São Paulo – O diplomata Márcio Fagundes do Nascimento assume como embaixador do Brasil em Amã, na Jordânia, no dia 06 de junho deste ano, ciente de que terá como missão cuidar das relações do Brasil com um dos seus importantes parceiros no Oriente Médio. Em entrevista à reportagem da ANBA nesta terça-feira (21), Nascimento contou que o posto em Amã é muito disputado dentro do Itamaraty, já que a Jordânia é um interlocutor respeitado e privilegiado do Brasil, além de uma referência para o País em todos os assuntos do Oriente Médio. Na foto acima, Nascimento (esq.) ao lado do presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Osmar Chohfi.
“O Brasil ouve a Jordânia, o Brasil busca a opinião da Jordânia sobre todas as questões atinentes ao Oriente Médio”, disse Nascimento. De acordo com o embaixador, no eixo político do Itamaraty, os países da África e do Oriente Médio são muito valorizados e Amã é uma referência para a atração da diplomacia brasileira. O embaixador relata que havia uma vontade pessoal de ir para a capital jordaniana e que entre os países pelos quais podia optar, a Jordânia foi a sua escolha.
Nascimento deixa o cargo de Diretor do Departamento de Europa no Ministério das Relações Exteriores do Brasil para assumir a função. O diplomata afirma que vai trabalhar sob três eixos na Jordânia, com a missão de fortalecê-los e expandi-los. Um deles é o político parlamentar, que inclui as reuniões bilaterais e as visitas de altas autoridades, além do intercâmbio entre parlamentares, no qual contará com o Grupo Parlamentar Brasil-Países Árabes.
Um segundo eixo é o de defesa e inteligência. “Há uma cooperação muito densa já entre os setores de inteligência do governo da Jordânia e o setor correspondente do governo brasileiro; inteligência e defesa, já que a Jordânia é um centro importante exatamente porque é um país referência geopolítica em todo o Levante”, afirma. Brasil e Jordânia integram o Processo Aqaba, lançado na cidade jordaniana com esse nome para fortalecer a cooperação internacional contra o extremismo violento e o terrorismo.
O outro pilar no qual o embaixador pretende trabalhar para fortalecer as relações do Brasil com a Jordânia é o comercial. Os dois países tiveram no ano passado uma corrente de comércio de cerca de US$ 580 milhões, dos quais US$ 400 milhões foram exportações brasileiras e US$ 181,4 milhões vendas jordanianas ao Brasil. Os brasileiros forneceram principalmente carne de frango, milho e café. A Jordânia forneceu especialmente fertilizantes (tais como fosfato), confecções e aparelhos cirúrgicos.
Na área comercial, o embaixador promete olhar para as tratativas do acordo de livre comércio entre a Jordânia e o Mercosul, que foram interrompidas em 2014. “Mas como toda negociação em conjunto, ela precisa ter os benefícios equilibrados, não apenas para o Brasil, mas para todos os parceiros, o que nem sempre é fácil atingir quando se trata de uma negociação envolvendo um bloco, como é o caso do Mercosul”, afirma. O embaixador citou o acordo do Mercosul com o Egito, país vizinho da Jordânia, como algo que pode ser replicado, guardadas as especificidades jordanianas. Ele vê ainda possibilidade de ampliar a relação Brasil-Jordânia em ciência e tecnologia e no turismo.
O embaixador também acredita em uma solução em breve para o embargo da Jordânia à carne bovina brasileira. O bloqueio foi feito em função da identificação de um caso atípico do mal da vaca louca no Norte do Brasil. “A reação de qualquer governo tem que ser vista com muita seriedade e com muito respeito”, afirmou para a ANBA. Nascimento falou que o Brasil faz muito bem, com suas autoridades sanitárias, o trabalho de esclarecimento. “Com o passar do tempo e com os esclarecimentos devidos, essas situações se dissolvem, elas se resolvem, não se transformaram e não vão se transformar nunca numa questão ou dificuldade política”, diz.
Se aproximar da realidade do comércio entre o Brasil com a Jordânia foi motivo da visita que o novo embaixador fez nesta terça-feira à Câmara de Comércio Árabe Brasileira, onde falou com a reportagem da ANBA. Além do presidente da entidade, o receberam o CEO e secretário-geral, Tamer Mansour, a diretora de Relações Institucionais, Fernanda Baltazar, o vice-presidente de Relações Internacionais, Mohamad Orra Mourad, e o conselheiro Mohamad Abdouni, com os quais conversou sobre as relações comerciais Brasil-Jordânia. A Jordânia foi o primeiro país a usar o Easy Trade, sistema da Câmara Árabe de digitalização do comércio exterior.
Márcio Fagundes do Nascimento
Com quase 34 anos de carreira diplomática, além da chefia do Departamento de Europa, onde ficou por três anos, Nascimento ocupou outras importantes posições pelo Ministério das Relações Exteriores. Ele foi diretor do Departamento de México, Canadá, América Central e Caribe no Itamaraty, serviu na missão do Brasil junto à Organização das Nações Unidas, serviu na missão do Brasil na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e foi ministro-conselheiro na embaixada do Brasil em Montevidéu, no Uruguai, entre outros postos.
Nascimento diz se sentir afortunado com a nova missão na Jordânia. “No campo profissional, eu não poderia ir para um lugar mais desafiador. No campo pessoal, a escolha foi influenciada pelo interesse de ter, a essa altura da carreira, um contraponto existencial, um contraponto cultural, ser submetido a valores, a referências que não são da minha rotina, que não foram, infelizmente, da minha rotina”, afirma o novo embaixador em Amã.