São Paulo – Bom para quem planta, para quem come e para o meio ambiente. Esses são os pilares da Raízes do Campo, empresa fundada em 2019 com a ideia de centralizar em uma só marca diversas cooperativas de agroecologia e de agricultura familiar por todo o Brasil. Suco de uva do Rio Grande do Sul, café de Minas Gerais e do Espírito Santo e chocolate da Bahia são apenas alguns dos produtos da marca agroecológica.
A Raízes do Campo já está no mercado nacional e vem investindo na internacionalização desde 2020. Fundadora da Raízes, a diretora-geral Carla Guindani contou à ANBA que participou da feira de alimentos Sial China em 2018, a convite da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), levando produtos das cooperativas da agricultura familiar. “A China é um mundo, se conseguirmos um pedacinho vai ser muito para as famílias brasileiras”, ela pensou.
Ao voltar para o Brasil, Carla começou a elencar as principais cadeias produtivas e analisar o que o mercado externo comprava mais e fundou a Raízes do Campo. Em 2020, quando iam começar a exportar, veio a pandemia e o mercado chinês se fechou.
Então Carla tinha duas opções: retroceder com o projeto ou seguir em frente e ver formas de continuidade. Ela seguiu em frente e viu que aconteceu um grande movimento de crescimento de demanda por alimentos saudáveis, tanto no mercado externo como no interno. Então, Carla estruturou a Raízes do Campo para vender no mercado nacional.
Carla afirma que o produto agroecológico vai além do selo orgânico. “Os produtos agroecológicos pensam no bem-estar da família, na regeneração e recuperação do meio ambiente e em uma remuneração justa”, informou.
Potencial de vendas aos árabes
No final do ano passado, a trader Pryscilla Rolim entrou para a equipe da Raízes do Campo para cuidar das vendas ao exterior. Sua empresa de importação e exportação, a American Trader, faz assessoria de comércio exterior, vendas e operacional.
A diretora da American Trader esteve em maio deste ano em Dubai, em missão empresarial organizada pela SP Chamber e pelo Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (Ceciex), e contou para a ANBA a sua experiência.
“Dubai é um mercado em grande ascensão e tem muita aceitação dos produtos alimentícios brasileiros, tem essa preocupação com a qualidade, de saber de onde vem o produto”, disse Pryscilla. Esta foi sua terceira visita ao emirado árabe. Ela já esteve na feira de alimentos Gulfood, em 2021, e na Expo 2020 Dubai.
Para a empresária, existe muito mercado com a preocupação de o produto ser bom pra quem produz, para quem come e para a ecologia, e para direcionar os ganhos para as famílias camponesas. “Cerca de 70% dos alimentos que vêm para a nossa mesa é produzido por famílias camponesas e a ideia [da Raízes do Campo] é fortalecer esse tipo de alimentação no mundo”, disse.
Pryscilla participou da missão com o intuito de iniciar uma aproximação do mercado. “Foi uma missão assertiva para o produto, geramos leads qualificados”, disse. Mas ainda há alguns ajustes a serem feitos, como adaptação de embalagem e idioma, e certificações necessárias para facilitar o início das vendas.
“Leva um pouco de tempo, mas tem um potencial gigante para o mercado e para os produtos que a Raízes do Campo oferece”, declarou. Ela também acrescentou que a companhia tem potencial para desenvolver outros produtos. No catálogo, se destacam também produtos como arroz orgânico, feijão, café verde, açúcar mascavo e três sabores de sucos naturais.
A diretora se diz apaixonada por abrir novos mercados. “Quando vou desenvolver mercados novos na América Latina, por exemplo, tenho vários contatos e acaba se tornando mais ágil essa parte de prospecção. Analisando essa área de quantitativos, vimos que Dubai é porta para outros países da região, e que eles importam muito suco e chocolate, o que se enquadra no que a Raízes do Campo oferece”, informou.
A Raízes do Campo ainda não tem certificação halal, mas está muito interessada em obter o certificado para abrir portas no mercado muçulmano.
Além dos produtos prontos, de maior valor agregado e minimamente processados, a empresa também comercializa commodities como café verde, castanha-de-caju, castanha-de-baru, feijão, pimenta-do-reino, arroz e cacau. “Há a possibilidade de abrir essas duas frentes, venda em sacas e pela marca”, contou.
Agora, além de adaptar as embalagens com os idiomas em inglês e árabe, a marca ainda tem que analisar a concorrência e definir os preços para viabilizar a competitividade no mercado dos Emirados e região, bem como entender o procedimento logístico, segundo Pryscilla.
É interessante ter mais de uma frente de vendas, além do mercado interno, que já é grande, de acordo com a empresária. “A marca é muito competitiva por ter esse elo direto com as famílias produtoras. O principal objetivo é fortalecer o rendimento das famílias camponesas, dar apoio a essas famílias”, afirmou.
“A Raízes do Campo foi criada também para entrar no varejo e ter uma nova fonte de faturamento para as famílias camponesas produtoras, para elas terem um pagamento real e justo. Nós vemos potencial de mercado e aceitação dos produtos”, concluiu Pryscilla.
Agricultura Familiar
A fundadora da Raízes do Campo, Carla Guindani, cresceu em um assentamento em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina. “Meus pais são assentados, lá tem uma cooperativa gigante de produção de leite [Terra Viva] e de frango. Isso me despertou o desejo de fazer esse projeto acontecer”, disse.
A companhia não trabalha apenas com cooperativas ligadas aos movimentos pela Reforma Agrária. “O trabalho nasceu prioritariamente dos movimentos, sim, mas não precisa ser do movimento, necessariamente. Basta ter o selo de Agricultura Familiar”, contou Carla.
Hoje, a empresa trabalha com 1.600 famílias camponesas em todos os estados brasileiros. No mercado interno, os produtos da marca são vendidos nas lojas Armazém do Campo por todo o Brasil, e também no Sam’s Club, Guanabara (Rio de Janeiro), Nutrimaster (Bahia), entre outras lojas especializadas.
Para ela, no mercado em geral, costumam ser os atravessadores que protagonizam o processo das vendas, o que é diferente no projeto de Carla. “Eles agregam valor e vendem os produtos e ninguém sabe de onde veio ou quem produziu. Nós contamos toda a história de quem está ali produzindo, a região. As famílias se sentem pertencentes ao projeto, e quem consome, também”, disse.
O grande diferencial da marca, segundo Carla, é a promoção da agricultura familiar e da preservação do meio ambiente, preservando as famílias no campo. “O projeto da agroecologia é isso, olhar de uma forma integral e sistêmica e que as pessoas vivam em paz e harmonia com aquele espaço”, disse.
Outro diferencial da Raízes do Campo é a certeza de estar consumindo um produto que está cuidando do meio ambiente. “Hoje, todo mundo está preocupado com as mudanças climáticas, o meio ambiente, a recuperação. Quase todas as cooperativas participam do projeto para plantar árvores e produzir alimentos saudáveis”, contou. O projeto começou em 2020 e a meta é, em dez anos (até 2030) plantar dez milhões de mudas de árvores.