São Paulo – Tatuar artes inspiradas não só na estética, mas também na história da arte islâmica e árabe e da cultura folclórica do Oriente Médio, é o ofício de Marcus Abraham Mubarack (foto acima) desde 2013. O gaúcho decidiu imprimir na pele os temas pelos quais é curioso desde pequeno. “Eu estudava História e Antropologia na faculdade. Não cheguei a me formar, mas desde sempre sou super ligado nisso”, lembrou o tatuador.
De origem árabe, Mubarack lembra o quebra-cabeça que vem montando para reconstituir os passos da família até o Brasil. No lado paterno, a migração veio da região fronteiriça entre Turquia, Síria e Iraque, no início dos anos 1910. “Fui juntando uns pedacinhos do que cada um contava. O que sei que é da família paterna, eles vieram dessa parte otomana, no fim da 1ª Guerra Mundial. E da família da minha avó vieram fugidos do genocídio assírio, eles eram cristãos lá. Aqui, minha avó conheceu o meu avô, que era do Egito”, lembra ele.
Em Gramado, Rio Grande do Sul, onde nasceu, a família era uma das únicas com raízes árabes. “Na cidade inteira, meu pai era [conhecido como] o turco. Aquela região do [Oriente Médio] é um amalgamado de coisas que formam uma unidade identitária. Tem vários grupos que se sobrepõe. Mas onde morávamos não tive tanto contato com isso. Quando vim para Porto Alegre, conheci mais pessoas com famílias que vinham do mesmo contexto. Aqui, pude me aprofundar mais, porque tem mesquita, restaurante árabe”, revela o artista.
História e tatuagem
O gaúcho chegou a ingressar no curso de História em uma faculdade de Novo Hamburgo e, quando passou a pesquisar movimentos artísticos no Oriente Médio. No período, ele iniciou o trabalho como tatuador. “Eu desenhava desde moleque, mas nunca foi minha intenção [trabalhar com isso]. Comecei a tatuar para bancar os estudos”, revelou Mubarack.
O caminho na arte contou com referências dentro da própria família, que tinha pessoas ligadas a bordado, artesanato em madeira, teatro e até cuidado com plantas. Somado a isso, Mubarack incorporou técnicas e inspirações em mosaicos, caligrafia e arte árabes e miniaturas persas. “Uma coisa que gosto da arte folclórica é que é uma expressão mais coletiva do que individual. São coisas ‘padronadas’, que todo mundo conhece, mas não têm assinatura. É enxergado como arte do coletivo”, apontou.
Atualmente vivendo e trabalhando em Porto Alegre, o artista costuma visitar outras cidades, como São Paulo e Curitiba, onde trabalha no estúdio de parceiros. “Mas trabalho também com pintura, ilustração. Como o que fiz para o desoriente-se”, explica ele, citando a arte que desenvolveu para a marca da página de conteúdo voltada ao Oriente Médio.
O perfil dos que buscam as tatuagens de Mubarack é variado. De professores e estudiosos das Ciências Humanas, até pessoas se encanta com a estética das obras. Já as ilustrações, estão ao alcance de ainda mais pessoas.
Na capital paulista, o artista tem parceria com a Galeria Estranho, que faz reprodução e comercialização das ilustrações dele em fine art, formato de impressão com alta qualidade. “O bacana é que eles fazem esse trabalho de divulgação e venda e trabalham, inclusive para fora. Tem muita procura no exterior. Vejo que tem muita gente do Irã. No Líbano também tem muitos coletivos artísticos, e palestinos e gente da diáspora que seguem meu trabalho também”, explica ele.
Inspirações contemporâneas
As influências do tatuador são ainda mais abrangentes. Na lista de artistas árabes contemporâneos que inspiram o brasileiro estão os palestinos Burhan Karkoutly, Sliman Mansour, os iraquianos Afifa Aleiby, Hayv Kahraman, Wassma Al-Agha, Mahoud Ahmed, Faisal Laibi Sahi, Esther Elia, além de Louay Kayali, da Síria, e Hakim Al-Akel, do Iêmen.
Nos trabalhos, há ilustrações inspiradas em materiais políticos até ilustrações de livros infantis. “A região ali, como no Iraque, é super multicultural. Foi centro de conhecimento do mundo e acho muito legal que os artistas trazem bastante isso. É legal trazer isso para tatuagem, que é tido como algo mais popular. É uma forma de me apropriar de uma cultura que é minha também”, concluiu.