São Paulo – A união entre as culturas árabe e nordestina será tema de uma quadrilha junina do Rio de Janeiro este ano. A Associação Cultural Quadrilha Junina Geração Realce anunciou o tema Sertão das Arábias para 2023, de autoria dos produtores culturais Ricardo Lizio e Wilsinho Mendes.
Em entrevista à ANBA, Wilson Mendes informou que o tema presta homenagem ao povo árabe, que chegou ao Brasil no século 19, e traçará um paralelo entre o deserto árabe e o sertão nordestino, retratando a influência da civilização árabe, moura e muçulmana no Nordeste brasileiro.
O Geração Realce é um grupo folclórico, uma quadrilha junina e faz alguns projetos sociais. Cada ano traz um tema diferente, e no ano passado falou sobre São João e a origem da festa junina (foto acima).
A Quadrilha Geração Realce tem 28 anos de existência e em 2019 se tornou Patrimônio Cultural Imaterial do Povo Carioca. O grupo é o atual campeão estadual e representante do Rio de Janeiro no Concurso Nacional de Quadrilhas, que ocorrerá no Pará entre 07 e 09 de julho.
“O grupo surgiu em 1979, com a música Realce, de Gilberto Gil. Meu pai [Ricardo Lizio] foi o fundador e naquele ano fizeram um bloco de carnaval, e em seguida, o grupo se tornou uma quadrilha junina. Eles pararam em 1986 e eu retomei o grupo em 1994″, contou Mendes.
A quadrilha se apresenta entre junho e julho em shoppings, Sescs, quadras de escola de samba e praças públicas, tanto pela cidade do Rio de Janeiro como em outros municípios e até outros estados.
A ideia do tema, segundo Mendes, surgiu a partir da leitura de uma série de reportagens da ANBA sobre as relações entre os árabes e o Nordeste brasileiro, e também a partir da leitura de cordéis, como a coleção de contos de “Ali Babá e os quarenta cangaceiros” e “Xerazade, a Onça e o Saci”, ambos de Tiago de Melo Andrade, e “O Pavão Misterioso”, de José Camelo de Melo Rezende e “Sertão das Arábias”, escrito e ilustrado por Fábio Sombra.
A quadrilha irá contar a história da cidade fictícia de Sertão das Arábias, onde moram mouros, muçulmanos, árabes e nordestinos, localizada no interior do Ceará. “O casal de noivos da quadrilha será um árabe que se apaixona por uma nordestina, e ela acha que não pode casar com ele por suas diferenças culturais”, contou.
“Vimos que há muitas relações na música, nas roupas, na comida, coisas que a gente não conhecia. O coco, o baião [ritmos tipicamente nordestinos], o repentista, o violeiro, o rabaqueiro, as vestes do boiadeiro, o adorno das roupas, então começamos a trabalhar em cima disso”, disse Mendes.
O produtor cultural conta que em sua pesquisa, encontrou influências árabes nos nove estados do Nordeste. “Tem a Nossa Senhora do Líbano no Piauí, na Bahia tem o cuscuz, estamos pegando todas essas influências e colocando em pauta na alegoria, música e dança da quadrilha. Temos duas dançarinas do ventre no grupo, e todas as músicas terão alguma influência árabe. Vamos dançar um baião árabe, uma música árabe com forró” ilustrou.
Os figurinos também mostrarão essa confluência de culturas. “Vamos ter um vaqueiro de turbante, um beduíno com chapéu de cangaceiro… aquela mescla de influências e interferências”, disse.
Mendes contou que a apresentação da quadrilha é como um desfile de escola de samba, só que parado no mesmo lugar, reunindo 40 casais com várias músicas e trocas de figurino.
As apresentações ocorrem entre junho e julho, na temporada das festas juninas. “Estamos no momento de montagem do espetáculo, os ensaios duram dois meses, temos que apresentar um ensaio técnico em maio, sem figurino, só com músicas e coreografias, e então começamos as apresentações em junho”, informou.
A Quadrilha Geração Realce está em busca de patrocínio para o Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, que acontecerá no Pará em julho, onde tentarão ser campeões brasileiros.
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