Sharm El Sheikh – No último dia da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima,a COP27, no Egito, o ministro do Meio Ambiente do Brasil, Joaquim Leite, fez uma avaliação do evento, das negociações e dos compromissos do Brasil e exaltou a aliança entre os três países detentores das maiores florestas tropicais do mundo, Brasil, Congo e Indonésia, para a preservação do bioma.
“Com relação a compromissos, nós criamos a Opep das Florestas, que é um grupo de países de floresta tropical, com o Congo e a Indonésia, e todo marco legal que o Brasil desenvolveu para a floresta nativa, para monetizar a floresta nativa, vamos transferir para o Congo e a Indonésia”, disse Leite em entrevista exclusiva à ANBA, afirmando que esse foi o anúncio mais importante vindo do Brasil na conferência. O ministro chefiou a delegação oficial brasileira na COP27.
A aliança tem como objetivos a valorização da biodiversidade e promoção da remuneração justa pelos serviços ecossistêmicos prestados pelas três nações, principalmente por meio de créditos de carbono de floresta nativa. O acordo foi firmado em Bali, na Indonésia, esta semana, durante o G20.
Outro anúncio foi a assinatura de um documento que propõe a criação do mercado global de créditos de metano. Ano passado, na COP26, o Brasil aderiu ao acordo de metano, e, em março, lançou o Programa Metano Zero. A carta assinada nesta sexta-feira (18) no pavilhão do Brasil foi entregue à União Europeia e será enviada aos Estados Unidos, às presidências da COP26 e COP27 e à Coalizão Clima e Ar Limpo (CCAC).
“Fomos um dos primeiros países a aderir ao acordo do metano, que já chegou a 150 países. Estamos jogando nossa política do Metano Zero (até 2030) para dentro dessa proposta, para criar um mercado exclusivo para metano, baseado em resíduos orgânicos. Dentro desse programa do Metano Zero tem a possibilidade de criar um crédito de metano, um programa exclusivo para metano, e você acelera o processo de tratamento de lixo”, contou o ministro.
Negociações
Joaquim Leite afirmou que as negociações da COP27 estão andando a passos lentos em temas como o mercado de carbono, e para ele, algumas pautas, como financiamento climático, de adaptação e de perdas e danos, não devem se resolver este ano.
“Em relação às negociações do Artigo 6, estão andando muito pouco, porque é bastante complexo, mesmo, era esperado”, disse ele, sobre o mercado de crédito de carbono e toda sua estrutura. “Mas a gente já começou conversas bilaterais tanto com a Arábia Saudita quanto com o Japão para acelerar esse processo de forma bilateral”, disse. Leite criticou a condução das negociações na COP27 do Egito.
“Com relação ao financiamento climático como um todo, como os últimos anos, foi mais um não cumprimento ou descumprimento do acordo por parte do G7, dos países desenvolvidos e industrializados que não estão financiando de forma robusta e eficiente todos os países que estão sofrendo perdas e danos. [Financiamento para] perdas e danos não vai sair, parece, está travado. Além de [financiamento para] adaptação e mitigação, que já não estava acontecendo no volume necessário, eles estão jogando para o ano que vem definir quando vai ser e como vai ser o processo de perdas e danos, infelizmente. Se jogar para o ano que vem não vai adiantar nada, tinha que sair esse ano, infelizmente até agora não tivemos notícia que vai se reverter esse quadro”, lamentou o ministro.
Para o ministro, o Pacto de Glasgow foi uma grande vitória para o Brasil, com a criação do mercado de créditos de carbono. “E ali vinha já a pressão de financiamento e nessa, na verdade não foi [a COP] de implementação, foi de jogar para frente de novo o grande desafio que é esse volume de financiamento climático. Essa nova economia não vai surgir somente com reuniões na conferência do clima. Temos que continuar forçando, pressionando os países que mais poluíram e que mais poluem hoje a pagar essa conta e você tem Europa, Estados Unidos, Índia, Japão, China, a lista dos sete maiores emissores teria que contribuir para essa nova economia e parece que vai continuar a mesma situação”, concluiu.