São Paulo – Em seus quatro anos como chefe do escritório do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, o embaixador Alessandro Candeas vivenciou diversas experiências sociais, culturais e diplomáticas, entre tantas outras. São justamente estas experiências que chegam agora às livrarias, em seu mais recente livro: “Peregrinação e guerra: anotações de um diplomata na Terra Santa” (ed. Contracorrente).
Hoje cônsul-geral do Brasil em Lisboa, em Portugal, Candeas respondeu a algumas perguntas da ANBA sobre o livro e sua passagem pelo território árabe. “Realmente foi uma experiência muito impactante por ser Jerusalém, por ser Palestina, por ser a Terra Santa, por estar evidentemente em contato também com Israel e por ter vivenciado nos dois últimos anos desse meu período a Guerra de Gaza, que é sem dúvida uma experiência muito impactante”, diz ele sobre sua passagem pelo escritório. Ele recorda – e conta no livro – que havia uma expectativa de conflito desde o primeiro semestre de 2023, o que, de fato, se concretizou no fim do ano.
O conflito iniciado em outubro de 2023, avalia o diplomata, foi a experiência que mais o marcou na região em razão da tensão e da complexidade em tirar os brasileiros dali e trazê-los de volta ao Brasil. Mas não foi a única: Candeas cita os consulados itinerantes, ocasiões em que funcionários do escritório iam a Gaza duas vezes por ano para que os brasileiros ali residentes pudessem realizar trâmites consulares burocráticos. Era uma forma de contornar os bloqueios à circulação de pessoas para dentro e fora do território.
Candeas também recorda conquistas alcançadas em sua passagem pelo escritório, além da repatriação dos brasileiros. Cita o estabelecimento de um núcleo de estudos para o ensino da Língua Portuguesa, a aproximação de universidades brasileiras e palestinas, o estabelecimento de um programa de bolsas de estudo a refugiados palestinos e a aproximação cultural e empresarial, com a ratificação do acordo de livre-comércio entre Palestina e Mercosul em 2024.
O diplomata destaca a realização de missões empresariais da Palestina ao Brasil com apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, instituição que exerceu um papel “extraordinário” nestas viagens. Ele cita a parceria do então presidente da instituição, Osmar Chohfi, e do ex-secretário-geral, Tamer Mansour.
“Acredito que o livro não é apenas um registro da guerra, é um registro das relações bilaterais ou da evolução das relações bilaterais no período em que lá estive, de 2020 a 2024, e eu tenho certeza de que há um enorme potencial de crescimento adicional. Nós estamos, Brasil e Palestina, muito aquém do verdadeiro potencial de relação”, diz, citando diversos setores em que esse incremento pode ocorrer, além das relações políticas e econômicas.
“Peregrinação e guerra: anotações de um diplomata na Terra Santa” se divide em quatro partes que analisam as origens do conflito israelo-árabe-palestino, sua experiência diplomática na região, o resgate dos brasileiros em 2023 em decorrência do conflito atual e reflexões sobre humanidade e espiritualidade.
Candeas é autor de artigos e livros sobre inteligência artificial, as relações Brasil-Argentina, cultura e desenvolvimento. Doutor em Socioeconomia do Desenvolvimento pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, serviu nas embaixadas do Brasil em Bogotá, na Colômbia, e Buenos Aires, na Argentina, além de atuar na delegação brasileira da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris, na França. Estão previstas sessões de lançamento do livro entre novembro e dezembro em Natal, no Rio Grande do Norte, Recife, em Pernambuco, e Brasília.
Serviço:
“Peregrinação e guerra: anotações de um diplomata na Terra Santa”
Alessandro Candeas
Editora Contracorrente
364 páginas
R$ 80


