São Paulo – Três brasileiros participaram de um intercâmbio de trabalho voluntário no Cairo, capital do Egito, no início deste ano pela Aiesec, uma ONG internacional que visa o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens estudantes. Leandro Alexandre é estudante de Arquitetura, Thiago Gomes faz Engenharia de Software e Ramon Santana, Engenharia de Produção. Os três fizeram o intercâmbio voluntário por 45 dias, com início em 1º de janeiro. Em entrevista à ANBA, eles contaram um pouco sobre suas experiências.
Leandro Alexandre tem 23 anos e participou de um projeto que envolvia arquitetura e sustentabilidade e trabalhou principalmente com a arquitetura islâmica em seu intercâmbio. Ele estuda Arquitetura na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.
“O projeto explorou a arquitetura islâmica que se desenvolveu depois do século 6 no Cairo, e foi muito além do que aprendi nas aulas de história. Também promovia a educação patrimonial, mostrando que no Egito há muito mais a explorar do que as pirâmides”, disse Alexandre.
Ele realizava tours ao ar livre ao lado de uma coordenadora egípcia, em que falavam sobre a história dos edifícios, como a cidade se desenvolveu e sobre o futuro e projetos de restauro. “Além de conhecer a cidade e a arquitetura, aprendi sobre as práticas tradicionais e o projeto visava conscientizar as pessoas sobre a importância daquele lugar”, contou. Os turistas vinham de países como Suécia e Estados Unidos.
Leandro Alexandre disse que vai produzir mapas e materiais gráficos, como panfletos e desenhos sobre a arquitetura islâmica, mostrando suas características principais. Ele ainda tem um projeto de sustentabilidade que analisa o Rio Pinheiros, em São Paulo, e o Rio Nilo, no Cairo.
“É interessante pensar que existem muitos elementos da arquitetura islâmica que foram incorporados à arquitetura brasileira, como os muxarabis, espécie de treliças de madeira que ficam na frente das janelas e permitem a passagem de ventilação, dando também privacidade aos ambientes”, ele disse.
Os muxarabis são encontrados em mesquitas e casas tradicionais do período do império otomano. No Brasil, são conhecidos os cobogós, derivados dos muxarabis, feitos em concreto e cerâmica. Ele deu como exemplo o museu Cais do Sertão, no Recife.
Alexandre falou sobre a importância da educação patrimonial, e como aquelas pessoas que fazem esse trabalho manual de gerações devem ser valorizadas. “Isso preserva a cultura, o trabalho das pessoas, tudo”, disse.
O Egito foi o primeiro país árabe que Alexandre conheceu. “Foi um choque cultural gigantesco, a forma de ver e viver a cidade, e é muito rico por isso, as pessoas foram super receptivas, quando descobriam que eu era brasileiro faziam a maior festa, paravam a gente para tirar fotos”, disse. O estudante pretende fazer mestrado e doutorado nas áreas de patrimônio e meio ambiente.
Thiago Gomes (em destaque na foto de capa) tem 21 anos e estuda Engenharia de Software na Pontifícia Universidade Católica (PUC) Minas, em Belo Horizonte. Ele atuou no centro do Cairo como voluntário global da Aiesec, ensinou computação e tecnologia para crianças em situação de refúgio e deu aulas de conversação em inglês para adultos refugiados. Esta foi sua primeira viagem de avião e a primeira vez que saiu do Brasil. Ele escolheu o Egito por ter uma cultura muito diferente da do Brasil, com outra religião, outro idioma, e por ser em outro continente.
“É muito gratificante saber que estou ajudando pessoas através do conhecimento”, disse Gomes. Nas aulas de conversação em inglês, ele trocava informações sobre tecnologia, mercado de trabalho, oportunidades e áreas de atuação. “Essa área vem crescendo muito com a pandemia, e as pessoas têm muito interesse”, disse.
Com as crianças, ele teve a oportunidade de dar aulas de introdução à tecnologia. “Temos que lembrar que é um público que nunca teve contato com computadores, então foi importante demonstrar a importância desse conhecimento para elas, para quando tiverem contato já saberem o básico”, contou. As aulas eram desafiadoras e tinham algumas barreiras, como a do idioma, já que muitas crianças não falavam inglês. Gomes ensinava a ligar o computador, mexer no teclado e no mouse, e mostrava como usar o Windows e o Word. Os refugiados vinham principalmente da Síria e do Sudão do Sul.
“O povo egípcio tem uma alegria, um jeito bem brasileiro de ser, com um ânimo e um ritmo muito parecido com o nosso. A forma como são amigáveis com os estrangeiros, muito fraternos e afetivos entre si. Também são apaixonados por futebol, em cafeterias, que seriam nossos bares, eles assistem bastante, têm o jeitinho brasileiro de ser”, disse.
O estudante já teve contato com pessoas em situação de refúgio no Brasil, dando aulas de português para refugiados venezuelanos em São Paulo. Gomes disse que se sentiu muito seguro no Egito, e o que mais gostou foi o choque cultural. Ele deve se formar em 2023 e pretende abrir sua própria agência de desenvolvimento de software.
Ramon Santana tem 26 anos e está no oitavo período do curso de Engenharia de Produção na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Esta foi sua primeira viagem de avião e ele contou que escolheu o Egito para ver uma cultura o mais diferente possível. Seu trabalho voluntário no Cairo foi voltado para ações de sustentabilidade ambiental, com a reciclagem de materiais e venda de produtos.
Ele contou que o projeto utilizava a palha de arroz, um resíduo da produção de arroz no Egito, para transformar em papel e produzir cadernos de diferentes tipos e porta-retratos. “A gente fazia o cozimento da palha de arroz, picava, era todo um processo para virar papel”, contou. Os cadernos eram vendidos e doados. O projeto também fazia sacolas de papel a partir de livros que seriam jogados fora. Duas mulheres egípcias coordenavam o projeto e produziam as peças.
“Acho esse tipo de projeto extremamente necessário, a parte da conscientização ambiental é muito importante. O Cairo ainda não está totalmente atualizado nas questões ambientais e de sustentabilidade, e esse projeto é um ponto de partida de uma consciência que vem crescendo no Egito, e eu gostei de fazer parte desse movimento. É importante fazer esse tipo de ação para que o conhecimento se propague”, avaliou.
Ele contou que se sentiu acolhido no país árabe e que os egípcios foram receptivos. “Eu nunca tinha saído do País e aparentemente os egípcios gostam muito dos brasileiros. Me senti muito seguro e conheci lugares turísticos muito lindos, como as pirâmides”, disse.
O intercâmbio voluntário da Aiesec oferece ajuda de custo para hospedagem dos estudantes em hostels credenciados. O voo e a estadia são pagos pelos estudantes.