Alexandre Rocha
São Paulo – A Companhia Vale do Rio Doce, segunda maior empresa exportadora do Brasil, atrás apenas da Petrobras, faturou no ano passado US$ 2,033 bilhões com as vendas externas. Parte da produção teve como destino o Bahrein, país árabe da região do Golfo onde a mineradora brasileira detém 50% do controle de uma fábrica produtora de pelotas de ferro, matéria-prima para as siderúrgicas da região.
A planta, chamada de Gulf Industrial Investment Company (GIIC), foi comprada pela Vale, em parceria com a Gulf Investment Corporation (GIC), do Kuwait, em 2000, e produz cerca de 4 milhões de toneladas de ferro em pelotas por ano. De acordo com informações da mineradora, trata-se de “uma das maiores usinas independentes de pelotização de minério de ferro do mundo”.
Mas os negócios da Vale no mundo árabe não se restringem ao Bahrein. Cerca de 6% das 136 milhões de toneladas de minério de ferro exportadas pela companhia em 2003 tiveram como destino países do Norte da África e do Oriente Médio.
A empresa vende também para o Egito, Líbia, Argélia, Catar e Arábia Saudita. Embora o Bahrein seja o principal destino das exportações da Vale para a região, justamente por causa da GIIC, o parceiro mais antigo é a Arábia saudita, para onde a companhia vende minério há cerca de 20 anos.
Pesquisa
Existem ainda no mundo árabe outras possibilidades de negócios para a companhia. No início do ano, a Vale foi convidada pelo governo saudita para assumir os trabalhos de pesquisa mineral no país. Embora a nação do Golfo seja rica em petróleo, ainda não se sabe o tamanho de suas reservas minerais.
“O presidente da Vale, Roger Agnelli, aceitou o convite e estamos preparando uma missão que vai para lá travar um primeiro contato, para ver o que há por lá”, afirmou o diretor comercial da área de minério de ferro da empresa, Nelson Silva. De acordo com ele, o negócio ainda é muito embrionário, portanto não é possível fazer previsões.
Fora isso, Silva acredita em um aumento nas exportações de minério de ferro para a região, uma vez que três siderúrgicas que compram matéria-prima da Vale, a Hadeed da Arábia Saudita, a Qasco do Catar e a ANSDK do Egito, anunciaram recentemente planos de expansão da produção. Com isso, ele avalia que o consumo de minério nos países árabes deve crescer em 1,5 milhão a 2,5 milhões de toneladas de minério por ano.
Exportações
No total, a receita de exportação da Vale aumentou 13,34% de 2002 para 2003. A empresa, que é a maior produtora e exportadora de minério de ferro do mundo, acabou tomando o segundo lugar da Embraer no ranking das maiores exportadoras do Brasil. Tal mudança na lista, no entanto, foi causada principalmente pela queda nas vendas externas da fábrica de aviões.
A exploração e comercialização de minerais ferrosos, minério de ferro principalmente, correspondem a 65% do faturamento da companhia, sendo que a maior parte da produção é destinada ao mercado externo. Se 136 milhões de toneladas do produto foram exportadas no ano passado, apenas 25 milhões foram vendidas no mercado interno.
O faturamento e demais contas fechadas de 2003 só serão divulgadas amanhã (24) pela Vale. No entanto, até o final do terceiro trimestre do ano passado a receita operacional bruta já havia atingido US$ 3,855 bilhões e o lucro líquido US$ 1,278 bilhão.
Segundo Silva, a Vale pretende exportar este ano 151 milhões de toneladas de minério de ferro, 11% a mais do que em 2003. No mercado doméstico, porém, ele avalia que não devem ocorrer muitas mudanças.
Os principais mercados da empresa no exterior são a Europa e o bloco formado pela Ásia e a Oceania, que absorvem, respectivamente, 42% e 44% das exportações. Dentro destes blocos, os principais países compradores são a Alemanha, França, China e Japão. As Américas, incluindo os Estados Unidos e a Argentina, compram 8% do minério exportado pela Vale.
É na Ásia, porém, que a empresa identifica o maior potencial de crescimento para suas vendas externas, por causa da China, que comprou no ano passado 25,7 milhões de toneladas da empresa, ou 18,9% do total de suas exportações. De acordo com Silva, a produção das siderúrgicas chinesas cresce entre 30 milhões e 35 milhões de toneladas por ano, o que demanda entre 45 milhões e 52 milhões de toneladas a mais de minério por ano, sendo que 50% disso é suprido por fornecedores estrangeiros.
Outros setores
Mas não é só de minerais ferrosos que vive a Vale, na área de mineração ela explora caulim e potássio e desenvolve projetos de exploração de níquel e cobre, metal que pretende começar a comercializar em julho. Investe ainda na exploração de ouro e metais da cadeia da platina.
A Vale atua ainda nos setores de alumínio, logística (ferrovias, terminais portuários e navegação de cabotagem) e energia (tem 10 hidrelétricas, sendo que três estão em operação).
Além da GIIC no Bahrein, a empresa é dona ou tem participação em plantas na Califórnia (EUA), Argentina, Noruega e na França. Fora o convite da Arábia Saudita, ela faz pesquisas minerais em Angola (cobre, ouro e diamantes), Argentina (cobre, ouro e potássio), Chile (cobre), China (cobre, ouro e carvão), Cuba (cobre e níquel), Gabão (manganês), Moçambique (participa de uma licitação para explorar carvão), Mongólia (cobre, ouro e carvão), Peru (cobre e ouro), Venezuela (carvão).
No Brasil ela opera em 14 estados, sendo que a maior mina é a de Carajás, no Pará, e o maior produtor de minérios é Minas Gerais.
Investimentos
No ano passado a companhia investiu US$ 1,486 bilhão em projetos, exploração e no giro do negócio. Para 2004 a previsão de investimentos é de US$ 1,815 bilhão. Até 2010 a empresa pretende investir US$ 7,5 bilhões em novos projetos.
A Vale do Rio Doce foi fundada em 1942 pelo governo federal. Em 1997 ela foi privatizada e passou às mãos de um consórcio liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), outra ex-estatal que havia sido privatizada anteriormente.
Hoje a empresa é controlada pela Valepar que, por sua vez, tem como principais acionistas a Bradespar e a Previ, que é o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil.
O grupo Vale emprega 29.408 pessoas, incluindo os funcionários das empresas coligadas e controladas.
Bahrein
O Bharein, onde a Vale detém 50% da GIIC, é um pequeno emirado localizado em um arquipélago do Golfo Arábico, entre a Arábia Saudita e a península do Catar. O país é um importante centro financeiro e o único da região que exporta apenas derivados de petróleo, não o óleo bruto.
Com uma população de 716.150 pessoas, tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 8,2 bilhões. Segundo dados da Câmara de Comérico Árabe-Brasileira (CCAB), os derivados de petróleo representam 60% das exportações e 30% do PIB do país. As principais indústrias são a petroquímica, siderúrgica e naval.
No ano passado o Brasil exportou o equivalente a US$ 70,8 milhões para o emirado do Golfo, sendo que o minério de ferro foi exatamente o principal produto da pauta (US$ 39,7 milhões). Por outro lado, não importou nada.
Site da Vale
www.cvrd.com.br