O banco ABC Brasil, subsidiária do Arab Banking Corporation (ABC), com sede no Bahrein, não está tendo problemas de liquidez nesses tempos de crise financeira, ao contrário de outras instituições financeiras de porte médio no país.
“O ABC Brasil tem a grande vantagem de ter um acionista forte”, disse nesta segunda-feira (8) à ANBA a diretora do banco, Angela Martins, referindo-se à matriz, que é controlada pelos fundos soberanos de Abu Dhabi e do Kuwait e pelo Banco Central da Líbia.
De acordo com ela, o ABC do Bahrein deixou separados US$ 150 milhões para eventual utilização pela subsidiária brasileira, valor que foi posteriormente ampliado para US$ 300 milhões, o que garantiu a irrigação das linhas de crédito no Brasil. “Uma crise como esta evidencia o suporte e a solidez de nosso acionista”, declarou.
Angela destacou que a liquidez do banco está tão boa que o ABC Brasil deverá devolver US$ 100 milhões não utilizados à matriz até o final do ano. Mesmo sem emprestar todo o dinheiro, a carteira de ativos do segmento de “middle market”, de financiamentos a empresas com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 250 milhões, cresceu 27% no terceiro trimestre deste ano. Já as operações com companhias do “upper-middle market”, com faturamento de R$ 250 milhões a R$ 2 bilhões, cresceram 3%.
Segundo a executiva, o banco decidiu deixar o mercado de crédito consignado e se concentrar somente nos empréstimos para pessoas jurídicas. Nessa seara, a instituição pretende reforçar sua atuação no segmento de empresas médias, que hoje representam 17% dos seus ativos. Angela destacou que a participação dessas companhias deverá crescer para algo entre 20% e 25%.
Durante a crise, de acordo com ela, o banco deverá manter seu tamanho, mantendo a atual carteira de clientes. Como custo do capital ficou mais caro nos últimos meses, a base de hoje é suficiente para garantir rentabilidade à instituição sem que ela precise emprestar todos os recursos disponíveis. Essa tendência deverá se manter pelo menos até 2010.
Isso significa que novas operações serão feitas prioritariamente com clientes que o banco já tem. “Talvez com algum aumento no setor de ‘middle market’ e redução no de ‘upper-middle market´”, afirmou.
O ABC, segundo ela, não tem tido dificuldades em oferecer empréstimos para exportadores na modalidade de adiantamento de contrato de câmbio (ACC), ou pré-embarque, tipo de crédito bastante utilizado pelos operadores de comércio exterior, mas que se tornou escasso nos últimos meses. “Temos recebido bastante demanda por ACCs, e estamos renovando tudo o que já venceu com nossos clientes”, declarou. “Não estamos deixando de atender as renovações.”
Bancos islâmicos
Num cenário de escassez de crédito internacional, de acordo com Angela, o ABC Brasil vai voltar a buscar com maior intensidade recursos no sistema financeiro islâmico e batalhar para convencer bancos islâmicos a participar de operações que não sejam capitaneadas pela própria instituição, mas por terceiros. Ela acrescentou que conta com parceiros nessa empreitada, como o Gatehouse, banco islâmico do Reino Unido.
A executiva destacou que, na crise, as instituições financeiras em geral tornam-se mais conservadoras, mas continua a existir interesse no Brasil. Como o marco regulatório do país não é adaptado ainda ao sistema islâmico, ela acredita mais, nesse momento, na possibilidade de empresas brasileiras lançarem mão de operações do gênero no exterior.