Sharm El Sheikh – Uma empresa de moda brasileira produz uma calça jeans com um copo d’água, em vez dos 100 litros geralmente necessários para fazer uma peça. Esse é o Malwee Lab Jeans, um dos projetos de sustentabilidade da Malwee, que faz o jeans a partir de nanotecnologia. A gerente de Sustentabilidade da Malwee, Taise Beduschi (foto), falou à ANBA na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP27), em Sharm El Sheikh, no Egito.
A companhia já marca presença nas Conferências do Clima da ONU há alguns anos e desta vez, foi convidada a apresentar um painel no pavilhão do Brasil pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e contar sobre sua expertise na área de sustentabilidade.
A indústria da moda está entre as que causam os maiores impactos ao meio ambiente. Taise entrou na companhia em 2013 e afirmou que a empresa tem uma preocupação com o meio ambiente há muitos anos. “Eu vim do agronegócio, então quando entrei na Malwee fui buscar uma avaliação do ciclo de vida dos produtos para encontrar onde ficava a maior parcela das emissões. Descobrimos que o escopo 3 do GHG Protocol representa 94% das nossas emissões, que é a cadeia, por causa das matérias-primas. O algodão, o poliéster, emitem muito carbono porque na plantação são utilizados muitos produtos químicos, fertilizantes. O grande impacto é mesmo no escopo 3”, relatou Taise.
Contudo, ela afirmou que o algodão brasileiro não tem um consumo de água muito grande por ser cultivado em sequeiro, e não ser irrigado, como acontece em outros países. “O impacto da nossa indústria no Brasil é maior nos gases que na água”, contou.
O jeans sustentável
Taise afirma que a Malwee sempre trabalhou pensando na qualidade e na durabilidade de seus produtos. Dois anos atrás, foi instalada uma lavanderia na fábrica da empresa para produzir o jeans com um copo d’água. “Só tem cinco lavanderias dessas no mundo, e depois de muitos testes, conseguimos produzir uma calça jeans utilizando 200 ml de água em vez de 100 litros, tudo feito com nanotecnologia. É o Malwee Lab Jeans. Somos os únicos na América Latina a ter essa tecnologia, e utilizamos ela por completo”, contou.
A Malwee, de acordo com Taise, não é uma empresa de fast fashion. “Pensamos na durabilidade das roupas conectados com a economia circular. Temos uma cultura de qualidade enquanto durabilidade e os clientes reconhecem isso. Sempre trabalhamos com dicas de customização, dicas de cuidado com as roupas para elas durarem mais”, disse.
Metas para 2030
Taise montou o programa de sustentabilidade da Malwee para 2020, e ano passado, anunciou as metas para 2030. São seis grandes metas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: redução do consumo de água, redução de emissões atmosféricas (gases de efeito estufa) e reciclagem de recursos materiais; na área social, metas de trabalho decente, de gênero e raça.
“Quanto aos recursos materiais, as matérias-primas geram muito impacto, como o algodão e poliéster, então se tenho matérias-primas de origem reciclada, acabo melhorando o consumo de água e energia, e isso tem trazido bons resultados”, contou Taise. Segundo ela, as emissões das fábricas já foram reduzidas em 75% entre 2015 e 2020, com a troca da matriz energética, e a água é reutilizada dentro da fábrica. Agora, a empresa pretende reduzir em mais 50% até 2030.
Outras ações
A Malwee tem uma história forte de apoio à comunidade e plantou 85 mil árvores em um parque com 1,5 milhão de metros quadrados. “Temos todo um conceito de comunidade e de investimento em redução e mitigação de impacto ambiental. Já há muito tempo, por exemplo, fazemos o reuso de água para a indústria, tratamos e reutilizamos na própria indústria, que é mais desafiador. Isso desde 2003”, contou.
A primeira matéria-prima sustentável foi o poliéster reciclado de garrafa pet, em 2008. O algodão desfibrado, feito com resíduo têxtil, do corte das peças, começou a ser utilizado em 2011.
A Malwee é uma empresa de capital fechado que atende 100% do mercado nacional. Ela tem três fábricas, sendo duas em Jaraguá, em Santa Catarina, e uma em Pacajus, no Ceará. No total, emprega 4.200 funcionários. Em 2021, foram produzidas 49 milhões de peças entre as seis marcas da companhia.