São Paulo – Durante dez dias, o médico brasileiro Drauzio Varella acompanhou o trabalho da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) em dois países árabes. A viagem resultou no documentário “Drauzio em campo: Líbano e Jordânia“, que está disponível em três capítulos desde quarta-feira (26) no canal da nova produtora de vídeos do Universo Online (UOL), a MOV. Entre janeiro e fevereiro deste ano, a equipe conheceu o trabalho da organização no Vale do Bekaa e em Beirute, no Líbano, e em Amã, na Jordânia. Varella é conhecido por abordar temas sociais e de saúde no Brasil.
O MSF existe desde 1971, criado por médicos e jornalistas franceses. A concepção do vídeo foi da produtora Uzumaki, que gerencia as redes sociais de Drauzio e desde 2017 tem proximidade com o MSF, quando realizou uma série de entrevistas com médicos da organização. “O grande motivador para todo mundo é alertar para a questão dos refugiados. É um tema muito atual em diversos países no mundo, inclusive no Brasil, com os venezuelanos. Nossa intenção foi focar a atenção não no MSF, nem no Drauzio, que estava lá para contar a história, mas o principal objetivo foi estruturar a narrativa em torno dos refugiados”, explicou Newman Costa, diretor de audiovisual da Uzumaki.
O roteiro da viagem passou pelo no campo de refugiados de Abu Farris, na região libanesa do vale do Bekaa, que acolhe cerca de 280 famílias. A equipe passou também pelas localidades de Majdal Anjar e Arsal, e visitou um hospital do MSF em Amã, na Jordânia, especializado em cirurgias reconstrutivas para vítimas de conflitos armados.
O primeiro local de filmagem foi o Líbano, onde houve a primeira atuação em conflitos armados dos Médicos Sem Fronteiras, em 1976. Devido ao conflito Sírio, iniciado em 2011, os diversos bombardeios aéreos e ataques terrestres à população civil provocaram a fuga de milhares de famílias para o Líbano. O país tem cerca de 4,5 milhões de habitantes e abriga pelo menos 1,5 milhão de refugiados sírios.
“É o país com maior população de refugiados per capita do mundo. É um país que, apesar de não ser rico, ter renda média, apesar de seus problemas, vem ao longo dos anos acolhendo, recebendo esses refugiados, diferentemente de outros países que têm política de negar acesso”, declarou o coordenador de Relações com a Imprensa do MSF, Paulo Braga, que acompanhou a viagem e auxiliou no contato com os profissionais locais.
Braga explica que o enorme contingente de refugiados no país cria inúmeros desafios para o sistema de saúde local. O resultado é a necessidade de o MSF no Líbano fazer atendimentos além dos de emergência, incluindo tratamentos de doenças não transmissíveis como hipertensão e diabetes. São pacientes assim que Drauzio conhece em um dos vídeos da série.
Outro tema acompanhado pelo médico brasileiro é o da saúde materna e infantil. São 13 os locais de atendimento no Líbano, entre hospitais e centros de saúde. Só em 2018, a organização realizou 5 mil partos normais, 50 mil consultas pediátricas, 95 mil consultas para doenças não transmissíveis e distribuiu 46 mil doses de vacinas. O total foi de 231 mil consultas no Líbano no ano.
A série brasileira mostra o trabalho dos promotores de saúde da organização que também vão aos campos para acompanhar pacientes e dar orientação de higiene e de saúde sexual e reprodutiva.
Já no caminho pela Jordânia, o médico brasileiro conheceu um hospital que existe desde 2006 e foi criado pelo MSF para prestar atendimento a feridos de guerra. “Ali se trabalha com cirurgias reconstrutivas, quem atende são cirurgiãos ortopédicos, cirurgias plásticas, e se faz trabalho com as próteses que o vídeo mostra. Como a própria diretora explica, a gente tem recebido bastante gente da síria, Iêmen e Iraque”, afirmou Braga.
Para a equipe brasileira, um dos desafios foi desenvolver o trabalho sem uma pré-produção, conhecendo cada entrevistado na hora, rompendo barreiras culturais com o auxílio dos profissionais do MSF. “Eu tenho aqui no Brasil muitos amigos libaneses, mas antes da viagem me dei conta de que pouco conhecia sobre o país”, declarou Drauzio, no primeiro vídeo da série. “A gente absorve algumas coisas como gastronomia, mas de cultura, pouco sabíamos. Precisamos chegar e tirar estereótipos do nosso olhar. Por exemplo, expectativa sobre ter conflito ou não nos locais que visitamos. Choque cultural aconteceu um pouquinho, mas fomos bem acolhidos”, contou Costa, o diretor da série, à ANBA.
Todos os serviços oferecidos nos projetos de MSF são gratuitos. O documentário foi viabilizado graças a parceira com o UOL, onde o conteúdo foi lançado com exclusividade. A equipe da produtora espera lançar novos conteúdos do gênero. “’Drauzio em campo’ abre precedente para fazer material dele estar em campo em outros lugares. Não sabemos o destino, mas a temática vai permear a figura do Drauzio médico e que aborda questões sociais”, concluiu Costa.