no semiárido, com o treinamento de pesquisadores marroquinos na área.
Ao chegar em Rabat, o adido tem planos de entrar em contato com seus análogos do governo local para começar o esforço de potencializar as relações econômicas, identificar quais as barreiras sanitárias e tarifárias no comércio e trabalhar para dirimir os problemas. Ele considera um desafio trabalhar no acordo de comércio negociado entre Mercosul e Marrocos. A meta é identificar o que está causando demora para o acordo sair e tentar viabilizá-lo com rapidez, e fazer acordos bilateriais – de tarifas ou sanitários – em áreas possíveis.
O trabalho de Guimarães será em Rabat, mas ele também atuará em outro país árabe, a Tunísia. Com os tunisianos, o profissional vê um panorama semelhante ao das relações com o Marrocos, com bastante potencial a ser explorado tanto no comércio como em cooperação.
O adido visitou a Câmara Árabe para estabelecer contato e para ter a parceria da entidade na orientação das demandas de empresas que querem exportar aos países árabes. A ideia é que a entidade transmita a ele informações sobre produtos com potencial e necessidade de fazer abertura de mercado. “O trabalho direcionado tende a surtir muito mais efeito do que agir de forma mais ampla e possa gastar energia em setores que não são muito importantes. Assim já vou direto no cerne, no que realmente é importante”, afirma.
Natural de Minas Gerais, Guimarães está há 11 anos no Mapa, onde atuou sempre na área de laboratórios oficiais de fiscalização, inspeção e controle de produtos agropecuários, dentro de temas como transgênicos, análises de segurança alimentar e sanidade dos alimentos. Com mestrado em Biotecnologia, o seu último cargo no ministério foi na coordenação de desenvolvimento e inovação laboratorial, dentro da Coordenação Geral de Laboratórios Agropecuários (CGAL). Antes do Mapa, ele trabalhou em uma multinacional.