São Paulo – Os países árabes estão entre as prioridades do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no que se refere ao mercado externo, afirmou a ministra da pasta, Tereza Cristina (foto acima), em webinar promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira na manhã desta quarta-feira (08) que teve audiência de mais de 800 pessoas.
Para a ministra, é preciso desenvolver em conjunto formas para diminuir os custos de transportes, principalmente marítimo, com os países árabes. Ela também falou sobre a abertura para novos produtos na balança comercial entre os países.
“O coronavírus vai passar e precisamos ter um entendimento maior sobre a abertura para outros produtos, temos que trabalhar com uma diversidade maior de produtos. Por parte do Brasil, temos tido todo o empenho para manter este mercado aberto, eficiente e confiável”, disse.
Depois da visita da ministra ao Egito, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes no ano passado, diversos novos mercados foram abertos nos quatro países e também no Marrocos, pontuou Tereza Cristina.
“Eu fiz uma visita muito exitosa, e com certeza podemos fazer muito mais”, disse. Ela afirmou que tinha visita programada para a Arábia Saudita, que teve de ser adiada por conta da pandemia e deve ocorrer até o fim do ano. “Mas antes disso podemos sim trabalhar e montar um planejamento estratégico mais ousado entre o Brasil e os países árabes, e gostaríamos de estreitar cada vez mais e melhorar esse comércio. Me coloco à disposição e que possamos trocar informações e sair com novas ideias e soluções para o nosso relacionamento comercial e de amizade”, declarou. A ministra se colocou à disposição após proposta feita por Rubens Hannun da realização de planejamento estratégico comum para estreitamento das relações entre o Brasil e os países árabes, o que também foi aceito por Khaled Hanafy.
Tereza Cristina disse que o Mapa tem mantido em pleno funcionamento suas atividades de inspeção e fiscalização, certificando os padrões de sanidade que continuam a ser observados para o consumo humano e animal. “Seguimos trabalhando com parceiros internacionais para cumprir nosso papel de fornecedor de alimentos de qualidade ao mundo”, afirmou.
A ministra pontuou ainda a aprovação de vários certificados internacionais para exportação de produtos a países do mundo árabe recebidos nos últimos meses, e pediu que esses países continuem trabalhando com o Brasil para facilitar a emissão de certificados. “Para que na segunda onda, passada a crise do coronavírus, a gente possa contribuir cada vez mais com o abastecimento de nossos parceiros tão importantes do mundo árabe”, disse.
O secretário-geral da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafy, também participou do webinar. Ele disse que os países precisam de uma aliança estratégica e de atividades que agreguem valor, e falou sobre a possibilidade de facilitar o acesso de pequenos produtores brasileiros ao mercado árabe, sem intermediários.
“Sabemos que o pequeno produtor do Brasil acaba não se beneficiando do aumento dos preços na safra, eles recebem só o mínimo, então o preço de venda cresce, mas o produtor recebe o mesmo. Queremos conseguir uma conexão entre eles e os mercados dos países árabes para açúcar, soja, e outros tipos de produtos, para que eles aproveitem os benefícios, assim a gente evita os intermediários, que acabam ganhando”, disse.
Hanafy também pontuou a necessidade de haver uma conexão marítima para baixar os custos de transporte, considerando que os países árabes são portas de entrada para outros mercados da África e Ásia.
Mercosul
No plano internacional, a ministra afirmou que tem se reunido por videoconferência com os ministros da agricultura dos países da América do Sul para debater a harmonização das normas e garantir a fluidez do trânsito terrestre de mercadorias e o abastecimento de alimentos na região durante a pandemia da covid-19. “Apesar do fechamento de fronteiras rodoviárias para passageiros de outros países, não há restrição a cargas agropecuárias na região”, disse.
Medidas sanitárias
A ministra afirmou que em momentos como este, a cooperação internacional é ainda mais necessária. “Agora é hora de mostrar solidariedade, agir com responsabilidade e juntar-se ao nosso objetivo comum de aumentar a segurança, a imunidade e a nutrição, melhorando o bem-estar geral das pessoas em todo o mundo”, disse. Segundo ela, o Brasil segue as normas sanitárias à risca. “Tivemos muito trabalho nesse início da pandemia, em esforço conjunto entre iniciativa privada e setor público, para fazer com que os trabalhadores das indústrias dos segmentos de serviços essenciais – e o abastecimento de alimentos está nessa categoria -, continuassem trabalhando dentro da normalidade possível com toda a segurança”, declarou.
Essa segurança, de acordo com a ministra, requer transporte coletivo de maneira adequada, plantas frigoríficas tomando todos os cuidados, fornecendo equipamentos de proteção individual, para que todos os funcionários tenham o maior grau de segurança, com vestiários e refeitórios higienizados. “O trabalho é conjunto para que nós possamos passar por isso com a maior segurança e para que nossos trabalhadores possam continuar”, disse.
Logística
O aspecto logístico da agropecuária também foi um ponto levantado pela ministra. Ela afirmou que o Mapa trabalha em conjunto com o Ministério da Infraestrutura para garantir que os caminhoneiros tenham a estrutura necessária para trabalhar com segurança e manter a distribuição. “De nada adianta estarmos produzindo se não pudermos fazer a distribuição para que os produtos estejam nas gôndolas de supermercados ou nos portos para que cheguem aos países com os quais temos cooperação comercial”, disse.
Auxílio a pequenos produtores
A ministra disse que existe uma grande preocupação quanto ao abastecimento de hortifrutigranjeiros e flores, setores que estão sendo mais impactados nesse momento, já que a produção continua, mas a demanda está deprimida pois restaurantes, bares e hotéis estão fechados. Segundo ela, serão disponibilizados R$ 500 milhões para os pequenos produtores dessas áreas.
“Para que eles possam ter seus produtos comercializados, para que o governo juntamente com municípios e estados possa fazer a distribuição desses alimentos e não tenhamos um bloqueio dessa comercialização e produção. Precisamos continuar com essas cadeias produtivas, para que em um segundo momento, não tenhamos um problema de abastecimento nos grandes centros, nos Ceasas, que continuam trabalhando na normalidade possível”, disse.
Segundo ela, os recursos chegarão via Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para pequenos produtores de hortifrutigranjeiros, flores, leite e pequenas cooperativas, principalmente de agricultura familiar.
Álcool
“A ciência é a nossa grande aliada”, afirmou a ministra, ao informar que determinou que os laboratórios de pesquisa da Embrapa também analisem os testes de coronavírus. Segundo ela, há laboratórios em 27 cidades distintas, com 108 profissionais especializados. “Se toda essa rede for ativada, estimamos que teremos mais de 76 mil análises de amostras de testes do coronavírus por dia, podendo duplicar a capacidade atual do setor de saúde de análises”, declarou.
O Mapa e outros órgãos públicos também se uniram aos produtores de açúcar e álcool, segundo a ministra, para que produzam e doem álcool para assepsia ao setor de saúde.
Webinar
O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, fez a abertura e o encerramento do webinar “Brasil e Países Árabes: Cadeia de suprimentos no setor de alimentos, perspectivas e desafios no atual cenário”. Participaram também o secretário-geral da entidade, Tamer Mansour, o CEO da BRF, Lorival Luz, o presidente da Al Islami Foods, Marwan Al Jarem, o presidente da COAMO Agroindustrial Cooperativa, Airton Galinari, e o diretor do Departamento de Acordos Internacionais do Ministério da Indústria e Comércio do Egito, Michael Gamal.
Hannun falou sobre a importância de trocar experiências e potencializar as parcerias estratégicas entre o Brasil e os árabes. “Estamos com a Câmara fisicamente fechada, mas trabalhando ainda mais do que antes. De casa, nossos funcionários estão fazendo um trabalho sensacional para que o fluxo de mercadorias não sofra nenhum tipo de entrave ou atraso. Isso tem até melhorado, temos feito um avanço nesse ponto, estamos implantando a certificação digital em diversos países, o que reduz custos e o prazo cai de sete dias para um dia, dando uma agilidade extremamente importante. E junto ao ministério da Agricultura, estamos aumentando a rigidez nos controles sanitários. Esses procedimentos reforçam a parceria e dão tranquilidade aos árabes”, disse.
Tereza Cristina fechou sua fala com um provérbio árabe que dizia: “Nunca se sinta derrotado diante dos obstáculos, a cada adversidade que se abater sobre você e a cada obstáculo, por mais difícil que se apresente, faça dele um degrau para atingir um lugar melhor, com mais visão e maturidade. A derrota não existe a não ser que você a aceite”.
Hannun convidou para o próximo webinar da Câmara Árabe, sobre logística internacional, no dia 15, próxima quarta-feira, às 09 horas. Em breve mais informações na ANBA.