São Paulo – As exportações brasileiras para o mundo árabe renderam US$ 6,41 bilhões no primeiro semestre deste ano, um crescimento de 33% sobre o mesmo período de 2010, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) compilados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Os números não incluem a Líbia, país em conflito civil.
As principais mercadorias exportadas foram as carnes, açúcar, minérios, cereais, óleos vegetais, bens de capital, aeronaves, sementes e grãos oleaginosos e produtos de ferro e aço. Houve avanço nas vendas de todos esses itens, com destaque para o minério de ferro, trigo e óleo de soja.
No caso dos alimentos, o CEO da Câmara Árabe, Michel Alaby, destaca o esforço de vários países da região para formar estoques reguladores, uma vez que a produção local é insuficiente. A proximidade do mês muçulmano do Ramadã, marcado por jejuns durante o dia e comida farta à noite, pressiona ainda mais a demanda.
“A formação de estoques ocorre para tentar controlar a inflação”, declarou Alaby. O aumento de preços é uma das principais preocupações econômicas do mundo árabe e serviu como catalisador dos protestos que se espalharam pela região este ano.
Um item em especial chamou a atenção no primeiro semestre: o trigo. Isso porque o Brasil não é tradicional exportador dessa commodity. Pelo contrário, a produção nacional abastece somente metade da demanda interna.
No entanto, as condições dos mercados nacional e internacional na primeira metade do ano permitiram a exportação de grandes volumes. De acordo com o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul, Rui Polidoro Pinto, o trigo produzido na última safra, qualificado de "brando", não é o mais indicado para a indústria da panificação nos moldes brasileiros.
Nesse sentido, houve acúmulo de excedentes exportáveis. "A produção foi bem alta, acima da média", afirmou Polidoro. Os três estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) concentram a cultura do trigo no Brasil.
Este trigo pode, porém, ser utilizado na fabricação de massas e biscoitos, na produção de rações animais e também para fazer pães que não precisam crescer, como o pão árabe.
Polidoro acrescentou que houve incentivo estatal para transportar o excedente dos armazéns para os portos, liberando espaço para a safra de soja, e o preço no mercado interno não era dos mais atrativos, uma vez que, com o dólar em baixa, o preço do trigo importado ficou mais competitivo.
Ocorreu ainda, segundo o executivo, quebra de safra em regiões exportadoras, como Rússia, Estados Unidos, Europa e Austrália, o que pressionou a demanda internacional e beneficiou os produtores brasileiros.
Como foram necessários vários fatores para que o Brasil exportasse um volume considerável de trigo, não há como dizer se eles vão se repetir. Polidoro informou, porém, que os estoques internacionais continuam abaixo da média histórica, ou seja, há demanda. "Não é possível dizer se [o quadro do primeiro semestre] vai se repetir, mas se houver possibilidade o produtor vai exportar", destacou.
Minério
No que diz respeito ao minério de ferro, o economista Luciano Borges, consultor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), disse que a demanda está aquecida no Oriente Médio. Nos países do Golfo, a energia barata fornecida pelo gás garante baixo custo na produção de pelotas a partir de finos importados. Os finos são produtos menos nobres da mineração que precisam ser transformados em pelotas para uso na siderurgia. Além disso, a região investiu na indústria do aço nos últimos anos para aproveitar a disponibilidade de energia.
O economista lembrou que as exportações para estes países servem para abastecer outras regiões. Em Omã, por exemplo, a brasileira Vale mantém um empreendimento industrial e portuário com este objetivo.
Mas não foi só para países do Golfo – a Arábia Saudita em especial – que as vendas aumentaram. O minério ocupou o primeiro lugar da pauta das exportações brasileiras ao Egito no primeiro semestre. "Houve aumento do consumo interno no Egito apesar da crise", disse Borges, referindo-se aos protestos que culminaram com a renúncia do ditador Hosni Mubarak. Ele destacou que agentes comercias em busca do produto para o mercado egípcio estão bastante ativos no Brasil.
Michel Alaby acrescentou que, com a crise política, houve paralisação da indústria egípcia, que agora retomou suas atividades. Segundo ele, há demanda por aço em setores fortes no país, como a construção civil e o ramo automotivo.
Borges disse ainda que alguns países árabes compravam minério da Índia, que passou a restringir as exportações, o que gerou impacto no mercado internacional. "Eles estão buscando outras fontes de minério", declarou.
Leia mais sobre o comércio do Brasil com o mundo árabe nesta quinta-feira (14).