Giuliana Napolitano
São Paulo – "Em pouco tempo, boa parte dos países do Oriente Médio estará voando com aeronaves da Embraer". A previsão foi feita pelo presidente da presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Paulo Sérgio Atallah.
Paulo Atallah fez a afirmação durante entrevista à TV Bloomberg, hoje, ao explicar que o comércio do Brasil com os países árabes está entrando no que chamou de terceira fase – a de exportação de aviões para a região.
Segundo o presidente da CCAB, a primeira fase foi a da venda de produtos básicos, alimentícios, principalmente frangos. "E, mesmo nessa etapa, já evoluímos. Agora estamos exportando pratos prontos para os países árabes", salientou.
O "segundo degrau", disse Atallah, vem sendo o embarque de automóveis para a região. A indústria automobilística brasileira, que já teve grande presença no mercado árabe nos anos 80, volta a fechar negócios no Oriente Médio. É o caso da Volkswagen do Brasil.
Entre 1984 e 1991, a montadora vendeu 162 mil Passats para o Iraque, num negócio de US$ 1 bilhão. Calcula-se que, hoje, cerca de 80 mil ainda estejam rodando nas ruas do país. Neste ano, a empresa embarcou para a Líbia um lote de 1.311 unidades da station-wagon Parati, num contrato de US$ 7 milhões.
Outra montadora que está negociando com os países árabes é General Motors Brasil. Até o final do ano, a empresa irá exportar para a região 1.000 unidades do Corsa Sedan, versões 1.4 e 1.8.
Aviões menores
"E agora estamos chegando ao estágio dos aviões", afirmou Paulo Atallah. Segundo ele, as companhias aéreas locais vêm mudando o perfil de suas frotas para aeronaves menores, já que as distâncias entre os países são pequenas.
Com isso, o mercado de aviação de pequeno e médio porte no Oriente Médio está em crescimento. Estimativas locais apontam para uma expansão anual de cerca de 20%, e uma das razões dessa alta é aumento do turismo de negócios. A região começa a sediar grandes eventos internacionais, como a reunião anual do FMI e do Banco Mundial que ocorreu na semana passada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. "É preciso ficar atento a esse mercado", sugere Atallah.
Na avaliação do executivo, também existem oportunidades para os países árabes no Brasil, especialmente na área petroquímica. "Os árabes podem ajudar a indústria local, porque têm bastante conhecimento nesse setor", diz.
"Processo interminável"
Apesar da diversificação da pauta de produtos vendidos, Paulo Atallah lembra que a exportação brasileira para os países árabes ainda é tímida. "Representa 1% de tudo o que é importado pela região", afirma.
Os negócios, porém, vêm aumentando. No ano passado, por exemplo, as vendas somaram US$ 2,6 bilhões, volume 16% maior do que o registrado em 2001 e 74% superior ao de 2000. Estudo feito pela CCAB mostra que as exportações podem saltar mais 170% e chegar a US$ 7 bilhões em quatro anos.
"A situação nunca esteve tão favorável", avalia Atallah. "O produto brasileiro ganhou muito em qualidade, competitividade, logística, embalagem, enfim, melhorou bastante. Temos um produto competitivo quase no mundo inteiro". Ele ressaltou, no entanto, que a "melhoria de qualidade é um processo interminável". "A cada dia é uma nova batalha. Quem parar, perdeu".
Para o executivo, o Brasil tem condições de fechar "grandes contratos" e de aumentar "tremendamente" as exportações para os países árabes se trabalhar para isso. Ele lembrou o acordo de US$ 60 bilhões assinado no início de setembro entre a Arábia Saudita e a Rússia. "Mas houve um grande trabalho para isso, toda uma negociação", afirmou.
Participação indireta no Iraque
Paulo Atallah acredita também que o Brasil pode participar da reconstrução do Iraque, mas de forma indireta. "Não tenho expectativa de que iremos fechar grandes contratos no Iraque, pelo menos a curto prazo. Mas existem outras formas de participar", declarou.
Segundo o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, empresários brasileiros vão participar, no final de novembro, da Big 5, a maior feira de construção civil dos países árabes, que acontecerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
"Nossa idéia é suprir futuros contratos no Iraque com produtos da indústria de construção brasileira", disse Atallah. "E isso vale também para outros setores. Talvez o Brasil não fique com os primeiros contratos no Iraque. Mas, estando presente na região, poderemos ser convidados a fazer os novos contratos que venham a surgir numa fase mais adiantada".
Paulo Atallah informou ainda que o Brasil já está exportando frango para o Iraque. "O comprador é o exército norte-americano, mas, de toda forma, são vendas que estão sendo feitas ao país".
Sem quebra de contrato
O executivo acrescentou que, apesar da instabilidade política que marca alguns países árabes, os contratos de negócios não costumam ser desrespeitados. "Todas as vendas feitas à região passam pela Câmara. E nosso histórico recente de casos de problemas de pagamento ou coisas do tipo é muito pequeno, talvez seja um dos menores do mundo", afirma.
"Além disso, o risco político, quando acontece, é tão anunciado pela mídia que todos já sabem o que podem acontecer. Resta aproveitar as oportunidades de negócios que aparecem", concluiu.

