São Paulo – O doutor em Arqueologia Egípcia e coordenador do Programa Arqueológico Brasileiro no Egito (Bape, na sigla em inglês) José Roberto Pellini (foto acima) relatou suas experiências nas tumbas tebanas da região de Qurna, que fica em Luxor, no Alto Egito, durante evento promovido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na manhã desta quarta-feira (03).
Na conferência “Materialidades transitórias: a experiência do programa arqueológico brasileiro em Qurna”, Pellini falou sobre os últimos avanços dos trabalhos de escavação da Tumbas Tebanas 123 (TT-123) e TT-368, também conhecido como projeto Amenemhet, que teve início em 2015. Esta é a primeira missão arqueológica ao país árabe chefiada por um brasileiro e por uma universidade brasileira, a UFMG.
Pellini esteve pela última vez em Luxor em janeiro e fevereiro do ano passado, quando os arqueólogos encontraram um poço dentro da tumba. Este ano, os trabalhos estão suspensos por causa da pandemia, ele contou.
O poço, segundo Pellini, foi escavado e foram encontradas sete múmias, objetos faraônicos, itens modernos como fragmentos de garrafas de vidro e a existência de diferentes pisos. Cones funerários com o nome do proprietário da tumba, Amenemhet, também foram encontrados.
Em janeiro de 2020, eles ainda se dedicaram à escavação da sala das estátuas, em que encontraram um novo poço nunca mapeado. “Com o avanço da escavação, constatamos que o poço levava à câmara funerária de Amenemhet. A escavação parou justamente quando retiramos os sedimentos que estavam bloqueando a entrada da câmara funerária. Foi possível ver uma grande quantidade de sedimentos e pedras, mas não foi possível ver se havia ou não o sarcófago com o corpo de Amenemhet”, lamentou Pellini. Os trabalhos de conservação e restauração também tiveram início em 2020, com a participação de docentes do departamento de Belas Artes da UFMG, ele contou.
Pellini também falou sobre um experimento ambientando a tumba à luz de velas eletrônicas e cortando a luz natural, partindo da ideia que as tumbas podem ter sido habitadas à noite, tanto no período faraônico quanto no período moderno. “Começamos a perceber o espaço de uma maneira muito diferente (…) conforme andávamos com as velas nas mãos, as imagens nas paredes pareciam se mover”, relatou.
O arqueólogo também relatou ter encontrado fezes de animais nas paredes e descobriu que, como no inverno o frio é muito intenso no deserto, os qurnawis tinham que cuidar de seus animais dentro das tumbas. Eles utilizavam o esterco seco, misturado com palha e talos de cana-de-açúcar, como combustível para acender uma chama e se aquecer. “A tumba era um estacionamento de burros em 1932”, disse.
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O planejamento para 2022, segundo Pellini, é terminar a escavação do que pode ser uma câmara funerária que encontraram no ano passado e a abertura de um outro poço que ainda não se sabe onde vai dar. “Se tivermos financiamento, esse trabalho deve levar cinco anos, pelo menos, e também iremos iniciar o trabalho de conservação e restauração”, contou.
O evento aberto ao público contou com a presença do embaixador do Brasil no Egito, Antonio Patriota, do professor diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de UFMG, Bruno Reis, e da reitora da universidade, Sandra Regina Almeida.
O embaixador afirmou que a equipe de Pellini inseriu o Brasil no panorama da arqueologia egípcia e lembrou que o fascínio dos brasileiros por essa civilização não é de hoje, mencionando a coleção egípcia de Dom Pedro I e as viagens de Dom Pedro II ao país árabe. Ele também falou da importância dessa iniciativa para a descolonização dos olhares – “um olhar direto, sem intermediação” – dos brasileiros sobre outros países em desenvolvimento, no caso o Egito.
Assista a conferência na íntegra: