Giuliana Napolitano
São Paulo – A combinação entre a retração do mercado interno e o aumento da demanda internacional, puxado pelo boom da economia chinesa, favoreceu as exportações da indústria siderúrgica brasileira. Dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) mostram que, em valor, as vendas externas do produto aumentaram cerca de 35% no ano passado, para US$ 3,9 bilhões. Em volume, a alta foi um pouco menor, mas ainda assim comemorada por empresários do setor: ficou em 11%, para 13 milhões de toneladas.
Se esses resultados foram considerados positivos pela indústria, os negócios com o Oriente Médio saltaram aos olhos. O volume comercializado é pequeno – ainda mais se comparado ao que é transacionado com países da Ásia e América do Norte, os maiores importadores -, mas o crescimento ficou bem acima da média nacional. No ano passado, as exportações de aço do Brasil para o Oriente Médio subiram 309% em volume e chegaram a 143 mil toneladas, de acordo com o IBS. Em valor, a expansão foi de 202%, para US$ 70 milhões.
O vice-presidente executivo do instituto, Marcopolo de Mello Lopes, atribuiu o crescimento à "tendência global de aumento das exportações siderúrgicas brasileiras". Ele ressaltou, no entanto, que "faz parte da política do setor diversificar mercados, até por uma questão de segurança". "Exportamos para mais de 40 países", acrescentou.
Projetos bilionários e Iraque
Uma das causas desse aumento de vendas para o Oriente Médio são os projetos bilionários de construção civil em andamento na região. Só em Dubai, principal pólo econômico dos Emirados Árabes Unidos, estão sendo construídos o Dubailand, maior complexo de turismo, lazer e entretenimento do mundo árabe, que promete ser a Disneylândia local, e o Palm Island, arquipélago artificial que abrigará mais de 2 mil casas e 50 hotéis, além de shopping centers e cinemas.
Com isso, o consumo de aço no Oriente Médio entre 2000 e 2002 cresceu mais do que a média mundial: 11%, para cerca de 20 milhões de toneladas, de acordo com informações do International Iron & Steel Industry (IISI). No mesmo período, o consumo global aumentou 8%, para 819 milhões de toneladas, e a taxa só foi alcançada graças à pressão do mercado chinês.
A China ampliou em 50% a utilização de produtos siderúrgicos e hoje é o país que mais consome aço no mundo: 211 milhões de toneladas, um quarto da produção global.
Isso sem contar o Iraque. Analistas consultados pelo jornal árabe Gulf News afirmaram que as atividades de construção no país ainda não ganharam força, mas acreditam que isso deva ocorrer nos próximos meses. "Com certeza, nós, assim como todo o mundo, temos expectativa de voltar a participar desse mercado. O potencial aberto com a reconstrução é muito grande", afirmou Lopes, do IBS.
No Oriente Médio, o principal mercado para o aço brasileiro é a Arábia Saudita, que comprou 53 mil toneladas do país no ano passado, um terço do que foi vendido à região. Em segundo lugar, vêm os Emirados Árabes, que importaram 34 mil toneladas. O Brasil também vende produtos siderúrgicos a países árabes do Norte da África, como Marrocos (50 mil toneladas), Argélia (45 mil toneladas) e Egito (20 mil toneladas).

