Dubai – O ajuste das metas climáticas, a redução do desmatamento e a promessa de zerá-lo até 2030, o plano de transformação ecológica, entre outras ações voltadas ao meio ambiente, foram temas dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira (01) na abertura e na primeira sessão do segmento de Alto Nível para Chefes de Estado e Governo da COP28, em Dubai. Acima, Lula com os líderes presentes na COP28.
Ele afirmou que as metas climáticas do Brasil hoje são mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos, e que o plano de transformação ecológica, lançado nesta sexta-feira pelos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, irá promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia. Lula falou ainda sobre os grupos de trabalho com os países amazônicos e com outros países detentores de florestas tropicais.
“O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis. É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis. Temos de fazê-lo de forma urgente e justa”, enfatizou.
Lula quer trabalhar de forma construtiva com todos os países para pavimentar o caminho entre a COP28 e a COP30, que será sediada na Amazônia, em Belém do Pará, em 2025.
“Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade”, declarou o líder brasileiro, que disse estarmos “diante do que talvez seja o maior desafio já enfrentado pela humanidade”.
O caminho desta COP28 até a COP30, no Brasil, vai ditar o futuro, segundo o presidente. Nesta, será feito o primeiro balanço global do Acordo de Paris. Na COP29, será definido um novo objetivo quantificável de financiamento.
“E em Belém, formularemos nossas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)”, disse. O Brasil ajustou sua NDC e se comprometeu a reduzir 48% das emissões até 2025 e 53% até 2030, além de atingir neutralidade climática até 2050, segundo Lula. “Nossa NDC é mais ambiciosa do que a de vários países que poluem a atmosfera desde a revolução industrial no século 19”, disse.
O compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 foi reafirmado pelo presidente. “Já conseguimos reduzi-lo em quase 50% nos 10 primeiros meses deste ano, o que evitou a emissão de 250 milhões de toneladas de carbono na atmosfera”, disse.
Para Lula, a emergência climática já é uma realidade no Brasil. “A Amazônia está atravessando, neste momento, uma seca inédita. O nível dos rios é o mais baixo em mais de 120 anos. Nunca imaginei que veria isso no lugar onde estão os maiores reservatórios de água doce do mundo”, declarou.
Mas mesmo que nenhuma árvore seja derrubada a partir de hoje, segundo o presidente, a Amazônia poderá atingir seu ponto de não retorno se outros países não fizerem sua parte. “O desmatamento em todo mundo só responde por 10% das emissões globais. O aumento da temperatura global poderá desencadear um processo irreversível de savanização da Amazônia. Os setores de energia, indústria e transporte emitem muitos gases do efeito estufa. Temos que lidar com todas essas fontes”, disse.
Lula apresentou a Missão 1.5 do Brasil. “Uma missão coletiva que vai nos manter na trilha do um grau e meio. Nos dois anos até a COP30, será necessário redobrar os esforços para implementar as NDCs que assumimos. E, em Belém, precisamos anunciar NDCs mais ousadas e garantir os meios de implementação necessários para concretizá-las”, falou.
Transformação Ecológica
O Plano de Transformação Ecológica foi lançado pelos ministros Fernando Haddad e Marina Silva na tarde desta sexta-feira (01) na área Global Climate Action da Expo City, palco da COP28. Segundo Haddad, o plano oferece “um modelo ambicioso, porém realista, para a reinvenção do Brasil”.
Serão quase cem iniciativas lançadas até a COP30, em 2025, e muitas já estão em implementação, informou o ministro. “Alguns exemplos são a criação de um mercado de carbono bem regulado, a emissão de títulos soberanos sustentáveis, a definição de uma taxonomia nacional focada na sustentabilidade e a revisão do nosso Fundo Clima”, disse.
Segundo Haddad, essas iniciativas visam criar as condições para uma nova onda de investimentos, que terá como principal objetivo o adensamento tecnológico da indústria, a qualificação da força de trabalho e a modernização da ciência e tecnologia do Brasil.
O ministro informou que nos últimos dias, o Congresso aprovou projetos de lei sobre o hidrogênio verde e a geração de energia eólica offshore, “dois setores chave da transição energética nos quais o Brasil detém um potencial enorme”.
Estudos da iniciativa privada indicam que a transformação ecológica poderia gerar de 7,5 a 10 milhões de empregos e oportunidades de geração de renda, segundo Haddad. Os empregos criados seriam em todos os setores, mas principalmente em bioeconomia, agricultura e infraestrutura.
Mas para capturar essa oportunidade, os mesmos estudos estimam que o Brasil precisa de investimentos adicionais da ordem de US$ 130 bilhões a US$ 160 bilhões por ano nos próximos dez anos, principalmente em infraestrutura para adaptação, energia, indústria e mobilidade.
Editais
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, que integra a comitiva brasileira na COP28, lançou nesta sexta-feira (01) projetos de financiamento focados na transição energética no valor de R$ 21 bilhões.
Os investimentos serão em áreas voltadas ao desenvolvimento da economia sustentável brasileira. “São cinco editais, todos focados no debate da transição energética. Nós não temos como enfrentar o aquecimento global, a mudança climática, sem ciência e sem tecnologia”, declarou.
Os cinco editais fazem parte do programa Mais Inovação Brasil, uma iniciativa da nova política industrial do País que é resultado de ação conjunta do ministério com a pasta do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).