São Paulo – As previsões para a produção brasileira de milho são de quebra neste ano. A última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que na safra 2020/2021 a produção total será de 86,6 milhões de toneladas, uma queda de 15,5% sobre o ciclo anterior.
A Conab atribuiu a redução à baixa ocorrência de chuvas entre os meses de abril e maio. A quebra deve impactar diretamente as exportações, entre elas aquelas que têm como destino países do Norte da África, como o Egito.
Segundo Anderson Galvão, analista e CEO da consultoria Céleres, o volume inicial esperado para exportação do produto brasileiro era de que 40 milhões de toneladas. Esse montante, no entanto, pode ser reduzido para até 18 milhões. “É uma redução de mais de 50% do volume inicial. Por isso, países como o Egito e outros do Norte da África e Oriente Médio, alguns dos principais compradores do milho brasileiro, mas vão ter que buscar fornecimento em outros países, como Ucrânia, Romênia, Rússia”, explicou o consultor.
Quebra na América Latina
Galvão lembra que o quadro se agrava já que outro importante produtor do cereal na América Latina, a Argentina, também não terá estoque suficiente para atender a demanda global. Já o Brasil só estará apto para exportar em grandes volumes novamente no ano que vem. “O quadro de suprimento no Brasil só vai se normalizar, se tudo correr bem, a partir de julho do ano que vem. Vão ser pelo menos oito meses de escassez de milho”, apontou o analista.
No Brasil, o milho é plantado em diferentes épocas do ano, mas a principal produção se concentra na safra de inverno, colhida entre julho e agosto. É essa safra que atende a demanda internacional, já que a safra de verão não chega a atender completamente nem ao mercado interno.
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Para o analista, mesmo com o provável aumento da área plantada no Brasil, o mercado só deve se acalmar em médio prazo. “Até lá, a oferta fica bem limitada. E outro detalhe, esse ano tem La Niña, que normalmente traz clima seco para o Sul do Brasil e Argentina, o que, em tese, reforça o risco de frustração de safra mais uma vez em 2022 e 2023”, explicou Galvão. O La Niña é o fenômeno atmosférico-oceânico que provoca alterações na temperatura do oceano Pacífico Equatorial, resfriando suas águas, e alterando a distribuição de calor e umidade em várias partes do mundo.
Atenção ao Oriente Médio
O preço do milho, que já segue em patamares altos, deve se manter assim também por conta de Chicago. “Mesmo com a safra americana tendo aumentado a área plantada, os preços vão ficar próximos [do que já estão]”, disse Galvão.
Para o analista, é preciso estar atento aos desdobramentos que essa inflação nos preços de alimentos como o milho como podem ter nos países árabes. “Do ponto de vista político e econômico, no Norte da África e Oriente Médio, isso torna preço do alimento caro. E se você se lembrar que 10 anos atrás, quando tivemos uma última disparada de preços, isso, entre outras coisas, alimentou a Primavera Árabe”, pontuou o CEO da Céleres.