São Paulo – O governo brasileiro deve apresentar no próximo mês uma estruturação para o mercado nacional de créditos de carbono e espera ter os países árabes como compradores dos créditos e investidores na área. As informações são de palestra que o ministro do Meio Ambiente do Brasil, Joaquim Leite (foto acima), fez nesta sexta-feira (01), na capital paulista, para associados da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
Voltando de reunião na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o ministro se mostrou entusiasmado com o papel que o Brasil pode ocupar na comercialização internacional de créditos de carbono, ajudando, com a vendas dos créditos, países e empresas a atingirem suas metas de redução de emissões. Ele acredita que o Brasil pode ter 25% desse mercado global, que é de US$ 100 bilhões.
Leite afirma que o custo para redução de emissões no Brasil será muito menor – pode chegar a apenas 10% – do que nos outros países. Ele diz que há casos de reduções de emissões fisicamente impossíveis ou economicamente inviáveis e acredita que o País pode entrar aí. Além disso, o ministro vê uma diversidade de áreas possíveis de explorar no Brasil, que ele chama de um pré-sal de energias renováveis. “O mundo vai olhar o Brasil, com certeza, como um player nesse mercado”, disse.
O ministro acredita que haverá oportunidade de os países árabes comprarem créditos no Brasil. Ele também vê os empresários da região como investidores em projetos geradores desses créditos no País, especialmente em produção de biometano para substituição de diesel, hidrogênio verde e energia eólica offshore. “Acho que esses três são setores nos quais os investidores árabes podem ter todo o interesse, para desenvolver aqui, aplicar recursos aqui, inclusive para a exportação”, disse.
O mercado voluntário de carbono já existe no Brasil e no mundo, mas os países vêm buscando a sua regulamentação. É para onde mira o governo federal, com a previsão de uma estruturação para o setor. “Desenhamos o mercado mais inovador do mundo”, disse Leite. Segundo ele, o mundo faz um mercado de carbono bastante intervencionista. “Nós entendemos que a gente pode fazer algo muito liberal, mas ao mesmo tempo na direção da redução de emissões”, afirmou o ministro.
Leite fez um breve apanhado do que pode ser essa regulamentação do mercado de emissões nacional, adiantando a criação de uma central de registros única, no governo federal, e a atuação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no reconhecimento dos ativos. Já existe, inclusive, um Projeto de Lei (PL) na área apresentado ao presidente da Câmara dos Deputados Federais, Arthur Lira.
O ministro explicou o momento atual como diferente daquele em que o Protocolo de Kyoto foi implementado, já que na época não existia uma demanda para créditos de carbono. Segundo ele, essa demanda nasceu em abril do ano passado, na Cúpula Mundial de Líderes pelo Clima, com a adesão de empresas. “É complexo esse mercado global, mas a demanda corporativa está dada, não vai acabar”, disse.
Na palestra, Joaquim Leite também relatou os seus dois dias de participação em reunião ministerial da OCDE, na qual esteve na quarta-feira (30) e quinta-feira (31). No encontro, o ministro apresentou projeto lançado pelo governo de produção de biometano a partir de resíduos orgânicos para substituição do uso de diesel em veículos pesados. Também falou dos projetos de geração de energia eólica offshore, com instalação dos equipamentos geradores em alto-mar, e de hidrogênio verde.
Ele disse que o Brasil foi muito bem recebido na reunião. “Eles entenderam que o Brasil é parte dessa solução”, contou. O ministro afirma que o Brasil tem atualmente uma oportunidade única de ser fornecedor de comida, de crédito de carbono e de energia renovável via hidrogênio verde ao mundo. “Se medir o Brasil pelo indicador ambiental, vamos estar na frente do comércio mundial, com certeza”, disse.
Câmara Árabe
O evento com a palestra do ministro do Meio Ambiente foi aberto pelo presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, que falou dos esforços da entidade para conectar árabes e brasileiros, buscando aumentar o engajamento com a sustentabilidade. Chohfi contou de algumas ações realizadas na área, como a organização do “Fórum da Sustentabilidade Econômica da Região Amazônica – Brasil e Emirados Árabes Unidos” na Expo 2020 Dubai, com a presença do vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão.
Chohfi também deu sua visão sobre o papel relevante do Brasil na área ambiental. “O Brasil, com sua biodiversidade inigualável, pode desempenhar um papel extremamente importante no futuro da economia verde”, disse. Ele lembrou do compromisso de redução de 50% da emissão de carbono pelo Brasil até 2030 e dos vários esforços que os países árabes estão fazendo pela sustentabilidade.