São Paulo – Ter bons controles financeiros para formação de relatórios gerenciais facilita a captação de recursos por empresas no mercado e até os barateia. A dica foi dada na última terça-feira (20) pelo professor doutor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Claudio Jorge Monteiro, em palestra a empresários e executivos na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista.
“O que o mercado não sabe ele desconta no preço, o preço do crédito sobe, fica mais caro, mais difícil”, afirmou o especialista sobre a importância de ter informações sobre a empresa organizadas e disponíveis. Monteiro abordou dois tipos de captação de recursos por companhias, uma delas junto aos bancos, e a outra no mercado de equities, que pode ser abertura de capital, venda de participação, entrada de novos sócios, saída de sócios, etc.
Para os dois casos de captação, Monteiro afirmou que ter relatórios gerenciais é essencial, já que eles são praticamente um idioma no mercado. “É fundamental para que o mercado consiga se comunicar com a empresa e saber se ela vai bem ou mal”, afirmou. Entre os controles importante ele citou o de caixa, tesouraria, de contas a pagar e a receber, que juntos dão a medida de desempenho da empresa e podem ser usados para ter taxa de juros menor.
Esses relatórios gerenciais, no entanto, não devem conter erros ou ser inconsistentes. “Isso pode levar o banco a enxergar mais riscos do que há”, falou Monteiro. No caso do mercado de equity, a empresa pode ser vendida por um valor abaixo do real. Entre os erros que podem ocorrer em relatórios o professor citou a confusão entre pessoa jurídica e pessoa física. Incluir no balanço despesas pessoais dos sócios pode afetar o resultado para pior. Há ainda falhas técnicas, não contabilizar determinadas receitas, entre outros erros.
Para conseguir ter esse bom controle financeiro da empresa, segundo Monteiro, é importante ter bem divididas as funções na companhia. A pessoa que planeja não pode ser a mesma que executa e a que controla. Mas de acordo com o professor da FGV, 95% das empresas brasileiras não têm nem área de contabilidade, muito menos auditada.
No Brasil o empresário costuma ser alguém que vende bem ou produz bem, normalmente é administrativamente incompleto e diferente do empresário moderno, que antes de abrir a empresa estudou Economia, fez especialização fora do Brasil, fez um business plan e depois montou seu negócio, com estudo de oportunidade, entre outras medidas. “Na imensa maioria das empresas esses profissionais são uma pessoa só”, afirma Monteiro, sobre os profissionais que planejam, executam e controlam a companhia.
O palestrante explicou aos presentes o processo pelo qual passa um pedido de crédito da empresa dentro de um banco. Ele relatou os 4Cs (caráter, capacidade gerencial, condições e capital) levados em conta para verificar o risco do cliente. Para avaliar o caráter são examinadas questões como pontualidade e histórico de pagamentos, para a capacidade gerencial as decisões estratégicas tomadas, para as condições como se comporta o setor no qual a empresa está, e para capital são vistos os números da companhia.
No caso dos números atualmente o “totem” do mercado é a relação da dívida líquida sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Ou seja, quantas vezes a dívida é superior à capacidade de geração de caixa da empresa. O ideal, segundo Monteiro, é que a dívida possa ser paga com geração de caixa de três anos. “Mais de três anos são operações complicadas, o banco vai querer garantias”, afirma o professor.
Além do risco do cliente, os bancos avaliam também outros riscos, também chamados de Cs, como o Colateral, que são as garantias oferecidas, o Covenantes (contratos), o que a empresa se compromete a fazer para que a operação dê certo, o Conglomerado, se a companhia faz parte de um conglomerado cujos negócios e finanças estão bons, Cross Selling, se é possível usar a concessão do empréstimo como moeda de troca, o banco absorver, por exemplo, a folha de pagamento da empresa, entre outros.
Segundo Monteiro, os processos de captação de recursos via equity costumam ser mais caros. “São processos mais longos, sofisticados, detalhados, demandam assessoria especializada”, afirmou. Há também no mercado diversos métodos para avaliação de valor de empresas para captação deste tipo de capital, mas ele indicou aos presentes o mais indicado. De acordo com Monteiro, o capital de terceiros (bancos) é sempre mais barato que o próprio (equity).
A palestra foi aberta pelo presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, e teve a organização e mediação do ex-diretor Mário Rizkallah. O encontro, que teve inscrições gratuitas, fez parte de um ciclo de palestras que a entidade vem promovendo com diversos temas, desde economia e negócios, mundo jurídico, até história e cultura.