São Paulo – Tradicionalmente olhados como donos das maiores reservas de petróleo, os países árabes estão se colocando no mapa das mudanças climáticas em favor da sustentabilidade. A ideia foi defendida nesta quarta-feira (17) pelo CEO e secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Tamer Mansour, no segundo dia do encontro “Estratégia da Indústria para uma Economia de Baixo Carbono”, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e parceiros na capital paulista.
O evento serviu como preparação do setor privado brasileiro para a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP27), que ocorrerá em novembro no Egito, um país árabe. “Mostra um novo olhar global e dos países tomadores de decisão para os países árabes”, disse Mansour, sobre o fato do Egito sediar uma das mais importantes discussões mundiais sobre o clima, em Sharm El-Sheikh.
Mansour deu alguns exemplos da transição que está acontecendo nos países árabes, como em Dubai, tida popularmente como artificial. “É uma cidade 100% sustentável, a maioria das construções hoje em Dubai são Green Building”, falou, dizendo ainda que os Emirados usam a inteligência artificial, o que foi ferramenta para que o país tivesse um dos melhores controles da pandemia de covid-19 do mundo.
O CEO da Câmara Árabe falou da Copa do Mundo, que vai ocorrer no Catar neste ano. Mansour disse que quem visitou o país nos últimos meses percebeu que as mudanças estão centradas na sustentabilidade. “Você chega no aeroporto do Catar e até sair do aeroporto, todo o projeto é sustentável.” Ele falou que o transporte de jogadores e comitivas na Copa será feito em veículos elétricos.
O executivo citou ainda projetos de energia sustentável no Marrocos e a construção da nova capital do Egito como exemplo da absorção da sustentabilidade pela região. “Isso mostra muito as mudanças de mindset dos países árabes, com diferenças, claro, entre os países que têm possibilidade de investir mais, como os do Golfo, e outros que recebem experiências e investimentos de fora”, disse Mansour.
O secretário-geral acredita que os investimentos árabes em projetos sustentáveis podem se dar não apenas dentro das fronteiras dos países, mas também fora delas, norteados principalmente pela necessidade de segurança alimentar. “E o Brasil, neste caso, é o maior parceiro dos países árabes em termos de segurança alimentar”, disse, lembrando das vantagens que o Brasil tem na área por sua natureza e a riqueza das indústrias.
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Nesse contexto, o executivo lembrou que os países árabes possuem alguns dos maiores fundos de investimentos do mundo. “Eles estão procurando cada dia mais uma indústria sustentável”, disse Mansour, sobre o foco atual dos investimentos árabes. Segundo o secretário-geral, os árabes querem investir no que é o prato de comida do consumidor árabe e muçulmano, que é o alimento halal e saudável.
Sobre a COP27, o representante da Câmara Árabe disse que a entidade está muito orgulhosa de mais um grande evento acontecer em um dos 22 países árabes e falou sobre a escolha de Sharm El-Sheikh. De acordo com o executivo, é uma cidade sustentável e segura que recebe muitas cúpulas internacionais. A rede hoteleira local é formada principalmente por resorts, já que o balneário tem grande fluxo turístico.
Setor privado na COP27
Mansour falou no painel “As expectativas do setor privado para a COP27”, que foi mediado pelo gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, e teve ainda a participação da diretora-executiva da U.S. Chamber of Commerce, Cássia Carvalho, e do presidente do Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da União Industrial Argentina, Claudio Terrés.
Bomtempo falou que várias das empresas presentes no evento já estabeleceram metas de descarbonização. A implementação das metas de redução das emissões pelos países será discutida na COP27 no Egito. O gerente disse que ainda há um caminho a percorrer na regulamentação mundial do mercado de créditos de carbono. Segundo ele, a CNI está finalizando posicionamento sobre o assunto.
Cássia falou em nome do empresariado dos Estados Unidos. Abordando a COP27 e as negociações em torno do clima, ela disse que o setor privado tem papel fundamental: a inovação, trazendo soluções para as mudanças climáticas, e o financiamento. Ela lembrou de falas anteriores do seminário que disseram que o mundo só tem 50% da tecnologia para a adaptação necessária às mudanças climáticas.
Terrés deu um panorama de como a Argentina está abordando a questão climática. Segundo ele, a União Industrial Argentina elaborou um documento com estratégia de longo prazo para lidar com o cenário. Ele disse que houve avanço na participação do setor privado na COP26, quando as principais empresas do mundo se fizeram presentes e assim elevaram seu papel e influência junto aos governos.