São Paulo – Nos últimos 20 anos, as exportações de calçados do Brasil para os países árabes alcançaram um novo patamar. De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), as vendas aos países do Oriente Médio e Norte da África saltaram de 2,792 milhões em 2003 para 3,288 milhões em 2022, um aumento de 17,7% no período. O pico nas remessas aos árabes foi registrado em 2014, quando 5,856 milhões de pares foram exportados. A queda se acentuou nos anos da pandemia. Desde 2022, as vendas começaram a se recuperar.
De acordo com a analista de Promoção Comercial da Abicalçados, Paola Pontin, os calçados brasileiros se consolidaram no mercado árabe, seja com suas marcas seja por meio do private label (quando uma empresa produz sob encomenda de uma marca específica), conseguem concorrer com os produtos asiáticos e são capazes de acompanhar a moda e as demandas específicas da região.
Paola avalia que o recorde nas exportações registrado em 2014 mostra que o mercado árabe pode absorver um volume maior de calçados brasileiros do que aquele exportado nos últimos anos. Em 2014, as receitas com exportações também foram recordes: somaram US$ 58,2 milhões. Em 2003, as vendas foram de US$ 17,3 milhões. No ano passado, o faturamento chegou a US$ 28,3 milhões.
“Nos últimos 20 anos, o setor se modernizou, passou a empregar novas tecnologias, investiu em automatização, o que ajudou o Brasil a se consolidar como o maior produtor do Ocidente. Também evoluímos muito nas exportações neste período”, diz Paola. A evolução se observa também, avalia Paola, na diversificação de polos produtores. Se, antes, essa indústria se concentrava no Sul do Brasil e em parte de São Paulo, agora cidades de todo o País, no Sul, Sudeste e até Nordeste, são centros produtores. “Isso é ótimo, porque impulsiona a economia, gera empregos”, diz.
Nestes 20 anos, a indústria calçadista também identificou demandas especiais de seus clientes, inclusive árabes. “Vimos que não havia um evento para ir como indústria. Percebemos que os clientes gostariam de vir ao Brasil, então passamos a estimular sua vinda, trouxemos os clientes, criamos uma agenda específica, realizamos visitas às fábricas (imagem acima). É uma iniciativa que traz resultado, cria uma imagem do Brasil”, afirma Paola. Isso não significa, contudo, que as empresas não participem de feiras. Uma dessas participações está prevista para novembro.
Neste ano até agosto, os principais compradores dos calçados brasileiros são Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Líbia, Arábia Saudita, Líbano e Marrocos. De forma geral, diz Paola, os clientes árabes seguem as tendências de moda ao comprar calçados. Pares de tênis e calçados confortáveis são duas demandas do momento. Em razão do uso dos véus, as mulheres árabes valorizam calçados e bolsas que se destacam, por isso, procuram sapatos de salto. Não é só: tanto homens como mulheres apreciam os calçados de couro. E, entre os homens, as sandálias também são objetos de sucesso. E o Brasil, diz Paola, consegue entregar a esses clientes diversidade e preço.
“Vemos um potencial enorme entre os países árabes, precisamos aproveitar e retomar o patamar que já tivemos ao colocar o Brasil como um grande produtor para consolidar mais”, afirma Paola.