São Paulo – O jornal Saudi Gazette, de Jeddah, na Arábia Saudita, publicou em sua edição de terça-feira (17) um artigo do presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, sobre o fortalecimento da parceria comercial entre o Brasil e os países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) depois de visitas à região do presidente Jair Bolsonaro, em outubro, e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em setembro. Fundado em 1978, o Saudi Gazette é um dos principais periódicos sauditas em inglês.
“Na cultura árabe, o relacionamento é condição para a efetivação de negócios”, diz Hannun no artigo. “Apertos de mão de chefes de estado têm um efeito maior do que se pode imaginar”, destaca. Ele explica que em muitos países árabes os importadores atuam sob licença do estado, e os próprios governos fazem importações e investem no exterior por meio de fundo soberanos, daí a importância de uma boa relação entre autoridades brasileiras e da região.
Nesse sentido, o executivo lembra que o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIC, na sigla em inglês) anunciou a intenção de investir US$ 10 bilhões em áreas estratégicas no Brasil, como segurança alimentar e infraestrutura. “No começo do ano que vem, uma delegação empresarial liderada pelo ministro saudita de Comércio e Investimentos, Majid bin Abdullah Al Qasabi, vem identificar as áreas de cooperação prioritárias”, revela.
Outra iniciativa anunciada durante a viagem de Bolsonaro foi a instalação de uma fábrica da BRF na Arábia Saudita, um projeto de US$ 120 milhões. A BRF é a empresa proprietária das marcas Sadia e Perdigão.
“Em quase todos os países árabes há interesse em formar com brasileiros projetos na área de alimentos. Os fundos soberanos árabes têm US$ 2,3 trilhões para investir, e o Brasil, muito a oferecer no campo da logística e da segurança alimentar”, escreve Hannun. “Na cultura muçulmana, investir é compartilhar o fruto de atividades produtivas”, acrescenta.
Leia a íntegra do artigo em português abaixo ou clique aqui para ler o texto em inglês no site do jornal Saudi Gazette:
Parceria comercial Brasil-GCC mais forte após a visita de Bolsonaro
Rubens Hannun
Presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira
Há expectativa de que mais oportunidades de negócios sejam abertas entre o Brasil e os países árabes após duas visitas de destaque de lideranças brasileiras à região do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC). O presidente brasileiro embarcou em sua primeira viagem para os Emirados Árabes Unidos e para a Arábia Saudita no final de outubro de 2019, enquanto a ministra brasileira de Agricultura, Tereza Cristina, passou por quatro países do CCG em recente viagem à região.
As visitas aconteceram num momento de intensificação das relações comerciais entre o Brasil e os países árabes. As exportações à Liga Árabe foram de US$ 1,22 bilhão, em 1989, para US$ 11,48 bilhões em 2018. O bloco se tornou a quinta parceria comercial do País e vem crescendo. Os dados de 2019 indicam que já é a terceira. Além disso, o agronegócio tem nos árabes seu segundo maior mercado. O setor de proteína o tem nele seu melhor cliente, e milhões de brasileiros devem seus empregos a isso.
Na cultura árabe, o relacionamento é condição para a efetivação de negócios. Antes de assinar contratos, deve-se construir confiança. Raramente se fecha acordo na primeira viagem e, às vezes, é preciso até que as famílias das partes se conheçam.
Apertos de mão de chefes de estado têm um efeito maior do que se pode imaginar. Em muitos países árabes, importadores atuam sob licença do estado, e governos originam importações ou investem por meio de fundos soberanos dentro e fora de seus territórios.
A visita de Bolsonaro, sem a menor dúvida, foi uma oportunidade de potencializar o comércio e promover ainda mais as fortes relações entre as partes (que pode, sim, em boa medida ser ampliada e diversificada), mas também de discutir cooperações estratégicas para levar a relação a um novo patamar de crescimento e desenvolvimento.
Da Arábia Saudita, por exemplo, veio uma excelente notícia: o país vai investir US$ 10 bilhões em áreas estratégicas, como segurança alimentar e infraestrutura, no Brasil. No começo do ano que vem, uma delegação empresarial liderada pelo ministro saudita de comércio e investimentos, Majid bin Abdullah Al Qasabi, vem identificar as áreas de cooperação prioritárias.
Além disso, nesta viagem, os sauditas celebraram o anúncio da intenção da BRF de investir US$ 120 milhões em sua primeira planta de processamento de aves no país com o intuito de fortalecer sua posição em um mercado em expansão.
Em setembro, as autoridades sauditas abriram a possibilidade para o Brasil exportar lácteos e mel para o país. Também discutiram com Tereza Cristina formas de o nosso país contribuir com o fornecimento de insumos para alimentação animal e, ano passado, autorizaram a importação de material genético e vacinas.
Os Emirados Árabes, cujo PIB não mais depende massivamente do petróleo, têm excelência na reexportação de produtos e interesse em constituir parcerias com o Brasil. Os Emirados procuram levar a seu território os segmentos finais da cadeia produtiva do Brasil a fim de ajudar a gerar empregos, em troca de acesso facilitado a mais de dois bilhões de consumidores.
Em quase todos os países árabes há interesse em formar com brasileiros projetos na área de alimentos. Os fundos soberanos árabes têm US$ 2,3 trilhões para investir, e o Brasil, muito a oferecer no campo da logística e da segurança alimentar.
O Brasil está trabalhando para acessar recursos a fim de sanar lacunas estruturais, desenvolver seu parque produtivo e fortalecer laços com aliados estratégicos. Na cultura muçulmana, investir é compartilhar o fruto de atividades produtivas. Com isso em mente, o Brasil deve maximizar todas as oportunidades para atingir os objetivos em comum e alcançar os resultados desejados.