São Paulo – Entre os refugiados que vivem no Brasil, mais de um quinto (22%) está envolvido com atividades empresariais e a grande maioria (79,3%) tem disposição para empreender. Os dados fazem parte do estudo “Perfil Socioeconômico dos Refugiados no Brasil”, feito pela Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em parceria com acadêmicos ligados à Cátedra Sérgio Vieira de Melo, instância de promoção do acesso a direitos e serviços no Brasil por refugiados, que funciona com a participação ativa de universidades brasileiras.
Para a pesquisa, divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Acnur, foram feitas 487 entrevistas em 14 cidades de oito estados brasileiros. Entre os ouvidos, mais da metade (55,32%) tem origem na Síria e na República Democrática do Congo. Com Angola e Colômbia, eles somam 71%. O levantamento não inclui venezuelanos. A amostra aponta que 57,5% está trabalhando, 19,5% está procurando trabalho, 8,62% está apenas estudando, 5,7% está desocupado (nem estão trabalhando nem procurando emprego), 5,3% está ocupado com afazeres domésticos e 0,6% é aposentado ou pensionista.
Alguns dos entrevistados na pesquisa que estão envolvidos com atividades laborais geram empregos, inclusive. Dos 280 que estão nestas atividades, 20 empregam um ou mais trabalhadores em seus empreendimentos. “Mormente o comércio estabelecido com sede física, seja imóvel comercial, seja ainda na própria residência, como é o caso daqueles que produzem alimentos para venda”, informa o texto da pesquisa.
Unindo esses 20 empregadores aos 107 refugiados que trabalham por conta própria, chega-se aos 22% do total da pesquisa que estão envolvidos com atividades empresariais. “Esse dado demonstra que o empreendedorismo não é apenas um sonho, mas uma realidade”, diz o estudo. Somado ainda os que têm vontade de empreender, é possível identificar um alto potencial de empreendedorismo entre os refugiados que moram no Brasil.
Mas muitos do que estão à frente de negócios ou trabalhando por conta estão fora das suas atividades de formação, ou seja, não usam suas habilidades profissionais. Isso, segundo a pesquisa, revela a desclassificação socioeconômica a que é submetido o refugiado e o imigrante em geral. Uma das causas disso é que para ter acesso a empregos nas suas áreas, os refugiados precisam validar diplomas, o que tem sido uma dificuldade. Entre os refugiados ouvidos sobre esse tema, 68,2% não usam suas habilidades profissionais atualmente.
O estudo mostra ainda o perfil e a situação dos refugiados em outras áreas. Eles têm escolaridade acima da média brasileira e elevado capital linguístico. Do total, 34,4% concluiu o Ensino Superior, e muitos fizeram pós-graduação. Apenas 0,6% é analfabeto. O universo dos que conseguiu revalidar diploma no Brasil nesse grupo é muito pequeno, apenas 14 pessoas. Outros 133 não obtiveram o feito. A amostra aponta que 92% fala português.
Entre os 395 que declararam sua renda mensal domiciliar na pesquisa, a grande maioria (79,5%) vive com menos de R$ 3 mil. A maioria (91%) afirmou ter amigos brasileiros, 80% gostaria de votar nas eleições. A porcentagem de entrevistados que disseram ter sofrido algum tipo de discriminação é de 41%. Quase todos querem ter a cidadania brasileira e 84% tem o desejo de permanecer definitivamente no País.
“Todos os indicadores analisados demonstram que, apesar das dificuldades com emprego, com a revalidação de diplomas e rendas ou salários considerados insuficientes, os refugiados acreditam em sua capacidade de adaptação e ascensão social no País. O Brasil apresenta-se como uma opção difícil, porém, definitiva para a população refugiada”, diz a pesquisa.