Giuliana Napolitano
São Paulo – A Gulf Air, empresa aérea dos Emirados Árabes Unidos, informou hoje que passará a ter uma mulher trabalhando como piloto; em Omã, o governo acaba de nomear uma ministra pela primeira vez; e a primeira-dama de Bahrein afirmou, numa rara entrevista à imprensa local, que é preciso dar "oportunidades iguais" às mulheres árabes. As reportagens foram publicadas nesta segunda-feira (8) por jornais árabes em razão do Dia Internacional da Mulher.
Para a primeira-dama de Bahrein, Sabika al-Khalifa, dificultar a participação das mulheres na economia, na política e na vida social é se "opor ao progresso". "É inadmissível", disse ao jornal Asharq al-Awsat, depois de participar de um seminário em Beirute, organizado pela primeira-dama libanesa, Andree Lahoud, com o tema "Mulheres e Conflitos Armados".
"Temos de nos adaptar às demandas de nossa época e entender nossas diferenças", declarou. Também participaram do evento outras primeiras-damas árabes, entre elas, Asmaa Assad, da Síria, e Suzanne Mubarak, do Egito, além da rainha Rania, da Jordânia.
Ainda nesta segunda-feira, ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes, o 6º Woibex – Fórum de Negócios para Mulheres. De acordo com informações do jornal Gulf News, a conferência reúne 150 profissionais e empresárias para discutir a participação das mulheres na economia e no mercado de trabalho dos países árabes.
"Vida saudável"
Estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece que houve "progressos" na situação feminina na região, mas conclui que os governos árabes ainda precisam fazer "esforços" para atingir a igualdade entre os gêneros. Os avanços, segundo a ONU, vêm ocorrendo principalmente nas áreas de saúde e educação.
"As mulheres do mundo árabe levam uma vida saudável", diz a pesquisa. De acordo com o levantamento, a expectativa de vida feminina na região subiu três anos entre 1990 e 2003 e chegou a 73,8 anos para as mulheres e 70,1 anos para os homens. Também aumentou a taxa de nascimentos assistidos por médicos, chegando a 99% na maioria dos países, "nível bem próximo ao de países desenvolvidos", diz a ONU.
Ao mesmo tempo, espera-se que a taxa de natalidade caia para 2,9 filhos por mulher até 2005, ante o número de 3,3 filhos em 1995, como resultado da "melhor educação feminina". O analfabetismo entre as mulheres ainda é superior ao dos homens, mas vem caindo e espera-se que a diferença entre os gêneros também diminua. Segundo a ONU, a taxa média de analfabetismo nos países árabes estava em 40% em 2000. Entre as mulheres, a porcentagem era de 53%. Para 2015, a meta é chegar a 37% para as mulheres, ante uma média de 39%.
O organismo ressalta, no entanto, que os progressos em educação e saúde "ainda não foram propriamente representados no mercado de trabalho". De acordo com o estudo, em 2000, a participação feminina na força de trabalho era de apenas 29%. No Brasil, para se ter uma idéia, está em 42,9%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda assim, os jornais locais destacaram, na edição de hoje, alguns avanços que vêm ocorrendo nesse segmento. A Gulf Air, por exemplo, anunciou que a francesa Caroline Le Cann irá pilotar um dos Boeing 767 da companhia. "Espero que esse anúncio incentive outras mulheres da região a considerar o setor aéreo como uma oportunidade de carreira. Temos ótimas unidades de treinamento e diversos programas, incluindo um sediado em Bahrein", disse ao jornal Khaleej Times o presidente da Gulf Air, James Hogan.
É o que espera a saudita Hanadi Hindi, de 25 anos. "Meu sonho é pilotar um avião da Saudi Arabian Airlines", disse também ao Khaleej Times. "Mas se isso não acontecer sei que uma empresa privada me contratará", completou, lembrando que na Arábia Saudita as mulheres não podem dirigir.
Hanadi obteve uma licença para pilotos privados na Academia de Aviação do Oriente Médio, na Jordânia. Agora, pretende tirar uma licença para vôos comerciais. Ela disse que é citada como a única piloto saudita no Museu da Aviação em Riad, capital do país.
Política
Outra área em que a atuação das mulheres ainda é pequena no mundo árabe é a política. De acordo com a pesquisa da ONU, em 2003, a participação feminina nos parlamentos da região era de apenas 5%. Nos Ministérios, de 3%, "e a maioria das mulheres ocupa postos de níveis gerenciais baixo ou médio", diz o estudo.
Por isso, mereceu destaque da imprensa local o fato de o governo de Omã ter nomeado a primeira-ministra do país. Rawya bint Saud al-Bosaeidi ocupará o Ministério da Educação. As Nações Unidas ressaltam, entretanto, que a maioria dos países árabes já garante direito a voto às mulheres.

