São Paulo – O diplomata Hermano Telles Ribeiro se prepara para assumir a embaixada do Brasil em Beirute, no Líbano, e chegará no país com alguns propósitos definidos, entre eles trabalhar para que o acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Líbano aconteça.
Ribeiro tem expectativa de estar no Líbano no mês de abril, depois que todos os trâmites em Brasília forem cumpridos. Nesta sexta-feira (14) ele visitou a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista, onde foi recebido pelo vice-presidente de Relações Exteriores da entidade, Osmar Chohfi, e pelo secretário-geral, Tamer Mansour.
Em entrevista à ANBA, Ribeiro contou que o acordo é um dos seus objetivos. O tratado vem sendo tema de conversa entre os governos dos dois países há vários anos e, inclusive, foi abordado em uma reunião do vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, com o presidente libanês, Michel Aoun, em maio do ano passado, em Beirute.
O novo embaixador acredita nas possibilidades do tratado. Ele admite que o Líbano é um mercado modesto para o Brasil em função do tamanho da população. “Mas, por outro lado, qualquer corrente comercial, qualquer exportação que você aumente, você aumenta o emprego no Brasil”, disse.
Ribeiro está pensando também na geração de trabalho no Líbano. “A diferença de escala é tão grande que nós temos que oferecer um tratamento diferenciado, mais favorável às exportações libanesas também, porque emprego é mais estabilidade, mais estabilidade no país”, disse sobre a disparidade de tamanho dos mercados e produção.
O Líbano enfrenta um momento econômico difícil, com um novo primeiro-ministro, Hassan Diab, ainda em processo de aceitação pela população e protestos nas ruas. “A sinalização política desse acordo é muito importante porque representará, caso concluído, um voto de confiança no governo”, afirma. “Nós queremos muito que um país irmão assegure sua governabilidade, para que possa sair de uma crise sem precedentes”, diz.
Outro objetivo de Ribeiro é dar atenção ao setor consular da embaixada brasileira no Líbano. Ele lembra que a população de brasileiros no Líbano é uma das maiores na região, com 17 mil a 18 mil pessoas. “É uma curva que sobe e precisamos estar prontos para atender essa comunidade”, destaca.
A ideia do diplomata é fortalecer os laços da embaixada com o Conselho de Cidadãos Brasileiros local, tendo como foco atuar em prol da comunidade e, aliado a empreendedores, fazer projetos voltados para ela. O embaixador conta que já teve informações sobre como estão os brasileiros na situação atual do Líbano e que a principal preocupação deles, atualmente, é a economia, as perspectivas de emprego.
Outra área para a qual o embaixador quer dar atenção é a de vistos, já que muitos sírios pedem, via Beirute, vistos humanitários para se mudarem para o Brasil. O Líbano tem 1,5 milhão de refugiados, dos quais um milhão de sírios e 500 mil palestinos. “Afeta a economia do país”, diz, sem deixar de reconhecer a situação difícil na qual se encontram esses refugiados.
O diplomata também tem planos para as áreas cultural e educacional da embaixada, dando continuidade ao que já é feito e colocando outros projetos em pé, como o Programa Leitorado para ensino de português aos libaneses. A embaixada do Brasil em Beirute mantém o Centro Cultural Brasil-Líbano, com forte atuação e elogiado por Ribeiro.
“Quero continuar o trabalho que o Paulo Cordeiro (de Andrade Pinto), meu amigo, meu colega de turma, estava fazendo tão bem”, diz. Cordeiro foi embaixador do Brasil no Líbano e morreu em um acidente de carro no ano passado, com sua esposa, Vera Lúcia Ribeiro Estrela de Andrade Pinto.
Uma das vontades do embaixador é conversar com os diferentes grupos políticos e religiosos do Líbano para aprender sobre o momento do país e falar da experiência brasileira. Ribeiro lembra que o Brasil está entre os países que mais contribuíram com as Forças de Paz das Nações Unidas. O Brasil comanda a força naval da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) desde 2011, mas encerrará a tarefa no final deste ano.
O embaixador afirma que recebeu a notícia sobre assumir a embaixada do Líbano com “enorme entusiasmo”. Ele conta que sempre acompanhou o mundo árabe, mas até hoje, entre os países da região, só esteve no Egito, nunca foi ao Líbano. “É uma espécie de coroamento da minha carreira poder conhecer um mundo novo”, afirma.
Para ocupar a função no Líbano, Ribeiro deixa o posto de embaixador representante do Brasil junto a cinco organismos internacionais. Formado em Direito, ele ocupou cargos em Brasília e no exterior, como ministro-conselheiro nas embaixadas do Brasil no Japão e em Paris, e cônsul-geral do Brasil em Atlanta, entre outros. Ribeiro foi secretário de planejamento diplomático do ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.