São Paulo e Cairo – Mais de dois séculos depois de Napoleão ter invadido o Egito, e levado consigo cientistas que deram início ao estudo da longa história do país, novas descobertas arqueológicas seguem sendo feitas com frequência. “Todos os dias são feitas descobertas ao redor do Egito”, disse Mohamed Ismail Khaled, diretor-geral do Departamento de Missões Estrangeiras do Ministério das Antiguidades da nação árabe. De acordo com ele, cerca de 250 missões científicas estrangeiras trabalham atualmente em pesquisas no território egípcio, fora as equipes locais.
Entre estas missões está uma composta por pesquisadores brasileiros, que já tiveram seu projeto aprovado pelas autoridades egípcias e devem começar a trabalhar em campo em março de 2017. “Vamos escavar duas tumbas na Necrópole Tebana”, disse à ANBA o professor de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), José Roberto Pellini, diretor-geral da expedição.
Além da UFS, a equipe contará com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Eötvös Loránd, da Hungria, e do próprio Conselho Supremo de Antiguidades do Egito.
Segundo Pellini, a iniciativa batizada de Brazilian Archaeological Program in Egypt (Bape) é a primeira missão brasileira do gênero e irá se concentrar nos sítios denominados TT (de “Theban Tomb”, ou “Tumba Tebana") 123 e TT 368, no chamado Vale dos Nobres, na localidade de Sheikh Abd El Qurna, na margem oeste no Nilo, em Luxor, no Alto Egito.
As tumbas pertencem a Amenemhet, escriba, supervisor do celeiro e contador de pães durante o reinado de Thutmosis III (1504 a 1450 a.C.); e Amenhotep, supervisor dos escultores do deus Amon na parte sul da cidade de Tebas, então capital do Egito. Ambos viveram durante a 18ª dinastia faraônica e, de acordo com Pellini, seus túmulos são ligados por uma passagem.
A equipe fará trabalhos de escavação, conservação, restauração, estudos de egiptologia, documentação, e análise e mapeamento dos arredores. As partes de conservação e documentação serão realizadas por especialistas egípcios. Segundo Pellini, para março de 2017 está programado o início da primeira etapa do programa. O projeto como um todo deverá durar de cinco a seis anos.
Experiência única
O professor da UFS já tem experiência neste tipo de pesquisa, pois de 2008 a 2012 atuou como coordenador-geral de escavações de um projeto da Universidade de Tucumã, da Argentina. A escavação ocorreu em Luxor no sítio denominado TT 49, tumba de Neferhotep, um sacerdote de Amon também da 18ª dinastia. “É a única tumba que tem o templo de Karnak (em Luxor) retratado [na decoração]”, disse Pellini, que é doutor em Arqueologia Egípcia.
Na época, Pellini era professor da UFMG. “Depois [do trabalho com a equipe argentina], o Serviço de Antiguidades de Luxor nos convidou para desenvolver um projeto nosso (brasileiro)”, contou. “O Egito é fascinante, amo de paixão”, acrescentou.
As missões estrangeiras que promovem pesquisa no Egito hoje são de 30 países. “Ficaríamos felizes de ter ainda mais missões do Brasil”, comentou o ministro egípcio das Antiguidades, Khaled El Enany.