Alexandre Rocha
São Paulo – A forte demanda externa por açúcar e etanol levou o Brasil a uma colheita recorde de cana-de-açúcar. De acordo com levantamento divulgado ontem (04) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, a produção da safra 2005/2006 chegará a 436,8 milhões de toneladas, 5,1% a mais do que na anterior (2004/2005), e a expectativa é de que novos recordes sejam quebrados nas próximas safras.
"O mercado internacional de açúcar está altamente demandante, calcula-se que há um déficit de 5 milhões de toneladas", disse o analista de mercado do setor sucroalcooleiro da Conab, Paulo Morceli. "Se o Brasil tivesse ainda mais para exportar o mercado externo seria receptivo", acrescentou.
Do total colhido, 216 milhões de toneladas estão sendo utilizadas para a fabricação de açúcar, o que deve resultar em 26,7 milhões de toneladas do produto. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial da commodity, com um mercado interno estabilizado em 9,5 milhões de toneladas anuais e exportações de 17,5 milhões de toneladas (estimativa para o fechamento de 2005). Os embarques somaram 15,8 milhões de toneladas em 2004 e 12,9 milhões de toneladas em 2003, segundo Morceli.
O segundo maior produtor mundial de açúcar é a Índia, mas com uma produção que equivale à metade da brasileira. O principal comprador do Brasil é a Rússia. "Os árabes também têm muito interesse, é um mercado fortemente demandante", disse o especialista da Conab.
Combustível
Outras 178,4 milhões de toneladas de cana estão sendo destinadas à produção de 17 bilhões de litros de álcool. De acordo com Morceli, está aumentando a demanda por etanol no mercado externo porque vários países buscam substituir o MTBE (sigla de metil-tércio-butil-éter), um derivado do petróleo, como carburante na gasolina. Isso se deve à entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, que exige a redução da emissão de gases poluentes em escala global, e do aumento do preço do petróleo.
Assim como no caso do açúcar, o Brasil é o principal produtor de etanol, seguido dos Estados Unidos. A produção norte-americana, no entanto, estimada em 16 bilhões de litros, está próxima da brasileira. Os principais mercados do álcool nacional são a Índia e os próprios EUA. Em 2004 os usineiros brasileiros exportaram 1,9 bilhão de litros do produto e expectativa de fechamento para 2005 era de 2,1 bilhões de litros.
No front interno, Morceli lembra que os carros bicombustíveis, que funcionam tanto com álcool, como com gasolina e qualquer mistura dos dois, caíram no gosto do consumidor brasileiro, aumentando a demanda por etanol.
O aumento da procura por açúcar e álcool fez com que os preços dos dois produtos aumentassem, atraindo o interesse de investidores nacionais e internacionais para o setor. Houve um aumento de da área destinada à cultura de cana de uma safra para a outra – de 5,6 milhões de hectares para 5,9 milhões de hectares – e a abertura de novas usinas. Segundo Morceli, este ano, por exemplo, devem ser inauguradas pelo menos 15 novas unidades produtoras, que vão se somar às 370 que já existem no país.
"O setor vive um momento importante, com investimentos nacionais e estrangeiros", afirmou Morceli. Só as novas usinas que vão entrar em operação em 2006 deverão consumir 25 milhões de toneladas de cana a mais. Esta demanda crescente deverá garantir novos recordes de colheita nas próximas safras. "E se o Brasil for feliz como grande fornecedor mundial de álcool, aí o céu é o limite", acrescentou.
Recorde, mas aquém da expectativa
Embora a safra 2005/2006 tenha sido recorde, ela ficou abaixo da expectativa. Em um primeiro levantamento, feito em maio, a Conab havia previsto uma colheita de 450,2 milhões de toneladas. A queda, de acordo com a Conab, foi ocasionada pela estiagem nos principais estados produtores do Nordeste, no Paraná e no Mato Grosso do Sul.
A região Centro-Sul do Brasil, no entanto, é responsável por 85,7% da produção nacional de cana, sendo que São Paulo é o principal estado produtor com 265,5 milhões de toneladas na safra 2005/2006. As regiões Norte e Nordeste respondem por 14,3% do total.