São Paulo – Sozinho e sem saber nenhuma palavra em português. Foi assim que Alaa Kaseem chegou ao Brasil em 2013. Nascido sírio, com ascendência palestina e libanesa, ele chegou a viver no Líbano por alguns anos junto com a família, mas foi depois de desembarcar em solo brasileiro que se sentiu em casa e conseguiu colocar de pé seus planos. Alaa virou empreendedor e hoje conta com duas sorveterias árabes da marca Al Kaseem Gelato na cidade de São Paulo. Elas foram fundadas junto com a esposa Luciana Tucci.
“Sempre procurei um lugar que me acolhesse, me desse cidadania e deixasse eu abrir um negócio, e eu só consegui tudo isso quando cheguei ao Brasil. Antes era tratado como um refugiado, agora sou tratado como um cidadão, posso ter propriedades no meu nome, me sinto um brasileiro”, disse Alaa para a ANBA.
Irmão do meio de cinco mulheres, o árabe de 34 anos decidiu abrir uma sorveteria no Brasil depois de conhecer Luciana. “Ela já trabalhava com sorvete quando nos conhecemos. Começamos a conversar e eu contei que sabia fazer sorvete árabe. Fiz alguns testes de produção onde ela trabalhava e na sequência comecei a vender o produto para alguns restaurantes árabes”, disse o sírio.
Com a influência de Luciana, que tem ascendência italiana, o sorvete árabe recebeu um toque do gelato, famoso sorvete italiano, e em 2019, ele começou a ser vendido em uma loja física. A primeira unidade da Al Kaseem Gelato foi fundada no bairro de Moema, região sul da cidade de São Paulo.
Já o casamento com Luciana, Alaa conta que acabou acontecendo de forma orgânica. “A gente trabalhou juntos por alguns anos, nos dávamos bem, começamos a namorar e depois nos casamos.”
Muito diferente do sorvete vendido no Brasil, o sorvete árabe precisou de divulgação para que fizesse sucesso. “Divulgamos a nossa sorveteria por um mês e no segundo mês já tinha fila de gente para comprar os sorvetes. Hoje temos muitos clientes, que compram faça chuva ou faça sol, entre eles tanto árabes quanto brasileiros.”
Alaa conta o porquê do seu sorvete fazer tanto sucesso. “Nosso principal diferencial é que fazemos um produto natural, não usamos matérias-primas com química no desenvolvimento do sorvete. Por isso, é comum nossos consumidores contarem que o nosso sorvete não pesa na barriga, diferentemente do que acontece com produtos industrializados.”
Sem adição de gorduras, corantes ou saborizantes artificiais, assim são feitos os sorvetes árabes do Alaa. Entre os sabores mais vendidos estão nata com água-de-rosa e flor-de-laranjeira, pistache, café com cardamomo, tâmara e damasco com castanha-de-caju e baunilha.
Com o crescimento do negócio, uma segunda unidade da sorveteria foi criada este ano no bairro dos Jardins, também localizado na região sul da capital paulista. A experiência com a criação dos sorvetes aconteceu ainda durante o primeiro emprego que Alaa teve na Síria, em uma casa de doces.
“Eu estava em busca de um trabalho quando cheguei nesse local. Comecei a trabalhar lavando louça, mas como o espaço era muito grande, acabei chegando na área que fazia sorvete. Muito curioso em aprender coisas novas, um dia pedi para que me ensinassem. Fui tentando e aprendendo até que estava fazendo sorvete árabe”, relembra Alaa.
Adaptação ao Brasil
Mesmo com experiência com culinária árabe, quando chegou ao Brasil, como não entendia a língua, Alaa inicialmente trabalhou vendendo água e café na Rua 25 de Março, um dos centros comerciais mais importantes da capital paulista.
“No começo foi difícil, eu não entendia nada de português. Depois de um tempo, as coisas foram mudando. Consegui trabalhar em alguns restaurantes árabes, onde fui aprendendo português, e conheci mais da cidade. Com a língua aprendida e bem localizado, passei a me sentir melhor e pertencente a essa terra”, relembra o árabe.
Foi em um desses restaurantes que Alaa conheceu sua futura esposa. “O lugar que ela trabalhava, uma gelateria, era cliente do dono do restaurante onde eu trabalhava. Fomos conversando sobre sorvete até que tive a ideia de produzir sorvete árabe.”
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Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA