São Paulo – “É preciso lembrar que o mundo árabe vai além de suas fronteiras”, disse o secretário-geral da Federação das Câmaras Egípcias, Alaa Eldin Esmat Ezz, e moderador do painel “Integração Econômica para a Competitividade e Investimentos” do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes. “Temos acordos de livre comércio e acesso a mais de 3 bilhões de consumidores na nossa região. Da mesma forma, o Brasil também pode ser uma porta de entrada aos mercados das Américas. É um cenário em que todos saem ganhando.”
A fala foi reforçada pela reitora da Faculdade de Transporte Internacional e Logística da Academia Árabe de Ciência, Tecnologia e Transporte Marítimo (AASTMT), Sara Hassan Kamal Elgazzar (foto acima). Segundo ela, quatro aspectos podem promover ainda mais o comércio entre as duas regiões, que registraram um aumento histórico de US$ 7 bilhões em 2021, alcançando US$ 24 bilhões. “Já podemos dizer que houve melhorias notáveis”, afirmou a reitora. “Agora é o momento de focar mais em alianças estratégicas do que em comércio direto.”
Para que isso aconteça, quatro pilares devem ser considerados: tecnologia, logística, acordos bilaterais e certificação halal. No foco em tecnologia, a decana da AASTMT e PhD em supply chain cita a iniciativa da Câmara Árabe de usar a tecnologia de blockchain para trocar informações e documentos, além de um laboratório de inovação para promover iniciativas de startups.
Em relação à logística, Elgazzar cita a criação de um hub em países árabes, dando como exemplo a Zona Econômica do Canal de Suez, no Egito. “Podemos ter atividades de valor agregado, uma plataforma comercial para produtos manufaturados e para o setor farmacêutico, além de centros de logística para alimentos nos Emirados Árabes”, disse a reitora. “Também podemos ter bancos de dados incluindo diferentes serviços e equipamentos disponíveis, bem como estabelecer intercâmbio de commodities entre os países árabes e o Brasil.”
O terceiro aspecto destacado por Elgazzar está relacionado ao comércio bilateral e à assinatura de mais parcerias semelhantes ao acordo de livre comércio Mercosul-Egito. Por último, ela destacou a qualificação de empresas brasileiras para que conheçam os procedimentos para obter a certificação halal, especialmente para produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentos. “Com esses quatro pilares, além de todas as iniciativas que já são realizadas pela Câmara Árabe, podemos mudar de acordos mais tradicionais para uma aliança mais estratégica”, afirmou.
Tais alianças também passam pela diplomacia econômica e pela atuação do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos no Ministério das Relações Exteriores. Segundo o embaixador Alex Giacomelli da Silva, que está à frente da direção deste departamento, um dos objetivos da instituição é unir esforços com outras agências governamentais e o setor privado para promover o comércio e os investimentos em ambas as vias. “A Câmara Árabe é uma das mais ativas do Brasil”, disse. “Temos muito a fazer juntos.”
De acordo com o diretor, para que essa missão seja atendida de forma mais produtiva, o Ministério deve estar atualizado com as formas mais avançadas de promoção do comércio e de investimentos. “Temos que trabalhar o máximo possível com empresas, governos e comunidades digitais, como já acontece no Brasil com fintechs, agritechs e healthtechs”, disse. “Acredito que o laboratório de fomento a startups da Câmara Árabe e o Easy Trade, sistema de blockchain da plataforma Ellos, são exemplos do que pode ser feito em parceria.”
O embaixador também mostrou como uma das principais vantagens deste departamento do Ministério das Relações Exteriores é a sua rede de 120 escritórios de comércio e promoção de investimentos em embaixadas e consulados. “Essa rede auxilia a identificação de novas oportunidades em diferentes setores. Quando consideramos os acordos econômicos e comerciais, essa diversificação é muito importante. Existem setores com muito potencial de serem explorados”, disse Alex Giacomelli da Silva, mais uma vez citando a indústria farmacêutica.
A CEO LatAm do First Abu Dhabi Bank, Angela Martins, também participou do painel e tem um papel ativo no investimento do comércio entre o Brasil e os países árabes, mais especificamente entre o Egito e os seis países membros do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) — Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar, Omã e Bahrein. “Somos o maior banco dos Emirados Árabes”, conta a executiva. “Desde o início da nossa história, em 2013, nosso objetivo é facilitar os investimentos nesses países.”
Como Angela explicou, esse apoio pode acontecer via negócios diretos com grandes corporações, financiamentos de bancos parceiros com classificação duplo A que apoiam pequenas e médias empresas, ou consultorias sobre as melhores formas de atuar no Brasil e os setores com menos riscos envolvidos.
Ao final do encontro, o moderador do painel e secretário-geral da Federação das Câmaras Egípcias reforçou que a integração econômica entre o Brasil e os países árabes precisa acontecer imediatamente, para que as empresas aumentem a competitividade. “Tudo o que foi apresentado aqui é um exemplo do que precisa ser feito de forma rápida e eficaz”, concluiu.
O Fórum Econômico Brasil & Países Árabes é realizado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira em parceria com a União das Câmaras Árabes e apoio da Liga dos Estados Árabes, e patrocínio da Travel Plus, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Fambras Halal, Embraer, Parque Tecnológico Itaipu, Pantanal Trading, Embratur, Khalifa Industrial Zone Abu Dhabi (Kizad), Cdial Halal, Modern Living, BRF, Egyzone/AM Development, Antika/Openet BV, First Abu Dhabi Bank, Egyptian Financial & Industrial Co. (EFIC), Suez Company for Fertilizers Production (SCFP), Cooperativa Agropecuária de Boa Esperança (Capebe), Prima Foods e Afrinvest.
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