Riad – A Arábia Saudita está mudando, e rápido, na esteira do plano plurianual de abertura e diversificação da economia chamado de Visão 2030. A reportagem da ANBA esteve no país no final de outubro, para acompanhar a visita do presidente Jair Bolsonaro, e pôde verificar in loco algumas das mudanças ocorridas recentemente.
Ao desembarcar no Aeroporto Internacional Rei Khalid, em Riad, já é possível ver um número considerável de mulheres trabalhando, coisa rara há pouco tempo. A mesma coisa se repete em hotéis, no comércio, restaurantes e em órgãos e eventos públicos. Na última vez em que a reportagem havia estado na capital saudita, em 2017, a presença feminina em postos de trabalho era bem menos visível, e na primeira visita da ANBA ao país árabe, em 2008, praticamente inexistente.
Esta mudança no cenário é reflexo de uma série de políticas adotadas nos últimos anos com vistas a ampliar a participação das mulheres na economia, partindo do pressuposto que era economicamente insustentável manter praticamente metade da população saudita fora do mercado de trabalho.
São medidas que dão às mulheres direito a fazer as coisas por conta própria, sem necessidade de autorização de homem da família ou guardião, como viajar pelo país e ao exterior, abrir empresas, frequentar estádios e dirigir.
A liberação para dirigir gerou outra mudança que pode ser facilmente vista nas ruas. A Riad moderna é uma cidade feita para o automóvel, lembra um pouco Brasília nesse sentido, e basta olhar para os lados para ver mulheres ao volante.
A Arábia Saudita é um país extremamente conservador sob o ponto de vista dos costumes, o que fica claro no rígido código de vestimenta local. As mulheres saem de casa com os cabelos cobertos e com a uma “abaya” – espécie de túnica – sobre as roupas. Agora, no entanto, é possível ver mulheres estrangeiras em locais públicos sem estas vestimentas tradicionais.
Nas diversas vezes em que a reportagem da ANBA esteve na Arábia Saudita, uma presença constante era a da Comissão para a Proteção da Virtude e Prevenção do Vício, conhecida popularmente como Polícia Religiosa ou Haia.
Era comum ver um “mutawa” – como são chamados os agentes desta instituição – mandando uma mulher cobrir a cabeça, ordenando o fechamento de uma loja durante os horários de reza ou dizendo para um homem que estivesse à toa nestes momentos para ir a uma mesquita fazer suas orações. A reportagem não viu isso ocorrer nenhuma vez nesta última viagem, embora tenha estado em lugares e participado de eventos com enorme aglomeração de pessoas.
Lazer
Mais impressionante ainda é a proliferação de eventos públicos de lazer e entretenimento, coisa inexistente há pouco tempo. Ocorre desde 11 de outubro e até 15 de dezembro, por exemplo, a Riyadh Season (“Temporada de Riad”, em tradução livre), um festival das mais variadas atrações divididas em 12 áreas temáticas espalhadas pela capital. São shows, eventos esportivos, apresentações circenses, exposições, eventos gastronômicos, teatro, cinema e diversas outras atividades.
A reportagem esteve em uma destas áreas temáticas, bem no centro da cidade, em frente ao antigo forte Al Masmak (foto do alto) e na adjacente Praça Dirah, chamada de “Nabd Al Riyadh”, ou “Pulsação de Riad”, em tradução livre. Lá, um festival de luzes coloridas iluminava a fortaleza e outros prédios ao redor, um músico interpretava músicas de inspiração oriental de um lado, e de outro uma artista tocava violoncelo, enquanto artesãos vendiam suas peças em barracas e o público apreciava comida de rua.
Vale lembrar que, na linha religiosa adotada na Arábia Saudita, homens e mulheres sem grau de parentesco não devem se relacionar, então era comum a segregação entre sexos nos mais diversos lugares, como restaurantes e shopping centers. Naquela praça e outros locais visitados pela reportagem na última semana de outubro, porém, essa separação desapareceu. Homens, mulheres, casais jovens e crianças ocupavam juntos o espaço público.
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A Riyadh Season faz parte de uma série de festivais do gênero que a Arábia Saudita vem promovendo desde o início do ano, num total de 11. Nesta sexta-feira (22), começou uma outra, a Al-Diriyah Season, com a primeira etapa do Campeonato Mundial 2019/20 da Fórmula E, categoria de automobilismo com carros elétricos. Diriyah é uma cidade histórica colada a Riad e a programação de sua “Temporada” será centrada em esportes.
Além de oferecer lazer para a população local, as Saudi Seasons têm por objetivo atrair turistas estrangeiros ao país, outra das metas do programa Visão 2030. Até há pouco tempo, só era possível visitar a Arábia Saudita a negócios ou para fazer a peregrinação a Meca, mas agora o governo passou a emitir vistos de turismo e a facilitar a emissão para diversos países. O Brasil e o país árabe até assinaram um acordo para facilitação de vistos durante a visita de Bolsonaro.
De acordo com informações da Autoridade Geral de Entretenimento da Arábia Saudita (GEA, na sigla em inglês), as atrações da Riyadh Season já atraíram até agora mais de 6,5 milhões de visitantes e pelo menos 100 mil turistas estrangeiros.