São Paulo – Apesar de o Brasil ser um grande mercado para azeite, as marcas de países árabes ainda têm uma presença pequena no País. Dados fornecidos pela Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva) mostram que a Tunísia, Líbano, Síria e Marrocos exportaram para o Brasil 485,7 toneladas do produto entre janeiro e outubro. O volume significou 0,92% do total comprado pelo País do exterior no período, que foi de 52,7 mil toneladas.
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A presidente da Oliva, Rita Bassi, afirma que os países árabes produzem azeite de qualidade, mas que não são conhecidos no mercado brasileiro pelo produto. “A Tunísia tem vendido azeite para o mundo inteiro”, disse Bassi à ANBA, após participar de uma reunião com representantes do setor na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista.
A Tunísia vendeu ao Brasil 459,3 toneladas nos primeiros dez meses do ano, o Líbano enviou 25 toneladas, a Síria embarcou 1,3 tonelada e o Marrocos 130 quilos. Os quatro estão, respectivamente, na sexta, nona, 13ª e 15ª posição como fornecedores de azeite para o Brasil. Na primeira, segunda e terceira posições estão, por ordem, Portugal, Espanha e Argentina. Só Portugal enviou 31,5 mil toneladas.
A presidente da Oliva afirma que os árabes precisam mostrar seus países no mercado brasileiro, falar sobre a produção de azeite que têm e definir os segmentos em que querem atuar, como o premium ou médio. De acordo com Bassi, por enquanto o que ocorre no País são principalmente vendas ocasionais de azeite árabe.
Ela ressalta a participação das marcas árabes na feira supermercadista Apas Show, promovida pela Associação Paulista de Supermercados. Bassi entende que é interessante essa presença para que as empresas tenham um panorama do mercado brasileiro, mas ela acredita que só a participação não é suficiente para gerar grandes negócios. “É preciso mostrar o país”, afirma, sugerindo ainda que as marcas tenham uma pessoa local para auxiliá-las nesse processo.
O Brasil é um considerado um mercado muito importante para azeite no mundo, tanto que o País tem possibilidade de se tornar membro do Conselho Oleícola Internacional (COI), órgão máximo do setor de azeite no mundo. A Oliva é membro do conselho. Rita Bassi explica que há cerca de dois anos, o COI abriu a possibilidade de ter países membros pelo consumo, o que até então só era possível a nações produtoras. “A produção do Brasil é irrelevante”, afirma.
A produção pequena, a população numerosa e a extensão territorial fazem do País um mercado importante para o azeite importado. Sem falar que os brasileiros estão consumindo mais o produto, segundo Bassi. “O azeite é um aspiracional, se tornou moda, as pessoas não querem estar fora disso”, diz a presidente da Oliva. De acordo com ela, mesmo as classes C e D no Brasil procuram boas marcas de azeite e qualidade no produto.
A presidente da Oliva acredita que a moda gastronômica no Brasil e também a busca pela saudabilidade favorecem o mercado de azeite. “E o Brasil tem essa moda gourmet, as pessoas quererem ir para a cozinha, a cozinha virou terapia, a quantidade de chefs que existe hoje em dia, as disputas como MasterChef, as pessoas estão em volta da comida”, afirma.
O brasileiro também deixou de usar azeite apenas na salada. “Hoje temos entradas com azeite como ingrediente. Você coloca uma torradinha, alguns temperos e uma garrafa de azeite e as pessoas usam isso como uma entrada. Vamos refogar o alimento? Com azeite. Fritura? O azeite é a gordura que mais consegue se estabelecer em alta temperatura sem se degradar”, afirma Bassi.
Houve, no entanto, alguma diminuição das importações em função da crise econômica brasileira, de acordo com Bassi. “Mas isso não é uma dádiva da nossa categoria”, ironiza, lembrando que a crise afetou vários setores. Além disso, o grande consumo de azeite no Brasil ocorre em duas datas específicas: Natal e Ano Novo. E o maior mercado é o Rio de Janeiro, apesar de São Paulo ter grande importância no consumo, segundo Bassi.
O Brasil tem poucas iniciativas de produção de azeite, principalmente no Rio Grande do Sul e na Serra da Mantiqueira, e a presidente da Oliva acredita que isso não mudará tão cedo. Ela cita que os olivais estão tendo problemas para florescer. Também há o tempo que uma oliveira leva para dar frutos – de três a quatro anos – e o fato de que é preciso uma quantidade grande de azeitonas para produzir um litro de azeite. “É algo que vai demorar”, afirma.
De acordo com Bassi, as perspectivas atuais do mercado brasileiro de azeite são boas. “A colheita está indo bem”, afirma, sobre a safra de azeitonas que começou em outubro na Europa. Uma colheita abundante diminui os preços e favorece o consumo.
A Oliva reúne os produtores, importadores e comerciantes de azeites. A Câmara Árabe é associada da entidade. De acordo com Bassi, as marcas árabes também podem se associar se estiverem vendendo no Brasil. Entre as iniciativas da Oliva, ela desenvolve um programa de controle de qualidade de marcas, faz discussões do setor, apresenta o mercado a estrangeiros e tem um trabalho importante no combate a fraudes em azeite no mercado brasileiro.