São Paulo – Criado pelo Instituto de Reintegração do Refugiado (Adus), o projeto Sabores e Lembranças, que organiza oficinas de culinárias com chefs refugiados no Brasil, terá uma nova etapa em 2024, com foco na produção gastronômica de chefs africanos apoiados pela ONG. E, pela terceira vez, o projeto será concluído com a edição de um livro de receitas, previsto para junho (na imagem acima, uma das receitas do livro, preparada pela chef síria Salsabil Matouk).
De acordo com um dos fundadores do Instituto Adus, Marcelo Haydu, o projeto Sabores & Lembranças surgiu informalmente dez anos atrás com a realização de oficinas esporádicas de gastronomia apresentadas pelos refugiados assistidos pela ONG. Em 2022, o Adus decidiu “dar um passo além”, diz Haydu, ao inscrever o Sabores e Lembranças em leis de fomento, como a Lei Federal de Incentivo à Cultura (conhecida como Lei Rouanet), e o Programa de Ação Cultural do governo de São Paulo (ProAC).
A partir dessas modalidades de incentivo, a ONG pôde captar recursos com empresas e ampliar a iniciativa que busca, por meio do ofício da culinária e da recuperação das memórias dos refugiados, apresentar e ensinar a um público amplo receitas típicas dos seus países. Nas oficinas, os chefs elaboram os pratos, apresentam os ingredientes e recordam a história e a importância daquela receita na sua vida. Não é raro, diz Haydu, o público interagir e compartilhar experiências gastronômicas e variações da mesma receita com o chef.
“Buscamos cumprir alguns objetivos com este projeto. Um objetivo mais ampliado, que tem a ver com todas as ações culturais que o Adus faz é, primeiro, gerar receita para os imigrantes. Tem muita gente que depende dessas ações de gastronomia e de outras na área da cultura para gerar renda”, diz Haydu, que afirma que outros objetivos são dar visibilidade ao trabalho dos refugiados e, por fim, conectar imigrantes e brasileiros por meio da troca cultural.
Parte do projeto executado neste ano foi a realização de oficinas de culinária conduzidas pelos chefs refugiados durante três finais de semana em duas sessões diárias. A conclusão do projeto foi a edição dos livros. O primeiro deles conta com receitas de quatro chefs estrangeiros e quatro brasileiras que os apadrinharam: Bel Coelho, Bela Gil, Helena Rizzo e Ieda de Matos.
Em junho, a divulgação das receitas ganhou ainda mais espaço, com a edição de um livro com 20 receitas de dez chefs, todos refugiados. Cada um apresentou para a publicação quatro receitas salgadas e quatro doces, além dos ingredientes necessários e do modo de preparado. Por fim, foram publicadas duas receitas de cada profissional. Uma salgada, e a outra, doce. Participaram desta publicação chefs da Colômbia, Togo, Nigéria, Uganda, Afeganistão, Venezuela, Angola, República Democrática do Congo e dos países árabes Marrocos, representado por Abdellatif Elmekaoui, e Síria, com a chef Salsabil Matouk.
Para 2024 já está aprovada a execução do projeto Sabores & Lembranças África, formado apenas por chefs do continente e que também resultará na edição de um livro físico. Essas publicações, porém, não chegam às livrarias. Uma parte da tiragem é cedida, como contrapartida à obtenção de receita via leis de fomento, a bibliotecas e instituições públicas. Outra parcela é repassada às empresas financiadoras do projeto e uma outra parcela dos exemplares é doada pelo próprio Adus e pelos chefs a parceiros institucionais.
“Todas as nossas ações têm como fim único e principal a autonomia, gerar renda. E, para isso, cuidamos de toda a parte regulatória, obtenção de documentos. Essas pessoas precisam ter um bom nível de português. E para fechar esse ciclo que se inicia com a documentação e aulas de português, é tentar viabilizar a geração de renda das pessoas”, diz Haydu.
Serviço
Confira o livro Sabores e Lembranças com receitas salgadas e doces de dez chefs neste link