São Paulo – O ex-presidente Michel Temer contou sobre sua viagem a Beirute no último dia 13 de agosto durante webinar promovido nesta segunda-feira (24) pelo Grupo de Ajuda Humanitária da Comunidade Líbano-Brasileira e organizado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Ele foi a segunda autoridade internacional a visitar o país após a explosão no Porto de Beirute. O presidente francês Emmanuel Macron fez a primeira visita internacional ao Líbano, que já foi colônia da França.
Filho de libaneses, Temer foi convidado pelo presidente Jair Bolsonaro para chefiar a missão humanitária brasileira que levou doações ao país árabe, a maior parte recolhida e doada por entidades ligadas à comunidade árabe e libanesa no Brasil. “Devo registrar um fato importante, que os dois países que visitaram oficialmente o Líbano logo após a tragédia foram a França, com o Macron, e o Brasil por nosso intermédio. E curiosamente sabemos que tanto a França quanto o Brasil têm grandes vínculos com o Líbano, tanto que nossa comissão não se cingiu apenas a falar sobre os alimentos, suprimentos, remédios, mas nos colocamos às ordens para a eventualidade de um auxílio para um diálogo, feito de maneira que pudéssemos ajudar uma composição harmoniosa no Líbano, de modo a superar essa tragédia que lá se verificou”, relatou o ex-presidente.
De acordo com Temer, todos receberam muito bem essa proposta do Brasil. “Verifiquei que os países mais voltados para a composição desse diálogo no Líbano são a França, Estados Unidos e Rússia. Mas todos eles diziam ‘precisa incluir o Brasil’. E de lá mesmo, eu liguei para o presidente Bolsonaro e disse que ele incentive a nossa diplomacia para se conectar com as autoridades libanesas, para eventualmente auxiliar em um diálogo institucional, muito útil para o Brasil. Então de um lado temos o auxílio humanitário e de outro lado, o auxílio político”, disse Temer.
O ex-presidente viajou com uma pequena comissão, com autoridades e representantes do setor privado da comunidade líbano-brasileira, e inclusive os militares e auxiliares que acompanharam a comitiva eram descendentes de libaneses. “Foi uma coisa muito bem pensada. Todos eles chegaram muito emocionados no Líbano, já carregavam essa carga emotiva desde o dia 4 de agosto. A notícia correu o mundo celeremente e emotivamente, e as pessoas sentiram”, contou.
O voo levou 21 horas, com algumas paradas, acompanhando o avião cargueiro com os donativos. Temer e a comitiva chegaram no dia 14 por volta de 16 horas e assim que desceram fizeram a entrega das seis toneladas de doações. Quatro mil toneladas de arroz estão indo por via marítima. Na sequência, foram ao Palácio do Governo para uma reunião com o presidente Michel Aoun.
Em seguida, Temer foi até o local da explosão. “Uma coisa é a imagem pela televisão, de fotos, outra coisa é você verificar visualmente aquele desastre. Quando lá chegamos, o interesse da imprensa era grande, tinha imprensa brasileira, libanesa e europeia. Tristemente interessante, falava-se que o impacto da explosão atingiu não só um raio de cerca de cinco quilômetros como formou uma cratera de cerca de 40 metros de profundidade”, declarou Temer. Ele afirmou que ficou cerca de meia hora no local, que todos lamentaram muito e foram muito solidários.
À noite, Temer se reuniu com autoridades religiosas na Embaixada do Brasil em Beirute. No dia seguinte, ele deu entrevista para a televisão libanesa e foi visitar o presidente do Parlamento libanês, Nabih Berri. “Foi uma conversa muito útil, animada, esperançosa, e depois fomos visitar o primeiro-ministro [Hassan Diab], embora demissionário, colocou a maior parte do ministério para nos receber. E uma peculiaridade, ele apresentou a primeira vice-ministra e ministra da Defesa do Líbano [Zeina Akar Adra], e me chamou a atenção porque ela me perguntou se eu iria a Btaaboura, terra dos meus pais, mas eu não poderia, eu fiquei apenas 23 horas no Líbano. Ela me contou que o marido dela era da região”, disse. Saindo de lá, houve um jantar e em seguida retornaram para o Brasil.
“Fala-se em 160 mortos e mais de 40 desaparecidos, uma tragédia, mais de 200 possíveis mortos nessa explosão além das milhares de pessoas desabrigadas. E precisando muito de auxílio mundial. Não digo apenas do Brasil, porque é claro que para recuperar tudo aquilo demanda alimentos, suprimentos, remédios, e até verbas econômicas porque a destruição é visível nesta área”, relatou Temer.
Ele informou que saindo da área atingida, as coisas estão funcionando na medida do possível. “Beirute continua linda, as coisas estão funcionando, isto é o que eu percebo fisicamente. Lá é verão, dias muito ensolarados, muito bonitos, e ao mesmo tempo, verifiquei uma coisa muito comum ao libanês, primeiro uma hospitalidade extraordinária sem embargo da tragédia; segundo, uma força vital, acho que isso é do cedro do Líbano, é resistente. Não é a primeira vez que Beirute passa por esse drama, na verdade fazem a ideia de que logo recuperarão o Líbano. Mas isso demanda o auxílio de vários países, inclusive o Brasil”, disse.
Temer reiterou que a ajuda humanitária ao país é fundamental, e que precisam, além de alimentos e medicamentos, também materiais como vidro e madeira, já que as janelas e grande parte das construções das imediações do Porto de Beirute foram destruídas.
Embaixador Joseph Sayah
O embaixador do Líbano em Brasília, Joseph Sayah, agradeceu os esforços de todos os grupos que vêm trabalhando para levar ajuda ao Líbano. Ele também agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro e às demais autoridades do governo brasileiro, e especialmente ao ex-presidente Temer por ter liderado a missão humanitária. “A presença do ex-presidente Temer, filho de libaneses, no Porto de Beirute deu aos libaneses a poderosa mensagem de que não estão sozinhos, que existem famílias e irmãos no Brasil que compartilham sua dor e perda. Foi uma ajuda sentimental e emocional, e demonstrou o carinho da comunidade líbano-brasileira por seus irmãos do outro lado do mundo”, disse Sayah.
Sayah afirmou que a tragédia do dia 4 de agosto foi o mais devastador ato de violência que atingiu o povo do Líbano e a cidade de Beirute, e que a ajuda humanitária é mais necessária do que nunca. “Por mais que os suprimentos médicos sejam uma prioridade, todo tipo de produto está se tornando uma prioridade também, como alimentos e materiais de construção. A razão para isso, como sabem, é que o Líbano é um país pequeno que não apenas abriga seus cidadãos, mas também abriga mais de 2,5 milhões de refugiados que igualmente precisam de ajuda”, falou.
O embaixador lembrou que o Líbano importa cerca de 80% do que consome, e que o Porto de Beirute era um local de armazenagem que constantemente fornecia para todo o país. “Como resultado da explosão, quase tudo que estava estocado foi destruído. A missão à nossa frente é imensa e o Líbano é grato por toda e qualquer ajuda que receber”, declarou Sayah durante o webinar.
Ajuda dos países árabes
O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, lembrou Temer da criação do Grupo Parlamentar Brasil-Países Árabes, e informou que mais da metade dos senadores e muitos deputados federais fazem parte do grupo. “Isso mostra o valor que eles dão para a relação do Brasil com os países árabes. Acredito que podemos conversar com eles e tê-los ao nosso lado nesse momento”, disse Hannun.
Hannun afirmou também que o Conselho dos Embaixadores Árabes, liderado pelo decano e embaixador da Palestina em Brasília Ibrahim Alzeben, que estava assistindo, tem feito reuniões para ajuda ao Líbano. Alzeben disse que gostaria de ser envolvido para participar mais na campanha.
O embaixador Sayah afirmou que todos os países árabes estão ajudando o Líbano desde o momento da explosão. “Todos sabem que o Líbano faz parte do mundo árabe, somos uma família. Estamos recebendo ajuda humanitária, alimentos, remédios e tudo, não só dos países da Europa, mas em especial do mundo árabe, da Arábia Saudita, Emirados, Catar, Egito e todo país árabe. O libanês é um povo resiliente e vamos superar esse momento difícil”, declarou.
A realização do evento virtual foi do Grupo de Ajuda Humanitária da Comunidade Líbano-Brasileira. Participaram também o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Líbano, Alfredo Cotait Neto; o presidente da Fambras Halal, Mohamed Zoghbi; o presidente do Instituto Kanoun, Ricardo Maluf; o presidente da Associação Médica Líbano-Brasileira, Robert Sami Nemer, e o secretário-geral da Câmara de Comércio Brasil-Líbano, Guilherme Mattar. A moderação foi feita por Tamer Mansour, secretário-geral da Câmara Árabe. Mansour afirmou que as doações ao Líbano ainda podem ser feitas por meio da Câmara Árabe.
Zoghbi lembrou de tudo o que o Brasil vem fazendo para ajudar. “Estamos unidos e fazendo tudo que podemos para minimizar o sofrimento do povo libanês. Todos nós estamos trabalhando em prol de um objetivo só, ajudar o povo libanês na reconstrução de Beirute”, disse. Mas há vontade de fazer mais. “No momento que o drama e o acidente saem da televisão, o sofrimento continua, e por isso precisamos continuar trabalhando, se o Líbano faz parte do DNA do Brasil, então temos que continuar”, disse Mattar. Cotait também demonstrou vontade de que se faça ainda mais pelo Líbano nesse momento que chamou de tão difícil para o país.
O Grupo de Ajuda Humanitária da Comunidade Líbano-Brasileira foi formado após a explosão no Porto de Beirute, e conta com diversas entidades e associações, como a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Câmara de Comércio Brasil-Líbano, Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), Instituto Kanoun, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Associação Médica Líbano-Brasileira, Cidade de São Paulo, Governo Federal, Hospital Sírio Libanês, Mesquita Brasil, Clube Atlético Monte Líbano, Embaixada do Líbano em Brasília, Hospital do Coração (Hcor), Fundação Cristã da Diáspora Libanesa (FCDL), Sociedade Beneficente Muçulmana, União Nacional Islâmica (Uni) e Esporte Clube Sírio.
Doações
Câmara de Comércio Árabe Brasileira
Banco Santander – 033
AG 3681
CC 13003341-5
CNPJ 62.659.784/0001-11
Brasil enviará mais 60 toneladas de doações ao Líbano
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