Amã – Na Jordânia, um prato suntuoso que tem origens em uma guerra antiga evoluiu ao longo dos séculos para ser valorizado mundialmente como um símbolo da paz e da hospitalidade.
O mansaf, feito de cordeiro cozido em coalhada seca, servido com arroz e nozes, é “o rei da mesa jordaniana”, diz Ashraf Al-Mubaideen, 47 anos, que gerencia um restaurante tradicional em Amã (foto acima).
“Se você quiser homenagear seu convidado, não há nada melhor do que o mansaf”, concorda seu sócio Tamer al-Majali, 42 anos, sobre o costume de receber convidados com enormes travessas cheias.
O mansaf foi inscrito na lista de patrimônio cultural imaterial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com o apelo da forte transmissão de identidade e coesão social que ele evoca.
Muito antes de se tornar um símbolo da paz, o mansaf nasceu às vésperas de uma batalha, de acordo com uma versão da história.
No século IX a.C., o rei Mesa ,do reino de Moabe, localizado na costa leste do mar Morto, queria testar a lealdade das pessoas em uma guerra contra o reino de Israel, disse o historiador George Tareef.
“O rei sabia que a Torá proibia os judeus de comer carne cozida com leite” e, por isso, ele instruiu seu povo a cozinhar uma versão rudimentar do prato não kosher antes da batalha, disse Tareef.
Na Amã moderna, o restaurante de Mubaideen e Majali se chama “Manasef Moab”, uma referência às antigas origens do prato.
Autenticidade e herança
O prato mais popular da Jordânia costuma ser servido em banquetes de casamento e em casas para grandes famílias. Ele passou por muitos anos de “evolução como resultado das condições econômicas e agrícolas”, segundo o historiador Hassan Mubaideen.
No restaurante em Amã, o acadêmico de 58 anos, usando um lenço keffiyeh vermelho e saboreando um prato de mansaf, afirmou que o arroz veio para substituir o pão e o trigo triturado, como forma de alimentar mais pessoas com menos, embora as demonstrações de generosidade permanecessem integrais.
“Existem rituais especiais e protocolos de hospitalidade associados à refeição” disse Mubaideen. Fazem parte desse ritual, por exemplo, como os visitantes são cumprimentados, a ordem em que são servidos, onde fica a cabeça do animal (no prato) e como é feita a despedida ao final da refeição.
Grandes travessas eram tradicionalmente compartilhadas por cerca de doze pessoas, usando apenas a mão direita, enquanto a esquerda ficava atrás das costas.
Os costumes mudaram, e pratos individuais e utensílios costumam ser usados agora, à medida que as gerações mais jovens adotam a tradição milenar.
Dividindo mansaf com seus colegas, a estudante de 14 anos Zeina Elyan expressou orgulho pelo símbolo da “herança antiga da Jordânia” e pelos benefícios à saúde dos alimentos naturais do prato.
Sua professora, Duha Saleh, 31 anos, disse que trouxe os alunos ao restaurante para ensiná-los sobre “a cultura social” por trás do prato, e os valores herdados de generosidade e hospitalidade.
“É prazeroso”, ela disse, “como ele nos conecta com quem somos, nossa autenticidade e nosso patrimônio.”
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Traduzido por Guilherme Miranda