São Paulo – Nos dias 05 e 06 de novembro, a Universidade Federal Fluminense (UFF) promove o seminário A Diáspora Palestina desde o Oriente Médio à América Latina, em Niterói, no Rio de Janeiro. O encontro reunirá especialistas no tema do Brasil, Argentina, Áustria, Líbano, Inglaterra e França.
As discussões do seminário serão baseadas no livro ‘Entre o Velho e o Novo Mundo: A Diáspora Palestina desde o Oriente Médio à América Latina’, organizado pelo brasileiro Leonardo Schiocchet, que é pesquisador do Instituto para Antropologia Social (ISA), na Áustria.
Em entrevista por e-mail à ANBA, Schiocchet contou que a imigração palestina para os países latino-americanos começou no final do século 19. “Cerca de meio milhão de palestinos e seus descendentes residem atualmente na América Latina, fazendo do grupo, de longe, a maior diáspora palestina fora do mundo árabe”, apontou o pesquisador.
Segundo ele, Chile, Honduras, México, El Salvador, Brasil, Peru e Colômbia foram os países latino-americanos onde se estabeleceram as maiores comunidades de palestinos. Os Estados Unidos, na América do Norte, também recebeu uma grande leva destes imigrantes.
De acordo com o pesquisador, as gerações mais antigas de palestinos estão muito bem integradas aos países latino-americanos. No entanto, ele destaca que a recente chegada de refugiados do Oriente Médio à América Latina pode provocar uma mudança na integração entre os árabes que já viviam na região há mais tempo e os brasileiros.
“Primeiro porque estes refugiados, justamente por serem hoje refugiados, possuem um perfil socioeconômico e situação legal bastante diferente daquela que havia entrado no imaginário brasileiro, e de muitos outros países latino-americanos, sobre o imigrante árabe”, afirma Schiocchet.
A segunda razão apontada pelo pesquisador é que o alinhamento político de alguns destes refugiados, referindo-se a pessoas envolvidas em guerras como a do Líbano, Líbia e Iraque, tem causado um desconforto entre as diferentes gerações de árabes, especialmente no Brasil.
Schiocchet considera muito importante que o Brasil e os demais países da América Latina apoiem a causa palestina nos órgãos internacionais. “Sobretudo porque, ao contrário do que pensa o senso comum, o conflito entre Israel e os palestinos não é um problema criado somente por eles e que deve ser resolvido entre eles”, destaca.
“A criação de Israel foi votada em assembleia geral na ONU, como forma de terminar o mandato britânico [que vigorava na Palestina]. Entretanto, essa foi uma decisão tomada em nome dos palestinos, não aceita por estes ou por outros países árabes, tendo como base a necessidade de se dar uma solução ao caso dos refugiados judeus da Europa. Durante o processo de estabelecimento de Israel, então, os palestinos foram expulsos de suas casas, vilas, despossuídos de seus pertences, contas de banco, propriedades e demais bens materiais, e impedidos de voltar às suas terras de origem”, lembra o pesquisador.
Ele também considera que exista um desinteresse pelo tema por parte da população brasileira. “Simplificadamente, o conflito entre Israel e os palestinos tende a ser retificado por latino-americanos, mas também no resto do mundo em geral, como sendo algo produzido no e circunscrito ao Oriente Médio, em vez de consequência de processos sócio-históricos mais amplos, centrados, sobretudo, no colonialismo e interesses europeus do final da Segunda Guerra Mundial”, avalia.
Segundo Schiocchet, o direito de retorno dos palestinos à sua terra é almejado tanto por imigrantes que vivem no Oriente Médio quanto pelos que vieram para a América Latina, embora de modos diferentes.
“O retorno não é pensado pelos palestinos apenas em termos de sua possibilidade prática ou de interesses individuais. É uma plataforma política, ideológica, e mais do que tudo, hoje, um componente cosmológico palestino”, diz. “Talvez seja possível afirmar, sim, que o retorno enquanto uma questão prática seja mais presente no Oriente Próximo do que na América Latina, já que a vida dos palestinos refugiados no Oriente Próximo tende a ser muito mais difícil do que aquela dos palestinos já estabelecidos por gerações na América Latina”, explica.
Entre as diferenças nas adaptações dos palestinos nos diversos países da América Latina, Schiocchet conta que há lugares nos quais as comunidades palestinas se destacam mais que em outros. Já a questão do preconceito se estabelece por fatores distintos à questão palestina em si.
“No Chile ou em Honduras, por exemplo, os palestinos são uma comunidade bastante visível, enquanto que, no Brasil, sírios e libaneses são muito mais visíveis. Mas isso não significa de maneira nenhuma que palestinos vivam em mais isolamento no Brasil. Quanto à discriminação, esse é um tema complicado, mesmo porque, por vezes, palestinos sofrem discriminação com base nos componentes religioso ou étnico de suas identidades, quer dizer, por serem muçulmanos ou árabes, e não necessariamente pelo componente nacional”, conta.
O seminário está sendo organizado em parceria pelo Núcleo de Estudos do Oriente Médio (Neom), que é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFF, e o Instituto para Antropologia Social.
A entrada é gratuita e as inscrições podem ser feitas pelo link http://diasporapalestina.weebly.com/inscriccedilotildees.html.