*Por Qais Shqair
Após dez anos estudando documentos, manuscritos e dicionários, por meio de sólido e consistente método científico, a linguista Tahia Abdel-Aziz Ismail concluiu que o árabe é a origem de todas as línguas, incluindo o latim e suas sublínguas.
Seu livro que trata desta tese, editado em inglês, traz uma tabela de expressões comparativas comuns usadas em árabe e em cada uma das seguintes línguas: latim, inglês, anglo-saxão, francês, línguas europeias antigas, grego, italiano e sânscrito.
Pelo referido método de estudo, o livro chega à conclusão que a língua árabe se mesclou com diferentes línguas e com um número significativo de vocabulários comuns, apesar dos continentes e oceanos que separam os povos.
A autora concluiu, de forma definitiva, que a língua árabe foi a origem e a principal fonte de outras línguas que serviram de canais ou fontes secundárias para aquela raiz linguística principal. O autor destaca o seguinte: “A vastidão e riqueza da língua árabe contrastam com as limitações e a relativa precariedade de outras línguas. A língua latina contém apenas setecentas raízes linguísticas, o saxão apresenta algo como duas mil raízes. O árabe, por sua vez, abriga dezesseis mil raízes linguísticas, além de uma capacidade aberta de evolução, derivação e composição de formação de palavras”.
Em inglês, por exemplo, a palavra “tall” significa alto, e a semelhança entre as palavras em inglês e árabe fica clara na pronúncia “taweel”, mas descobrimos que a palavra árabe vem com derivados ilimitados e estruturas com vários significados, como longo, distância, altura, duração, oblongo, etc., enquanto a palavra inglesa “tall” não gera significados extras, como o árabe faz.
O mesmo se aplica à palavra “good” em inglês e em árabe, ambas com pronúncia semelhante, “jayyed” em árabe. A palavra “good” em árabe significa ser bom, referindo-se ao mesmo tempo à qualidade, proficiência, generosidade, cavalos e muitos outros vocábulos.
Além disso, em árabe uma única palavra pode dar múltiplos significados simplesmente recorrendo à morfologia com sua forma mais simples. Por exemplo: a palavra “qatel” significa assassino, e “maqtoul” significa o oposto. Esse é o caso também, onde a palavra vem em um contexto. A palavra: “sa’el” pode significar “líquido”, “pobre”, alguém que faz uma pergunta, e assim por diante.
Comparado ao inglês, o árabe tem 25 vezes o dobro de vocábulos, com um total superior a 12 milhões, enquanto o inglês chega a 600 mil.
A letra árabe, o fonema em si, tem um simbolismo, um sentido e um significado distinto. A letra ح “Haa”, por exemplo, simboliza intensidade e calor, como em “humma” (“febre”), e “harara” (“calor”), “hobb” (“amor”), “heqd” (“ódio”) e outros.
Enquanto a letra “Khaa” خ representa tudo o que é odioso, ruim e repulsivo, como nas palavras: “medo” (“khawf”), “desgraça” e “vergonha” (“khezei”), “traição” (“kheyana”).
Escrevemos frases bem curtas em árabe como “I will not go”, com apenas duas palavras, muito menos do que em inglês. Os exemplos são muitos.
Ao traçar a história do árabe em termos de gramática, morfologia, formação de palavras e estrutura, percebemos que os métodos de composição e derivação são fixos e não mudaram ao longo de milhares de anos.
De fato, o horizonte da linguagem foi sempre se expandindo em termos de resultado de vocabulários conforme as ocasiões diversas ao longo do tempo. Esses formatos foram preservados por entidade, estrutura, regras e não foram sujeitos a dissolução ou distorção. Não foi o caso de outras línguas que ao longo do tempo foram sujeitas a distorções, acréscimos, apagamentos, fusões, abreviações e mudanças de regras ao longo do tempo.
Em alemão antigo, por exemplo, houve uma língua padrão específica ao norte e outra ao sul. Havia regras diferentes nas duas línguas, sobreposições, fusões, abreviações, distorções e mudanças.
Foi o que aconteceu com o latim e seus derivados, o grego e o anglo-saxão. Essa, especificamente é a razão por trás da escolha do árabe como a língua do Alcorão Sagrado. Serviu como um recipiente preservador das palavras sagradas do “Deus Todo-Poderoso”.
O árabe é uma língua muito rica com sinônimos abertos. Existem dezenas de nomes para o leão: ‘al-layth, al-ghanfar, al-sabaa, al-ribal, al-hazbar, al-dhargham, al-dhygham, al-ward, al-qasoura’ e muitos outros. Cada um deles reflete um atributo do leão. Paixão, da mesma forma, tem 17 sinônimos, cada um dos quais reflete um grau de paixão; o mais importante é ‘Mawaddeh’, que indica uma afeição eterna.
É totalmente compreensível que línguas de horizontes mais limitados emprestam recursos de outras línguas. Assim, o latim, o saxão e demais línguas europeias tomaram do árabe muitas palavras, pois o árabe é a primeira origem de todas as línguas, com sua gramática, evolução e formação de palavras, reveladas a Adão – que a paz esteja com ele – como o Santo O Alcorão diz: “E Ele ensinou a Adão todos os nomes.”
Esta é a língua árabe, a mãe de todas as línguas. Ele merece não apenas muita honra, mas o maior cuidado e atenção.
*O embaixador Qais Shqair é chefe da Missão da Liga dos Estados Árabes no Brasil
Traduzido por Elúsio Brasileiro