Dubai – Veganos e consumidores que optam por produtos saudáveis terão cada vez mais opções se depender do que boa parte das marcas de alimentos estão apresentando na Gulfood deste ano. O termo ‘plant-based’ deixou de ser exceção para tomar grande número de estandes da maior feira de alimentos do Oriente Médio, a Gulfood.
Os alimentos à base de plantas têm vindo aliados a outras estratégias de sustentabilidade. A marca de sorvetes 100% naturais, House of Pops, que o diga. Fundada nos Emirados, além de levar leite de coco na formulação, a empresa entrega produtos livres de glúten ou açúcar refinado, veganos, e com embalagens compostáveis. “Eu vim da Costa Rica, onde as paletas são os sorvetes típicos. E pensei em trazer algo que fosse mais refrescante para cá, porque tudo que eu encontrava era mais pesado e cremoso e, no clima de Dubai faz sentido ter produtos mais saudáveis e com frutas”, revelou Marcela Sancho (foto acima), cofundadora da marca, em entrevista à ANBA.
A empresa existe desde 2018 e hoje tem mais de 17 pontos de venda. A marca já tem presença, inclusive, em escolas de Dubai. “Participamos de uma campanha educativa para mostrar às crianças como é a sustentabilidade e isso, ao mesmo tempo, com um produto que também é saudável, à base de frutas”, pontuou Sancho. Entre os diversos sabores da marca há, ainda, espaço para o açaí brasileiro, outro destaque da Gulfood neste ano.
Nada de vacas
O apelo saudável dos produtos da marca dos Emirados coincide com um dos pilares de uma empresa brasileira que está em Dubai em busca de expansão. A NoMoo produz queijos veganos desde 2015 e tem não veganos como 88% de seus clientes. “São pessoas com intolerância à lactose. Recebo muitos feedbacks sobre como o produto ajudou a tornar mais ‘inclusiva’ a experiência dessas pessoas”, disse o CEO, Marcelo Doin.
Doin, também fundador da NoMoo, estudou gastronomia nos Estados Unidos. Após ouvir de um professor do curso de laticínios que seria impossível criar um queijo vegano com as mesmas características do item comum, decidiu ele próprio desenvolver o produto. “Aprendi gastronomia molecular, que virou minha paixão. E minha esposa, Nathalia Pires, tem intolerância à lactose, e eu na época era vegano. E só encontrávamos queijos muito ruins em Nova Iorque. E eu falava que não era possível que, com técnicas, eu não conseguiria fazer um queijo vegano maneiro, raiz”, lembrou o chef e empresário.
Através de estudos, o brasileiro desenvolveu processos com o leite da castanha-de-caju. “A castanha tem açúcares, carboidratos. Com o processo eu consigo fazer a quebra disso em moléculas pequenas que se assemelham à lactose”, explicou Doin. Assim, o casal desenvolveu 24 tipos de queijo e levou a marca para o Brasil. A NoMoo está se planejando agora para lançar oito novos produtos e chegar a prateleiras do Oriente Médio.
Aterrissando no Oriente Médio
A companhia já exporta para Estados Unidos e América Latina e, para abrir mercado nos países árabes, o casal participa da Gulfood e o que viu, os animou. “Estamos tirando o selo halal, que é fundamental nesse meio. Fiquei positivamente encantado por Dubai”, afirmou ele, que busca parcerias de distribuição para o mercado árabe e a Ásia.
Além da distribuição de produtos fabricados no Brasil, o brasileiro prevê avançar para, em um segundo momento, produzir no Golfo. “Leva-se de 30 a 40 dias para o produto chegar a Dubai. Se fizermos um ‘soft landing’ legal, talvez produzindo em uma indústria daqui, através de private label, pode ser interessante. Dubai tem acordos tributários que também podem facilitar exportação para Ásia e União Europeia”, pontuou Doin.
O empresário aposta na inserção da NoMoo em redes onde já tem contato, como o Carrefour, mas também vê oportunidades em pontos menores. “Visitei também outros mercados em Dubai. Vi mercadinhos de bairro com opções veganas. É um público de alto nível. É normal que no mercado do bairro também tenham que ter produtos altamente sofisticados”, disse ele.
Da linha que já trabalha, o fundador quer abrir mercado para produtos como a muçarela, o requeijão e o cream cheese. Já o iogurte deve ficar para quando a marca tiver se estabelecido no país árabe. A companhia está, ainda, aberta a novos investimentos. “Estamos iniciando a nossa segunda rodada de captação para a expansão. Estamos super dispostos a conversar com fundos árabes e asiáticos”, concluiu Doin.
Carnes de plantas
E para quem procura fazer sua própria carne à base de plantas, a Food Specialities Limited (FSL), empresa de ingredientes alimentícios, lançou durante a Gulfood uma mistura pronta de substituição de carne. Batizado de Planta, a inovação fica pronta em cinco minutos usando proteína de ervilha, fibra vegetal e um mix de temperos que dá diferença a cada sabor.
Além de vegano, o alimento também é halal. O Planta Chicken e o Planta Beef são voltados diretamente para o setor de food service como distribuidores, restaurantes, empresas de catering e hotéis. “Temos diversos tipos principais do produto. A carne de frango é a mais vendida, enquanto a utilizada para o kebab é a preferida do público árabe”, explicou Monu Chaurasiya, especialista em Inovações da FSL.
A companhia tem laboratórios próprios, onde desenvolve ingredientes para dar textura e sabores diversos aos produtos, especialmente os feitos à base de plantas. Fundada em Dubai em 1986, a empresa tem em outros países árabes, como Egito e Arábia Saudita, importantes mercados compradores.