Dubai – Um alimento considerado saudável, até mesmo ligado a um imaginário medicinal. Assim tem sido visto o leite de camela em regiões do Oriente Médio e Ásia, atualmente. Quem conta sobre isso é a consultora de alimentos Dalal AlGhawas. Nascida no Kuwait, a profissional é fundadora e CEO da SWAPAC T&C, uma empresa de consultoria e comércio agroalimentar focada em segurança alimentar no GCC e na Ásia-Pacífico. O GCC é o Conselho de Cooperação do Golfo, formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados, Kuwait e Omã.
Em entrevista à ANBA, AlGhawas focou nas tendências do setor de bebidas que tem acompanhado nos últimos anos. Uma delas é o consumo do leite de camela in natura e como ingrediente da indústria de laticínios.
Segundo um artigo publicado na revista científica Nature, tem havido “um aumento na demanda global por leite de camela, especificamente dos mercados chinês e europeu”. A procura tem incentivado os países criadores de camelos a aumentar a produção do leite. Apesar disso, o produto ainda é considerado premium justamente por sua raridade.
AlGhawas contou sobre como estudos tem ajudado a colocar o produto no hall de alimentos saudáveis. “Temos, como chamamos, tecnologia do deserto. Nesse setor do leite de camela, o que é interessante é que, nos últimos cinco anos, os Emirados Árabes Unidos fizeram muitas pesquisas com os camelos”, afirmou ela.
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Uma das pesquisas feita pelo país árabe junto ao Laboratório Central de Pesquisa Veterinária buscou desenvolver a produção e diversificar o leite de camela em diferentes categorias de produtos. Entre elas, a de sorvetes e a de ghee, um tipo de manteiga.
AlGhawas afirmou que entre as características do leite de camela estão que o produto tem 50% menos gordura que o leite de vaca. “Na China, eles enxergam o leite de camela como um remédio. Isso porque possui alto índice imunológico, mais alto do que de outros animais, e semelhante ao leite humano”, diz AlGhawas.
Menos lactose
Artigo da Nature aponta que uma equipe da Universidade dos Emirados Árabes Unidos tem trabalhado com o leite de camela. Os estudos mostram que as proteínas e peptídeos do produto possuem propriedades antioxidantes, que são boas para o intestino, ricas em nutrientes e demonstraram reduzir os níveis de colesterol. O leite também tem apresentado bons resultados quando consumido por pessoas que são intolerantes à lactose, já que contém menos lactose do que o leite de vaca.
Embora os pesquisadores tenham apontado que ainda não está claro o motivo pelo qual o leite de camela tem essas características, para a consultora há um fator regional. “Você tem muitas marcas incorporando laticínios na culinária. E agora todo mundo tem intolerância à lactose. O que aconteceu? Isso passa mesmo por uma questão genética. Se você for para mais países árabes mediterrâneos, como Síria, Líbano, Palestina, Jordânia, essa população, por ser um mix que hoje inclui origens europeias, está mais adaptada para consumir laticínios de estilo europeu. Mas se você for mais para o sul desta região, se você tiver mais ascendência africana e indiana, talvez o leite de camela ou de animais dessa região, seja mais tolerável para você”, declarou ela.
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“Temos um grande caldeirão [de populações]. É por isso que dizemos que, em termos de desejos do consumidor, quase todos buscam algo sem lactose”, apontou a consultora.
Em uma das análises feitas durante a maior feira de alimentos e bebidas do Oriente Médio, a Gulfood, AlGhawas apontou inovações feitas por empresas como a Bakarat, um fornecedor de produtos frescos dos Emirados que tem em sua linha um smoothie que leva leite de camela. Outra marca local, a Camelicious já produz até chocolate feito com leite de camela, e Camelait produz também café com leite instantâneo.
Para AlGhawas, está claro que o mercado dos Emirados Árabes Unidos tem uma segmentação diversificada de lácteos e está levando em conta as alergias e intolerâncias. Apesar disso, uma das questões que ainda paira no setor é como o país e a própria região do Golfo podem desenvolver essa indústria para atender a demanda crescente. “Quando você olha para o mercado, o leite de camela é muito premium. Como tornar este produto mais popular, mais acessível? Porque no momento ainda é caro. Mas bem, isso vem depois”, concluiu ela.