São Paulo – A Palestina é produtora e exportadora de medicamentos. Além de atender mercados internacionais com seus produtos, o país tem nessa indústria espaço para investidores estrangeiros. O presidente da União Farmacêutica Palestina, Rami Qutub (foto acima), falou sobre o assunto no 1º Seminário de Negócios Brasil-Palestina – Parcerias e Oportunidades nos Setores de Alimentação e Farmacêutico, que ocorreu nesta quarta-feira (23) de forma virtual e reuniu cerca de 400 pessoas do Brasil e da Palestina.
Os palestinos exportam medicamentos para 22 países da Europa, África, Oriente Médio e Ásia [ex-repúblicas soviéticas]. Qutub contou que apenas uma empresa palestina vende para a América Latina e enfatizou que a União Farmacêutica está “batendo à porta” da região para a entrada de produtos palestinos.
Além disso, ele falou de áreas específicas da indústria farmacêutica palestina que precisam de investimentos e podem receber empresas estrangeiras. “Há oportunidades de investimento enormes, por exemplo, nos medicamentos contra o câncer. Nós não temos nenhuma empresa palestina com a tecnologia necessária para fabricar esses fármacos”, contou Qutub.
A Palestina também importa insumos para medicamentos. “Outra área que podemos desenvolver é a de matérias-primas. Hoje, importamos do Leste Asiático e eu sei que no Brasil e na América Latina podemos obter esses insumos, muito necessários para a indústria palestina. Enfrentamos esse problema de falta de matéria-prima e queremos oferecer o melhor medicamento para a população palestina”, concluiu Qutub.
O diretor-executivo da Eurofarma, Walker Lahmann, também participou do evento. Segundo ele, o mercado farmacêutico brasileiro é de cerca de US$ 20 bilhões, há por volta de 200 indústrias farmacêuticas que produzem ou comercializam medicamentos no Brasil e as empresas nacionais têm uma produção relevante. Ele destacou que há fabricação de medicamentos originais e genéricos, com um total de mais de seis mil medicamentos vendidos no País hoje, em várias áreas.
“É um mercado que vem crescendo entre 10% e 15% ao ano e, além da produção de medicamentos, temos também inovação no Brasil. Entre as inovações, temos o desenvolvimento de matérias-primas, como o senhor Qutub mencionou que poderia ser algo importante. Não é uma produção muito grande, mas temos e pode ser uma fonte de interlocução com a Palestina”.
Outra área que Lahmann demonstrou interesse foi a de medicamentos oncológicos. “Com relação aos investimentos, talvez a área de oncológicos possa ser interessante, uma vez que não existe essa produção na Palestina. São classes de medicamentos que vão aumentando sua venda com o envelhecimento da população, então pode ser interessante o investimento para a produção desse tipo de medicamento”, disse.
A Eurofarma é uma empresa brasileira e está presente em 20 países da América Latina, Lahmann destacou. “Ou seja, começamos a fazer investimentos na América Latina, pela proximidade geográfica, pela similaridade linguística”, disse, enfatizando que está aberto a investir na Palestina.
“Queremos entender como são as questões regulatórias na Palestina porque elas podem ser limitantes para qualquer importação ou exportação de medicamentos. Sem dúvida, temos interesse em investir, importar e exportar medicamentos à Palestina, estabelecer esse fluxo comercial. Estamos de portas abertas e me coloco à disposição para começar essa interlocução”, disse.
Alimentos
O presidente do Sindicato da Indústria de Alimentos da Palestina, Bassam Abu Ghalyuon, informou que o país árabe exporta para 70 países no mundo e tem potencial para exportar para todos os países, de acordo com a necessidade do consumidor internacional. Ele quer estreitar a cooperação com o Brasil no setor de alimentos.
“Queremos intercâmbio na área cientifica e tecnológica entre Brasil e Palestina, e que estudantes palestinos possam adquirir experiência em instituições brasileiras. Queremos estreitar a relação entre as câmaras de comércio para facilitar esse intercâmbio”, disse.
Ele também pediu a abertura do mercado brasileiro para produtos palestinos, principalmente tâmaras, azeitonas e plantas medicinais. “Vários produtos podem ser oferecidos ao consumidor brasileiro. Queremos facilitar a exportação de produtos produzidos na Faixa de Gaza para fortalecer cada vez mais a economia palestina”, disse. Ele afirmou que qualquer investimento na Palestina é bem-vindo e que o país está pronto para cooperação.
A presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliva (Oliva), Rita Bassi, disse que o mercado brasileiro tem espaço para o azeite de oliva da Palestina. “A importação de azeite de oliva no Brasil não é muito burocrática, temos regras junto ao Ministério da Agricultura, há especificações, mas existe espaço para a Palestina trazer esses azeites para o Brasil”, disse. Bassi contou que cerca de 52% da população brasileira utiliza o azeite de oliva em sua culinária. “Nós estamos à disposição para as indústrias que precisarem de informações e apoio”, disse aos palestinos.
O analista econômico da Seção de Economia e Desenvolvimento da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Ubaldo Cardinali, também participou do encontro. Ele contou que o Ceagesp recebe 110 toneladas de alimentos do mundo árabe por ano, o que é pouco perto do potencial desse mercado e do total comercializado pelo Ceagesp (1,6 milhão de toneladas de frutas, em média, por ano). Os principais alimentos árabes comercializados no Ceagesp são tâmaras, uvas passas, damascos e ameixas secas.
Panorama
O presidente do conselho da Federação das Indústrias da Palestina, Bassam Alwalweel, enfatizou que a Palestina quer fortalecer e estreitar as relações econômicas com o Brasil. “Temos 16 federações de indústrias na Palestina, de alimentos, ouro, medicamentos, entre outros setores, e temos capacidade e potencialidade para exportar ao Brasil, sabemos que é um país distante, mas no coração estamos muito próximos”, disse. Alwalweel quer também investimento de indústrias brasileiras na Palestina, principalmente na agroindústria.
O membro do conselho do Centro de Comércio da Palestina (PalTrade) e chefe comercial do escritório da Al-Jebrini Dairy & Food Industry Company, Zyad Al-Jibrine, considera a exportação um passo importante para fortalecer a economia palestina. “Estamos prontos para construir parcerias com o Brasil. Gostaríamos de obter incentivos para o comércio bilateral e gostaríamos de ver as empresas palestinas no comércio internacional”, disse.
O presidente da Federação das Câmaras Palestinas de Comércio, Indústria e Agricultura, Omar Hashem, disse querer encontrar horizontes para investimentos mútuos, apesar das circunstâncias atuais impostas pela pandemia. “Queremos incentivar as importações de países amigos, e não pela ocupação israelense, queremos independência de Israel e importação direta do mercado brasileiro”, disse. Também participou o diretor da Câmara de Comércio e Indústria de Hebrom, Tareq Tamimi, que falou sobre o intercâmbio comercial com o Brasil.
O presidente do Fórum de Empresários Palestinos, Amer Osaily, contou que o fórum representa empresários palestinos em seus interesses e quer construir relações com investidores locais e internacionais. “Queremos diálogo e troca de experiências, quero que tenhamos negócios diretos sem interferência israelense, espero envolver a América Latina nesse projeto, temos grande potencialidade, podemos construir parcerias entre o setor privado da Palestina e do Brasil, podemos eliminar os obstáculos para relações mais efetivas entre nossos países”, disse.
O evento virtual foi realizado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira em parceria com o Ministério da Economia da Palestina, a Embaixada da Palestina no Brasil e o Escritório de Representação do Brasil em Ramallah. Um dos moderadores do seminário, o secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, falou que após a pandemia poderão ser realizadas missões empresariais para a Palestina e enfatizou a importância de o acordo de livre comércio Mercosul-Palestina entrar em vigor. Moderaram o evento virtual com Mansour a diretora de Novos Negócios da Câmara Árabe, Daniella Leite, e a diretora de Marketing e Conteúdo da instituição, Silvana Gomes. O seminário teve a presença de autoridades do Brasil e da Palestina (leia outra reportagem abaixo).
Leia outra reportagem sobre o webinar:
Palestina quer atrair investimento brasileiro
Assista ao seminário completo: