São Paulo – Após o Brasil bater recordes de exportações e importações no ano passado, exportadores brasileiros traçam cenários positivos para o comércio exterior do País também em 2011. A tendência é de crescimento puxado pela demanda internacional por commodities, no caso das vendas externas.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), por exemplo, prevê que os embarques de produtos brasileiros vão render US$ 226 bilhões este ano, ante US$ 202 bilhões em 2010. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), por sua vez, estabeleceu a meta de US$ 228 bilhões.
Para o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, as importações devem também continuar a crescer, assim como o superávit comercial, que, pelas estimativas da entidade, deverá ficar em US$ 26 bilhões, contra US$ 20,3 bilhões no ano passado. Se isso efetivamente ocorrer, haverá uma mudança na tendência observada em 2010, quando as exportações avançaram menos do que as importações e o saldo diminuiu.
“Pode parecer surpresa”, disse Castro. “Mas a previsão é de que as cotações das commodities continuem subindo”, acrescentou. O Brasil é grande produtor e exportador de commodities agrícolas e minerais, altamente demandas hoje pelo mercado internacional.
Ao mesmo, tempo, de acordo com ele, medidas que estão sendo tomadas pelo governo, para conter o crédito e controlar a inflação, devem arrefecer o consumo interno, não a ponto de retrair o mercado, mas o suficiente para gerar mais excedentes exportáveis a preços competitivos.
Some-se a isso a disponibilidade de crédito para o financiamento de comércio exterior ao redor do mundo. “Há crédito suficiente”, disse José Farhat, da Pankommerz Representação Comercial. “Estou vendo este ano com muito otimismo”, acrescentou ele, com o conhecimento de quem tem experiência de décadas no ramo.
Commodities
Também em sua opinião, as commodities vão permanecer em alta e o complexo soja continuará a ser o carro chefe no setor agropecuário. “Sem dúvida é onde o Brasil está ganhando dinheiro”, declarou, acrescentando que “2011 será muito proveitoso” para a área de grãos como um todo.
De modo geral, porém, o minério de ferro deverá liderar as vendas brasileiras de commodities. Segundo Castro, as exportações do produto podem chegar a US$ 39 bilhões, ante US$ 29 bilhões no ano passado.
Além desses dois itens, outros produtos de destaque nas exportações, de acordo com Castro deverão ser o açúcar, café, petróleo – com o aumento da produção nacional -, e o ouro, que já está com uma cotação bastante alta.
Farhat, por sua vez, pretende explorar alguns nichos de mercado “que já deveriam ter sido alvo de maior atenção dos exportadores brasileiros”, principalmente no Oriente Médio. Ele citou como exemplo um derivado de soja bastante utilizado na fabricação de rações para animais na Arábia Saudita e o próprio café.
Apesar de o Brasil ser o maior exportador mundial de café, o mercado árabe tem pouco peso nas exportações nacionais. “Praticamente todos [os países do Oriente Médio] compram de intermediários na Europa e até nos Estados Unidos. Temos que furar [essa triangulação]”, afirmou Farhat.
Para Ulisses Brambini, da Bello Papaya, que produz e exporta mamão, o mercado externo promete em 2011. “O mercado externo está comprando bem. A maior dificuldade é a moeda, mas mesmo assim ele está superando o interno”, disse, referindo-se à baixa cotação do dólar frente ao real, que tira competitividade dos produtos brasileiros lá fora.
Ele exporta principalmente para a Europa, Estados Unidos e Canadá, mercados que, após um período de retração durante a crise financeira internacional, voltaram a comprar a fruta até em volumes maiores.
Câmbio
O real valorizado continua a ser a principal preocupação dos exportadores brasileiros. “O governo precisa afinar a política cambial”, opinou Marcos Goulart, da Alliance Commodities.
Ele sugeriu, por exemplo, maior taxação do capital especulativo que entra no País. Não o suficiente para tirar a atratividade do mercado financeiro nacional, mas com o objetivo de tirar um pouco de moeda estrangeira de circulação e elevar a cotação do dólar. Castro acrescentou que o real em alta inibe a exportação de produtos brasileiros manufaturados.
A Alliance era especializada em lácteos, mas diversificou seu portfólio de produtos, pois o preço do leite brasileiro está muito alto, por conta da demanda interna, e não consegue competir atualmente no mercado global.
Leonardo Bonaparte, da trading Azimut e representante comercial do laticínio Tangará, conta que não há por enquanto grandes expectativas de retomada das exportações de lácteos. “Não no primeiro semestre, pelo menos”, afirmou. Recentemente ele começou a trabalhar com outros itens para exportação, como margarinas e maioneses, e vê boas perspectivas de vendas para África, Oriente Médio e Caribe.
Na seara das compras internacionais, Castro acredita que, em 2011, continuarão a ter destaque bens de capital e matérias-primas em geral. Farhat, por sua vez, disse que vai investir na importação de fertilizantes do Oriente Médio, região que é grande produtora. O Brasil tem grande dependência da importação desses insumos agrícolas. Ele quer também atrair capital árabe para projetos agropecuários no Brasil.