Giuliana Napolitano
São Paulo – Dois meses depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter feito a primeira viagem de um chefe de estado brasileiro ao Líbano em mais de 100 anos, o presidente do país árabe, Émile Lahoud, decidiu retribuir a visita e desembarca no Brasil no próximo dia 16. Lahoud se encontra com Lula na terça-feira, dia 17. No dia seguinte (18), o presidente libanês vem a São Paulo, onde se reúne com o governador paulista Geraldo Alckmin.
Os países têm mantido conversas sobre diversos assuntos de cooperação bilateral e a expectativa é de que a visita acelere as negociações. Desde dezembro, quando Lula visitou o Líbano, está em análise no Ministério do Desenvolvimento, por exemplo, um acordo comercial entre o Brasil e o país árabe.
Os dois governos também estudam formas de incentivar a reabertura de um vôo direto entre os países. Hoje, é preciso fazer escala na Europa para ir do Brasil ao Oriente Médio e vice-versa. Lula vem criticando constantemente a falta de rotas diretas entre as duas regiões. Para ele, esse é um dos principais obstáculos ao aumento do turismo e do comércio bilateral.
Já houve um vôo direto entre São Paulo e Beirute, capital do Líbano: foi criado em 1995 pela empresa libanesa Middle East Airline, mas a rota foi encerrada três anos depois por falta de demanda. Agora, a Middle East e a Emirates Airline, dos Emirados Árabes Unidos, estudam criar o mesmo serviço.
Uma das hipóteses das companhias para contornar a falta de demanda, pelo menos no início, é contar com algum tipo de ajuda governamental, que terá de ser discutida pelos dois países.
O fluxo de turistas brasileiros para o Oriente Médio é baixo: durante todo o ano de 2002, segundo a Embratur, não chegou 8 mil pessoas. De lá para cá, o número é praticamente o mesmo: cerca de 7 mil visitantes, o que representa apenas 0,2% do total de estrangeiros que vieram ao país no ano. A meta do governo brasileiro, porém, é aumentar esse total em pelo menos cinco vezes até 2007.
Imigração: previdência e investimentos
Também podem ser discutidos durante a visita de Lahoud os termos de um acordo previdenciário. Nota divulgada logo após a viagem de Lula a Beirute informava que neste ano seriam "iniciadas as conversações para um acordo de previdência social".
O motivo, diz o comunicado, seriam as "expressivas comunidades de cidadãos e descendentes do Líbano no Brasil e do Brasil no Líbano". Estima-se que vivam no Brasil cerca de 6 milhões de libaneses e descendentes, mais do que a própria população do Líbano, de menos de 4 milhões de habitantes. É a maior colônia do mundo.
Estabelecer um vínculo maior com essa comunidade é outro objetivo da visita de Lahoud, segundo o embaixador brasileiro em Beirute, Marcus Camacho de Vicenzi. Em dezembro, ele explicou à ANBA que um dos projetos do governo árabe hoje é atrair investimentos de libaneses que vivem fora do país. Por isso, o presidente passará também por São Paulo, cidade que concentra metade dos imigrantes e descendentes de libaneses.
Casa do Brasil em Beirute
A chegada de Lahoud acontecerá menos de um ano depois da viagem ao Brasil do primeiro-ministro do país, Rafik Hariri. Hariri veio ao Brasil em junho de 2003 e visitou São Paulo e Brasília.
Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou em São Paulo que empresários brasileiros precisam se organizar para participar de forma mais ativa da montagem da Casa do Brasil em Beirute.
A idéia da casa foi discutida durante a visita de Hariri ao Brasil. O objetivo é criar um centro permanente de exposição da culinária e de produtos brasileiros, como roupas e móveis.
Furlan lembrou que o governo libanês doou o terreno, que ele chamou de "extraordinário". "Agora só falta fazer a casa". "É hora de fazermos como várias comunidades que criaram clubes esportivos, hospitais e escolas aqui (no Brasil)", afirmou, durante evento na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Reconstrução
O Líbano está em processo de reconstrução após o término de uma guerra civil que durou 15 anos, de 1975 a 1991. Empresários brasileiros que acompanharam a visita de Lula ao país procuravam participar de alguma forma da reconstrução.
Desde o início da década de 1990, o governo libanês planejou um programa pesado de investimentos para recuperar o país, que prevê a injeção de cerca de US$ 20 bilhões na economia local. O programa foi responsável por taxas de crescimento do PIB que beiraram os 10% em 1994 e 1995. Hoje, a expansão é mais modesta: está em torno de 1%.
Ainda assim, alguns setores chamam atenção. É o caso do turismo, segmento que vem crescendo 12% ao ano desde 1997. Para o ano passado, a expectativa era de que o país receberia 1 milhão de visitantes, mesmo nível da década de 1970, antes da guerra civil.
O comércio entre o Brasil e o Líbano é pequeno, mas está aumentando. No ano passado, as exportações brasileiras para esse país subiram 19%, para quase US$ 55 milhões. Os principais produtos vendidos são, nessa ordem, carne bovina, café, castanha de caju, papel e automóveis. As importações cresceram mais de 30%, para US$ 7 bilhões. O Brasil importa do Líbano fosfato, doces e vidro.

