São Paulo – Após registrar mínimas de US$ 20 em 2020, o preço do petróleo voltou a subir neste ano e já chega ao patamar de US$ 70, considerando-se a cotação do barril tipo Brent, negociado na Bolsa de Londres. Se, por um lado, ajuda os grandes exportadores árabes a equilibrar suas finanças, por outro onera quem importa. O Brasil produz petróleo, mas como não tem capacidade de refino para o seu óleo cru, acaba sendo um grande importador.
De acordo com o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, um dos motivos para os preços em alta é o corte de produção anunciado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, como a Rússia, no grupo conhecido como Opep+. Alguns integrantes da Opep são árabes, como Argélia, Líbia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Iraque e Catar. Esse, porém, não é o único motivo.
“Outro fator para a forte recuperação em 2021 é a demanda, especialmente na China, que continua impulsionando os preços das commodities de energia e minerais. As temperaturas negativas no Texas amplificaram esse efeito no petróleo, a onda de frio nos Estados Unidos derrubou a produção de óleo e gás no Texas, que se apresenta como maior produtor em território americano”, diz Chinchila.
Professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Unicamp, Marco Antonio Rocha avalia que o aumento no preço do petróleo é positivo para os países árabes produtores e exportadores porque traz dinheiro para suas economias e alivia a pressão gerada por aumento de custos. “Oferece um alívio no curto prazo, sobretudo na forma de superávit comercial em um momento em que é preciso importar insumos para combater a pandemia, importar vacina, cuidar da população”, diz.
O Brasil, por sua vez, vive uma realidade muito particular no que se refere ao preço do petróleo. O país é um grande produtor. Mas produz óleo pesado e tem uma capacidade de refino pequena, o que o leva a exportar o petróleo que produz e a importar petróleo para uso como combustível. Hoje, o principal importador de petróleo brasileiro é a China, seguido por Estados Unidos, Chile, Espanha e Uruguai. No entanto, Rocha analise o cenário brasileiro com outras complexidades.
“Geralmente, a cotação das moedas de países considerados periféricos costuma seguir a cotação das commodities, mas isso não está acontecendo com o real. Então, o impacto aparece com a desvalorização da moeda e com a alta na cotação do petróleo”, diz.
Gerente de Inteligência de Mercado da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Milena Mansur observa que a valorização da commodity é positiva para as empresas que operam no “upstream”, ou seja, que concentram suas atividades da exploração e produção de óleo e gás.
“Por outro lado, há déficit no abastecimento de combustíveis derivados. Como exemplo, 25% do óleo diesel A consumido no país é de origem importada. Já convivemos com cotações superiores a US$100/ barril sem a pressão nos preços com as quais estamos lidando atualmente. No entanto, é importante ressaltar a influência de taxa de câmbio na importação de produtos. A evolução da taxa de câmbio brasileira, apesar de fortalecer o setor exportador, compromete seriamente as operações de importação”, diz Mansur. Embora tenha registrado queda nos últimos dias, o dólar ultrapassou os R$ 5,70, o que pressiona os custos de quem importa, independentemente do produto.
Para onde vai o preço do petróleo
Na avaliação da Abicom, é difícil prever para onde vai a cotação da commodity, que ainda pode subir porque a Opep não vai aumentar a produção de petróleo e porque o acordo de cortes ou não na produção pelos países do grupo pode levar a um aumento ainda de US$ 5 a US$ 15. Mas se o preço subir muito, pode servir como estímulo à retomada da produção nos campos de shale, que é o petróleo produzido a partir do fraturamento de rochas, sobretudo nos Estados Unidos. “Diante do cenário atual, não há tendência de queda de preço no médio prazo”, afirma Mansur.
Rocha também avalia que é difícil prever o que vai acontecer com a cotação do petróleo, mas estima que há uma tendência de estabilização nos preços a partir do segundo semestre deste ano. Já a cotação do dólar em relação ao real depende dos sinais que o Brasil enviar ao mundo. “O risco aqui é visto como alto e isso está sendo precificado”, diz o professor.
Como evitar o sobe e desce dos custos
Rocha afirma ainda que o preço do petróleo gera impacto inflacionário não só em razão do seu preço ou do preço do dólar, mas porque o Brasil tem seu modal logístico baseado no transporte rodoviário, o que leva a indústria e o setor de transportes a ter um aumento de custos praticamente automático, e sobre o qual eles não têm controle.
Uma solução para sofrer menos com os altos e baixos no preço do petróleo seria seguir o exemplo de alguns países em desenvolvimento, que criam uma espécie de poupança para o petróleo. Se o preço sobe muito, usa-se os recursos deste fundo para compensar a alta. E, quando os preços caem, a queda não é totalmente repassada para o consumidor para, então, se recompor essa poupança. “Geralmente, se produz um arranjo econômico para não trazer as oscilações do mercado internacional diretamente para o consumo doméstico”, diz Rocha.
*Reportagem de Marcos Carrieri, especial para a ANBA