São Paulo – Um dos vestidos é todo estampado. De longe, as suas figuras, em branco e preto, parecem quadrinhos. De perto dá para ver que são emblemas de Alice nos País das Maravilhas, Robinson Crusoe, com algumas pinceladas de colorido. Ele tem babado e é preso por alças, ao estilo moça bonita e feliz. O outro vestido é em tom de verde, tecido leve, deixa um ombro à mostra. Curto, ele exibe quase sem querer um outro vestido, embaixo, sobreposto, de pano em azul e em vermelho, com capuz. Moça sensual.
As duas peças acima fazem parte das coleções de indústrias de confecção fluminenses e são um exemplo do jeito criativo do estado do Rio de Janeiro fazer moda. Além da qualidade, é a mania de inventar, e inventar muito, que faz das confecções cariocas as que exportam com maior valor agregado no Brasil. O primeiro vestido citado é da Cantão, empresa carioca que exporta para sete países. O segundo é da Espaço Fashion, também carioca, que se prepara agora para embarcar suas peças para Portugal e Espanha.
“O lifestyle carioca influencia as nossas criações. A feminilidade, a leveza e o frescor são a cara da nossa cidade e estão presentes nas nossas coleções”, diz Bianca Bastos, uma das sócias e diretora administrativa da Espaço Fashion. A diretora da marca Cantão, Renata Mancini, afirma que a leveza, o conforto e o colorido, que são a cara do Rio, também estão nas peças da empresa. As roupas exportadas pela Cantão são justamente, segundo Renata, as com estamparia, bordados. “As mais artesanais”, diz ela.
Para se destacar no mercado nacional e externo, a Cantão investe pesado em criação. A empresa tem uma direção de estilo, mas possui um estilista para cada segmento em que atua: jeans, malha, tecidos, calçados e acessórios. A empresa exporta desde 2003 e seus produtos chegam a Portugal, Austrália, Japão, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Itália e Estados Unidos. São fabricadas, na indústria, 1,4 milhão de peças ao ano, das quais cerca de 2% vai para o mercado externo.
A Espaço Fashion, que acaba de fechar a sua primeira exportação, se prepara para destinar 15% da produção ao exterior. “Temos uma grande preocupação em ter design, qualidade e tendências atreladas a um produto de moda. Junto a isso, temos um constante trabalho de imagem, desde o merchadising até as campanhas, o que reafirma nosso posicionamento e, é claro, atrai olhares”, diz Bianca. A empresa tem 16 lojas próprias e duas franquias no Brasil, além de vender em 150 estabelecimentos multimarcas.
Uma estratégia
O sucesso que as duas marcas estão conseguindo no mercado internacional confirma uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). O levantamento indica que o estado tem o maior preço médio de produtos exportados, no segmento, no Brasil. O mercado externo paga US$ 79,36 por quilo de roupas produzidas no Rio. Isso faz parte da estratégia do estado de fabricar produtos de maior qualidade, segundo o assessor do Centro Internacional de Negócios da Firjan, João Paulo Alcântara Gomes.
Gomes explica que três fatores fazem as confecções do estado venderem produtos de maior valor agregado: o investimento em design, a durabilidade dos produtos, além da estratégia de acesso a mercados. A pesquisa da Firjan aponta que 73,41% das exportações de moda do Rio foram para países desenvolvidos no primeiro quadrimestre deste ano. Levando em conta apenas estes mercados, o preço médio do quilo chegou a US$ 93,05. A União Européia paga US$ 115,37 pelo quilo de produtos do estado Rio.
A estratégia fez com que o estado tivesse um desempenho, em exportações de moda, acima do brasileiro. Enquanto o Brasil enfrentou queda de 12,21% no quadrimestre em relação ao mesmo período de 2007, as confecções fluminenses aumentaram suas vendas externas em 3,83%. O Rio respondeu no período por 12,24% das exportações de vestuário do país. De acordo com Gomes, a indústria têxtil do Rio é formada principalmente por pequenas empresas.