São Paulo – Nascido na região sul da cidade de São Paulo, Gabriel Sayegh, de 65 anos, se orgulha de sua origem árabe. A cultura milenar, que vem dos dois lados da família e faz parte de sua vida desde o início, se tornou parte essencial da rotina em 1999.
“Desde pequeno eu frequentava o Esporte Clube Sírio e participava das atividades culturais do local, e aos 39 anos recebi o convite para me tornar o diretor cultural do espaço. Não pensei duas vezes e aceitei o convite”, conta Gabriel.

“É muito importante manter a cultura árabe viva porque nós somos os nossos antepassados. Nós viemos de um lugar que tinha sua própria cultura, língua e gastronomia, e muitas pessoas não conhecem. Por isso, é tão importante preservar a cultura e fazer com que outras pessoas conheçam as nossas origens.”
Pelas escolhas profissionais, Gabriel nunca estaria próximo da cultura árabe, mas sua vontade de manter a tradição viva falou mais alto. “Eu sempre gostei de matemática, por isso me formei em engenharia civil e atuei por muitos anos na área. Mas sempre tive o desejo de fomentar a cultura dos meus pais e avôs, por esse motivo até hoje atuo como diretor cultural do clube”, conta o engenheiro.
Com a agenda cheia o mês todo, o clube disponibiliza diferentes tipos de aulas gratuitas, entre elas de língua árabe, dança do ventre e de música, onde são usados instrumentos típicos da Síria. E pelo menos uma vez no mês, ocorre uma palestra com um porta-voz importante da comunidade.
“Já tivemos a presença de escritores, políticos, empresários e até a presidente do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe). Também organizamos sessões para exibir filmes árabes por aqui”, conta o diretor cultural do Esporte Clube Sírio.
Apesar do esforço, o descendente de sírios relata que encontra dificuldade em disseminar a cultura árabe entre os mais jovens. “A cultura já não faz mais tanto parte das gerações mais novas quanto fazia parte da minha juventude. Hoje existem muitas coisas que os distraem.”
Além de atuar no Esporte Clube Sírio, Gabriel também integra outros dois espaços: o Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras (CONSCRE) da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e o ICArabe.
No CONSCRE, ele chegou em 2019, foi presidente por duas gestões, e hoje é vice-presidente. O paulistano faz parte desde o começo do ICArabe, fundado no início dos anos 2000. Ele já ocupou vários cargos no instituto, inclusive de vice-presidente, e atualmente trabalha como diretor financeiro.
“Em todos esses locais meu trabalho é feito de forma voluntária para ajudar minha comunidade. Na Alesp, onde o espaço foi criado para juntar descendentes de árabes que vivem em São Paulo, temos vínculos políticos e tentamos de alguma forma destacar a cultura do meu país. Já no Instituto, a ação é maior. Temos encontros culturais em diferentes momentos do ano. O próximo será a mostra árabe de cinema, que acontecerá em agosto.”
Muito orgulhoso de sua jornada como disseminador da cultura árabe, Gabriel fica feliz em poder divulgar a riqueza do país de seus antepassados. “Por muitos anos a cultura árabe foi relegada e ignorada pelo ocidente, por causa disso as pessoas ainda não conhecem muito sobre o assunto.”
Cultura desde sempre
A mãe dele, Ivete Abdelmalack Sayegh, chegou ao Brasil aos 18 anos com os pais e os irmãos. O pai de Gabriel, Jorge Gabriel Sayegh, é filho de sírios e vivia em São Paulo, onde conheceu Ivete. A família aumentou quando a irmã de Gabriel nasceu, e se completou anos depois quando ele e seu irmão gêmeo chegaram.

“Meus pais falavam árabe quando queriam falar algo para gente não entender, já que minha avó materna só falava árabe. Ela não nunca chegou a aprender a falar português. Por isso, eu acabava falando árabe para conversar com ela”, relembra Gabriel.
Além da língua, a comida árabe fez e ainda faz parte da vida de Gabriel e seus filhos. “Tenho uma filha do primeiro casamento e dois filhos gêmeos do segundo casamento que amam a comida da minha mãe, a tradição do alimento árabe está na rotina deles. Mas já a cultura é mais difícil”, conta Gabriel.
“Minha primeira esposa, que é minha prima, ainda repassou para minha filha, entretanto essas gerações mais jovens estão se distanciando de suas origens. Por esse motivo que bato na tecla do quanto é importante você conhecer suas origens. É só dessa forma que você consegue se entender melhor como ser humano e respeitar os demais.”
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Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA


