São Paulo – Nascida em Petrópolis, Rio de Janeiro, a neta de árabes Andréa Maciel Pachá se orgulha de sua trajetória. Desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e escritora, desde junho de 2024 ela atua na Secretaria-Geral da Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Estou afastada da minha função como desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, da 8ª Câmara de Direito Privado, porque estou prestando uma assistência direta para a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha até junho de 2026”, conta Andréa, de 61 anos.
Na Secretaria-Geral da Presidência do TSE, Andréa Maciel Pachá trabalha ao lado da ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha. Versátil, além de ser desembargadora, a brasileira descendente de sírios trabalhou com cinema e escreveu cinco livros.

“Para mim, hoje a ministra incorpora o que nós temos de mais simbólico e republicano no nosso País. Ela é uma pessoa extremamente comprometida com a causa pública e dedicada à administração. Por isso, foi um grande privilégio ter sido convidada pela ministra para ocupar esse espaço.”
Formada em Direito aos 21 anos, depois de advogar por dois anos, Andréa resolveu ter outras experiências profissionais. Por gostar muito de textos e cinema, passou cinco anos estudando dramaturgia, sociologia, filosofia e psicanálise. Na área da cultura, teve a oportunidade de produzir peças de teatro dirigidas por Rubens Corrêa, Aderbal Freire Filho e Amir Haddad.
Com a vontade de melhor se estabelecer financeiramente e de ter filhos, veio também a decisão de voltar para o direito. Aprovada em um concurso de magistratura e defensoria em 1994, Andréa tomou posse como juíza no interior do Rio de Janeiro e depois em Petrópolis, onde passou a maior parte da carreira. “Trabalhei por quase 20 anos na Vara da Família, onde presidi mais de mais de 20 mil audiências. Entre 2007 e 2009, como conselheira do Conselho Nacional de Justiça, construí o Cadastro Nacional de Adoção e instalei as Varas de Violência contra a Mulher em todo Brasil.”
Entendendo a importância de promover campanhas para simplificar a linguagem utilizada nos processos e de combater o “juridiquês”, Andréa criou um projeto ao lado do professor de português Pasquale Cipro Neto. “Entre 2002 e 2003, falei com universitários de Direito de todo o país para ensiná-los a estudarem para falar sobre justiça e não para falarem rebuscado. Ontem e hoje é necessário falar uma linguagem que seja compreensível pelas pessoas”, explica Andréa.
Andréa escritora
Foi trabalhando na Vara da Família que a desembargadora se viu novamente em um espaço de histórias que a inspiraram a criar três livros. “A vida não é justa” foi publicado em 2012, “Segredo de Justiça” foi publicado em 2014 e “Velhos são os outros” chegou ao público em 2018.
Enquanto o segundo livro da brasileira virou série do Fantástico, programa da TV Globo, entre 2016 e 2017, os outros dois viraram peças de teatro. “Minha história acabou sendo circular porque eu transitei do direito para o teatro e o cinema, voltei para o direito e fui para a literatura e o teatro novamente”, diz.
“Minha história acabou sendo circular porque eu transitei do direito para o teatro e o cinema, voltei para o direito e fui para a literatura e o teatro novamente”
Andréa Maciel Pachá
Contando um pouco sobre como é o cotidiano do juiz, esses livros, de acordo com Andréa, são fundamentais para que as pessoas conheçam o funcionamento dos poderes que garantem o acesso aos direitos fundamentais. “Eles também servem para que as pessoas tenham mais facilidade de acessar os seus direitos quando for preciso”, explica a escritora.
Como coautora, Andréa escreveu “Sobre femininos” e “Nós… Mulheres do Século Passado: Nossas Escritas, Nossas Histórias”. A fluminense também faz parte da Academia Líbano-Brasileira de Letras, Artes e Ciências.
“Mesmo não sendo libanesa recebi o convite com muita felicidade. Temos uma história muito parecida e fiquei honradíssima em participar. Entre os outros integrantes da academia estão pessoas que para mim são referências, não só públicas, mas mas na vida privada também, como médicos e cantores, como João Bosco.”
Influência da família na profissão
A descendente de árabes viu sua escolha profissional e trajetória ser moldada pela influência da avó paterna, Elvira Bittar Pachá. Mãe de cinco filhos, Elvira veio da Síria ainda na juventude. O avô paterno, Alfredo Pachá, trabalhou no comércio de Petrópolis, mas não fez parte da vida da desembargadora porque morreu antes de seu nascimento.
“Tínhamos uma vida muito coletiva. Todos os domingos a família toda se reunia na minha casa para ouvir suas histórias. Parecia As Mil e Uma Noites. Ela gostava de contar histórias, e eu naquela época não percebia, mas existia uma intensidade de afeto por mim, que acabou influenciado minha escolha profissional. Quando cresci também queria cuidar de outras pessoas”, relembra Andréa.

Além da própria família, era comum que amigos e vizinhos viessem para ouvir as histórias de sua avó. “A gente criou uns vínculos nessa época que são para a vida toda. Isso eu percebo que veio desse cuidado dela, da dedicação que ela tinha pela escuta das histórias dos outros. Foi para mim um ambiente fundamental para gostar de gente.”
Apesar da cultura e a comida árabes estarem presentes no dia a dia da desembargadora, a língua não fazia. Não alfabetizada em seu país de nascimento, Elvira fez questão de que todos os filhos e netos aprendessem a falar bem português para terem boas oportunidades. “Mesmo sem saber escrever e ler, a tradição oral era muito forte para ela, por isso, contava tantas histórias para gente durante toda sua vida”, relembra Andréa.
O pai Miguel Pachá, o único filho a se formar na faculdade, também influenciou de certa forma a escolha de Andréa pela profissão. “Ele estudou Direito, depois advogou por muitos anos, foi juiz do Tribunal de Alçada e presidiu o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, antes de se aposentar. Ele hoje tem 90 anos.”
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