São Paulo – Em janeiro deste ano, o Brasil perdeu um dos seus grandes mestres da cultura árabe e defensor das causas do Oriente. Egípcio radicado no Brasil há 40 anos, Mohamed Ezz El-Din Mostafa Habib construiu uma história acadêmica de destaque na biologia e no meio ambiente, e teve atuação social marcante em prol da cultura e das causas árabes. Nesta quinta-feira (06), sua família recebeu o título de Professor Emérito Post Mortem em seu nome da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O filho de Mohamed, Nader Habib afirmou que o título não foi conquista única de seu pai, mas de toda a sociedade. Na foto acima, Nader Habib (esq.) recebe o diploma do reitor Antonio Meirelles.
Mohamed Habib era docente aposentado do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e faleceu em 26 de janeiro deste ano em decorrência de um câncer. A concessão do título havia sido aprovada pelo Conselho Universitário (Consu) em 29 de março. Amigos da universidade acompanharam o evento, que contou com uma apresentação especial de instrumentistas da Orquestra Sinfônica da Unicamp, uma homenagem à Habib por seu apreço pela música. Na ocasião, os familiares de Mohamed foram representados por seu filho, Nader Habib.
Em seu discurso, Nader agradeceu as homenagens prestadas por professores e funcionários que conviveram com Mohamed ao longo de sua carreira na Unicamp e lembrou lições deixadas pelo pai, como o senso de compromisso com a coletividade. “Um país forte evolui em seu conjunto. Se não enxergarmos que fracassos individuais também são fracassos de nossa sociedade, não tem sentido celebrarmos as conquistas, porque nenhum dos dois ocorre individualmente. Tudo ocorre em sociedade”, disse Nader à reportagem da Unicamp.
O filho de Mohamed ressaltou que, mesmo com a tristeza provocada pelas saudades do pai, cultivar a alegria de lembrar os bons momentos vividos é uma forma de valorizar o legado deixado por ele. “Usarmos a expressão ‘eu perdi alguém’ é algo negativo. Para aliviar nosso coração, devemos pensar que não perdemos ninguém. As pessoas que amamos simplesmente retornaram à sua origem. Em breve, nós também retornaremos, isso é um fato inegável de nossa existência”, declarou.
A mesa diretiva da cerimônia foi composta pelo reitor Antonio Meirelles, pela coordenadora-geral Maria Luiza Moretti, pelo diretor do IB, Hernandes Faustino de Carvalho, e por Alvaro Penteado Crosta, professor do Instituto de Geociências (IG) e padrinho do homenageado.
Crosta lembrou com carinho a convivência com Habib, que o chamava de “irmão mais novo”, e celebrou seu empenho no fortalecimento das ações de extensão universitária da Unicamp e o quanto seu trabalho era pautado pelo bem da comunidade. “Toda sua carreira acadêmica, desde o Egito, teve como pano de fundo princípios fundamentais que expressam sua preocupação com a saúde, o bem-estar dos seres humanos, o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável de nossa sociedade”, disse Crosta. O diretor do IB também compartilhou suas experiências com Mohamed, a quem atribui aprendizados importantes. “Tenho muito orgulho de, hoje, ocupar a função que ele exerceu por dois mandatos. Sua titulação é motivo de orgulho para o Instituto de Biologia”, comentou.
O reitor e a coordenadora-geral da Unicamp salientaram a humanidade com que Mohamed desenvolvia suas ações na Universidade. Maria Luiza Moretti lembrou as ocasiões em que convidou o professor para falar em eventos que reuniam estrangeiros vindos de países africanos de língua portuguesa, por sua habilidade em se conectar com os demais. “O que me encantava no professor Mohamed é a forma como ele elevava o ser humano e o quanto isso se traduzia em seus atos e trabalhos”, refletiu Moretti.
“O grande exemplo que Mohamed nos deixa é a disposição de construir laços com a sociedade, que o sistema de ensino universitário de São Paulo tem papel essencial no desenvolvimento e que isso pode ser feito com inclusão, com respeito aos direitos das pessoas e ao meio ambiente”, apontou o reitor Meirelles. Para ele, o exemplo de Habib é fundamental para que as universidades desempenhem seu papel de forma plena. “Que possamos usar todos esses exemplos para garantir a continuidade de nossa missão e a possibilidade de termos novos Mohameds em nossa universidade”, declarou.
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