Giuliana Napolitano
São Paulo – O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem em São Paulo que, de forma diferente do que aconteceu em 2003, neste ano a prioridade do governo será aliar a ampliação do comércio externo do país ao crescimento da economia doméstica.
“Vamos reativar a economia via mercado interno”, declarou. Ele disse ainda que será um “prazer ver as importações crescerem na mesma velocidade das exportações, como já vem ocorrendo”. No acumulado do ano até a primeira semana de fevereiro, as vendas externas aumentaram 18% e as compras, 15%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Furlan lembrou que, no ano passado, houve ênfase quase que exclusiva às exportações. Ele explicou que essa era a estratégia para “reativar a economia num espaço de tempo mais curto”. Isso porque, acrescentou, enquanto a recuperação do mercado interno depende de uma série de fatores, como a retomada da renda dos trabalhadores e da poupança interna, o aumento das exportações em 2003 dependia apenas de “irmos aos mercados”.
Para isso, disse o ministro, “estive em mais de 35 países, algumas vezes mais de uma vez”. Os resultados, afirmou, compensaram: apenas as missões e visitas comerciais organizadas pela Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex) geraram negócios de cerca de US$ 400 milhões no ano passado e 112 mil novos postos de trabalho.
“Esses resultados não teriam sido gerados se não estivéssemos lá”, afirmou Furlan. Por isso, acrescentou, o governo continuará investindo em promoção comercial no exterior. Na avaliação do ministro, para essa promoção, as viagens internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva são fundamentais.
Furlan lembrou que Lula tem sido criticado por “visitar lugares inóspitos”, como a Namíbia ou a Líbia, mas ressaltou que as viagens têm um propósito e que estão sendo gerados negócios. Como exemplo, ele citou que as vendas de móveis para a Namíbia, que representam metade da pauta de exportações do Brasil para esse país africano, aumentaram 30% desde a viagem de Lula à África, em novembro do ano passado.
O ministro citou ainda as vendas de veículos e autopeças para a Líbia e o Egito, países que foram visitados em dezembro por Lula. “Estamos medindo os resultados”, disse, em palestra a empresários e políticos na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Durante o discurso, Furlan falou também sobre a Semana do Brasil em Dubai, maior evento de negócios do país já realizado no mundo árabe. A feira, que aconteceu de 7 a 9 de dezembro nos Emirados Árabes Unidos, foi organizada pela Apex em parceria com a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
Segundo o ministro, “todas as 82 empresas brasileiras que participaram do evento fizeram negócios”. Ele informou que, “no balcão”, isto é, no momento da feira, foram fechados contratos no valor de US$ 15 milhões. “Não é muito, mas digamos que deu para pagar as despesas”, brincou.
Para os próximos seis meses, porém, a expectativa é de que sejam gerados mais US$ 100 milhões em negócios. “Uma característica diferente desse governo é que ele não tem vergonha de falar de negócios (durante as visitas internacionais)”, afirmou. “É uma mudança importante e que vai continuar”.
“Maratona”
A Semana ocorreu paralelamente à visita de Lula aos países árabes. Embora destaque a importância das viagens presidenciais, Furlan comparou esse tipo de ação a um “espetáculo de fogos de artifício”. Ele disse que governo e empresários precisam trabalhar para “ligar os fios de maneira permanente produzindo negócios”. “O comércio exterior é uma maratona, não uma corrida de 100 metros”, comparou.
Para tornar os negócios duradouros, uma dos projetos implementados pelo governo é o de mapear a produção industrial e de serviços de cada estado brasileiro e também analisar a demanda de boa parte dos países do mundo. “Para isso, compramos um banco de dados universal que é o mapa da mina. Estamos olhando os alvos com mira de precisão”, declarou o ministro.
Furlan anunciou ainda duas “oportunidades de curto prazo” para empresários que pretendem levar seus produtos ao exterior. A primeira delas ocorre no dia 4 de maio, quando mercadorias brasileiras serão expostas numa das maiores lojas de departamento da Inglaterra, a Selfridges.
Outra acontece em 22 de maio: nessa data parte para a China uma missão do governo brasileiro, liderada por Lula. Furlan lembrou que, em 2003, as exportações do Brasil a esse países asiático cresceram 80%. “Esperamos que a China continue demandando produtos”, disse.
Política industrial e financiamentos
Em relação do mercado interno, o ministro afirmou que o governo pretende adotar “medidas microeconômicas” para favorecer a retomada do crescimento. As principais serão linhas de financiamento com as características do Modercarga também para os setores de máquinas e equipamentos, móveis e construção civil.
O Modercarga, anunciado em dezembro, é um programa de financiamento para a compra de caminhões. O objetivo, explicou Furlan, é diminuir a idade média da frota nacional, que hoje é de 18 anos. Também está em estudo, disse, a criação de uma linha de crédito para a compra de caminhões usados.
O ministro informou ainda que, até 31 de março, será anunciado o detalhamento da política industrial, que tem como prioridades os setores de bens de capital e tecnologia.

