Isaura Daniel
São Paulo – O Instituto Militar de Engenharia (IME), universidade do Exército que fica do Rio de Janeiro, encontrou uma maneira de baratear a construção de estradas no Brasil. O Laboratório de Solos do IME criou um processo de transformação da argila que permite sua utilização na construção no lugar da pedra brita.
De acordo com o coordenador da pesquisa, o professor e coronel Álvaro Vieira, a argila calcinada, como é chamado o produto, pode custar menos da metade que a pedra britada. Ela pode ser usada para construção de asfalto ou como insumo do concreto, utilizado em pontes e prédios.
A pesquisa começou há cerca de oito anos e o patenteamento foi feito no final do ano passado. Para chegar ao produto final a argila é umedecida, tem o ar retirado e é comprimida em uma máquina extrusora. Quando sai, é posta para secar ao ar livre. Depois, vai para um forno de temperatura elevada, entre 800 e mil graus centígrados. No final ela é triturada como a pedra brita e então pode ser utilizada para a fabricação do concreto ou do asfalto.
Segundo Vieira, o produto precisa ser feito a partir de argila de propriedades químicas e físicas específicas, como a que tem minério da família das caulinitas.
A argila calcinada ainda não é feita em escala comercial, mas o processo de fabricação chegou a ser testado pela Cerâmica Ciframa, de Santarém, no Pará. A tecnologia, porém, está dominada e pode ser utilizada por empresas brasileiras ou estrangeiras com a permissão do IME. "A tecnologia pode ser aplicada em qualquer região do mundo", afirma Vieira.
Custos
A intenção dos pesquisadores, ao começar o trabalho, foi facilitar e baratear a construção de estradas na região amazônica, onde há falta de pedras. O metro cúbico de pedra brita, na região de Santarém, custa cerca de R$ 100, enquanto que a argila calcinada deve ter um custo de cerca de R$ 40 o metro cúbico.
"Nosso interesse é incentivar o desenvolvimento da região da Amazônia, que é a menos atendida do Brasil em transporte", afirma o professor. De acordo com Vieira, o IME não pretende ter benefícios financeiros a partir da tecnologia. A patente foi registrada, segundo o pesquisador, apenas para garantir a continuidade da pesquisa.
Apesar do processo já estar pronto para a utilização, a universidade está estudando novas aplicações para o produto. De acordo com Vieira, durante os testes a argila calcinada se mostrou mais resistente do que as pedras extraídas, por exemplo, de pedreiras do Rio de Janeiro.
Instituto
A pesquisa foi desenvolvida por Vieira em conjunto com outro professor do IME, Luiz Antônio Silveira Lopes, na secção de Engenharia de Fortificação e Construção do Laboratório de Solos da universidade. No total trabalharam na pesquisa, desde que ela iniciou, 12 pessoas, entre professores, alunos e técnicos.
O IME oferece cursos de graduação, mestrado e doutorado em engenharia para militares e civis. Ao ano ingressam cerca de 100 alunos civis e cerca de 20 militares. Os cursos são gratuitos. São oferecidos dez tipos de engenharia na graduação, entre as quais Elétrica, Eletrônica, de Computação, Cartográfica e de Comunicações.
Contato:
Instituto Militar de Engenharia (IME)
Telefone: +55 (21) 2541 7931
Site: www.ime.eb.br